11 fevereiro, 2011

Anais do voto de solidariedade com a luta pela democracia no Egipto na AR (VI) PS

…. ((Diário da Assembleia da República a págs. 43)

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco de Assis (PS).

Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados:

Naturalmente, saudamos todos aqueles que, hoje, nas ruas e nas praças do Cairo e das demais cidades egípcias, lutam pela liberdade e pela democracia, como sempre o fizemos ao longo de tantos anos em relação a todos os que lutaram noutras ruas, noutras praças, fosse em Moscovo, em Buenos Aires, em Santiago, em Praga, fosse onde fosse.

Sempre saudámos todos os que lutavam e, sem qualquer tipo de reserva, saudamos esse gesto, essa atitude, esse acto de coragem.

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Então, vão votar a favor!

O Sr. Francisco de Assis (PS): — No entanto, o que estamos aqui a avaliar não é isso mas este voto oportunista do Bloco de Esquerda, e em relação a esse não estamos solidários e vamos votar contra!

Aplausos do PS.
Protestos do BE.

Vamos votar contra por uma razão de fundo e primeira: é porque nós não aderimos à visão da política internacional do Bloco de Esquerda, que está claramente plasmada neste voto…

Protestos do BE.

… e que, aliás, do nosso ponto de vista, resulta mais de um estilo de narrativa da história do Capuchinho Vermelho do que de uma teoria sólida da política internacional.

Aplausos do PS.
Protestos do BE.

Por isso mesmo, temos uma divergência insuperável. Esta tentativa de projectar sempre um moralismo, relativamente bacoco, para a análise dos fenómenos políticos, para além de ser pobre do ponto de vista intelectual, tem efeitos práticos contraproducentes.

Protestos do BE.

Por isso, não nos reconhecemos nessa avaliação deste processo, nem no voto do Bloco de Esquerda. Esta é a razão pela qual vamos votar contra o voto do Bloco de Esquerda.

Seguimos com atenção tudo o que se está a passar, e não apenas saudamos este esforço, não apenas saudamos estas manifestações populares, como também saudamos todo o esforço que grande parte da comunidade internacional e algumas das principais potências internacionais, que são criticadas no vosso voto, têm vindo a desenvolver, de forma a que se encontre uma solução pacífica e que permita a instauração de uma verdadeira democracia no Egipto.

Toda a imprensa, hoje, faz referência à pressão que a própria Administração norte-americana está a exercer no sentido de se superar, pela via mais pacífica possível, esta situação. Não podemos ser insensíveis a isso, porque entendemos que é por aí que se resolvem os verdadeiros problemas,…

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Não é, não!… Aí é que se engana!

O Sr. Francisco de Assis (PS): — … numa zona de uma importância geopolítica extraordinária, e não pelo recurso à proclamação de slogans baratos, de slogans vazios, de slogans que, ainda por cima, têm pouco que ver com o que foi a vossa realidade histórica do ponto de vista da apreciação de outro tipo de comportamentos noutros países e noutras latitudes.

Aplausos do PS.
Protestos do BE.

Por isso que fique claro que nós não recebemos nenhuma lição de respeito do Bloco de Esquerda por aqueles que lutam pela democracia e pela liberdade!

O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Está a ver-se!

O Sr. Francisco de Assis (PS): — Nós não recebemos nenhuma lição do Bloco de Esquerda em relação a essa matéria…

Protestos do BE.

… e até temos um currículo de que nos orgulhamos mais do que o Bloco de Esquerda se poderia orgulhar.

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