Adalberto Alves[i], na apresentação, datada de 2002, da obra “Palestina: A saga de um Povo[ii]” de Tariq Al-Khudayri, escreveu a seguinte parábola:
“Como é sabido, na Península Ibérica, antes da chegada dos Árabes, em inícios do século VIII, reinava um povo godo, de origem germânica, os Visigodos. O território do que é hoje Portugal fez, também, durante cerca de três séculos, parte desse Império Visigótico. Os Godos consideravam a Hispânia como a sua pátria indisputada, situação que se manteve até virem a ser obliterados pelo domínio muçulmano.
Suponha-se agora que, num país qualquer do centro da Europa, tinha subsistido, até hoje, uma minoria identificável como goda e que, objecto de discriminação e repressão nesse tal país, tinha, em parte, optado pela diáspora.
Como os Godos ansiavam pela criação de um lar comum, constituíram um lobby de pressão em todo o mundo, no sentido de a ONU decidir arranjar-lhes um território para a constituição de um Estado Godo.
Discutido o assunto e olhando à relevância, no passado, do Império Visigótico na Península Ibérica, a ONU decidiu que seria nela o local correcto para a instalação da Godolândia.
A Espanha opôs-se tenazmente desde logo e, como Portugal era a parte mais fraca em questão e tinha escassa população, foi-lhe imposta a abdicação de uma parte do seu território para a instalação da Godolândia: 50% do mesmo, ou seja, todo o território a norte do Tejo. O sul ficaria para Portugal, sendo Lisboa Oriental goda e Lisboa Ocidental portuguesa.
Com o apoio de diversos países e num curto prazo, começou imediatamente o êxodo de godos em direcção ao território que lhes fora atribuído, apesar dos protestos e da oposição generalizada dos Portugueses.
Os invasores, mediante a força e a intimidação, não tardaram em ocupar cidades e campos, colonizando mediante expulsão as melhores zonas: Porto, Braga, Coimbra, Leiria, Santarém e outras foram, assim, parar às suas mãos. E à menor resistência à ocupação, as casas dos portugueses eram arrasadas para a instalação dos colonatos. Deste modo, a soberania de metade do território português passou para a mão dos Godos que impuseram, aos portugueses do norte, uma nova bandeira e uma nova língua. Em suma, haviam perdido a sua pátria.
A brutalidade da repressão goda causou numerosas mortes e, em breve, mais de dois milhões de portugueses foram deslocados das suas terras e muitos deles forçados a fugir para Espanha, Marrocos e outros países onde passaram a vegetar em miseráveis campos de refugiados.
Portugal, virtualmente, viria a desaparecer do mapa, já que o sul do território, encabeçando a resistência contra a usurpação goda, rapidamente foi invadido pelos novos senhores, que apenas deixaram nas mãos dos Portugueses a parte leste do Alentejo e uma faixa de terreno junto ao mar, que passou a chamar-se a Faixa de Palmela.
Por outro lado, os portugueses que ficaram a viver ou a trabalhar na Godolândia não passavam de cidadãos de 2.ª categoria, ou de mão de obra barata para os Godos.
Os Portugueses, quase abandonados pela comunidade internacional, haviam sido forçados a reconhecer o novo Estado, passando a bater-se, ao menos, pelo reconhecimento da sua soberania total no território alentejano oriental e na Faixa de Palmela. Porém, a Godolândia nem isso aceitava, argumentando que tal iria ameaçar a sua segurança.
A ONU através da Assembleia-geral, emitia resoluções atrás de resoluções, condenando o expansionismo godo, mas nenhuma acção era levada a cabo pelo Conselho de Segurança, uma vez que os E. U.A., tendo apoiado e armado a Godolândia até aos dentes, vetavam todas as tomadas de decisão favoráveis a Portugal.
E foi assim que os Portugueses, despojados das suas terras, casas e pátria, se viram condenados ao desespero num exíguo território, onde viviam em condições infra-humanas e de onde toda a esperança parecia ter fugido. No exílio, os que haviam partido sonhavam com um longínquo regresso e, como símbolo desse sonho, guardavam a chave da casa que há muito haviam deixado para trás: quem sabe, um dia voltariam ao lar ...
Os Portugueses iniciavam uma longa e dolorosa luta pela sua dignidade, apesar da desproporção de meios perante o poderoso inimigo. Tinham quase só, como armas, a revolta e a dádiva da própria vida, pois, tendo perdido tudo, já nada tinham a perder.
Passaram a ser chamados de terroristas.
Acabou-se a parábola!”
“Como é sabido, na Península Ibérica, antes da chegada dos Árabes, em inícios do século VIII, reinava um povo godo, de origem germânica, os Visigodos. O território do que é hoje Portugal fez, também, durante cerca de três séculos, parte desse Império Visigótico. Os Godos consideravam a Hispânia como a sua pátria indisputada, situação que se manteve até virem a ser obliterados pelo domínio muçulmano.
Suponha-se agora que, num país qualquer do centro da Europa, tinha subsistido, até hoje, uma minoria identificável como goda e que, objecto de discriminação e repressão nesse tal país, tinha, em parte, optado pela diáspora.
Como os Godos ansiavam pela criação de um lar comum, constituíram um lobby de pressão em todo o mundo, no sentido de a ONU decidir arranjar-lhes um território para a constituição de um Estado Godo.
Discutido o assunto e olhando à relevância, no passado, do Império Visigótico na Península Ibérica, a ONU decidiu que seria nela o local correcto para a instalação da Godolândia.
A Espanha opôs-se tenazmente desde logo e, como Portugal era a parte mais fraca em questão e tinha escassa população, foi-lhe imposta a abdicação de uma parte do seu território para a instalação da Godolândia: 50% do mesmo, ou seja, todo o território a norte do Tejo. O sul ficaria para Portugal, sendo Lisboa Oriental goda e Lisboa Ocidental portuguesa.
Com o apoio de diversos países e num curto prazo, começou imediatamente o êxodo de godos em direcção ao território que lhes fora atribuído, apesar dos protestos e da oposição generalizada dos Portugueses.
Os invasores, mediante a força e a intimidação, não tardaram em ocupar cidades e campos, colonizando mediante expulsão as melhores zonas: Porto, Braga, Coimbra, Leiria, Santarém e outras foram, assim, parar às suas mãos. E à menor resistência à ocupação, as casas dos portugueses eram arrasadas para a instalação dos colonatos. Deste modo, a soberania de metade do território português passou para a mão dos Godos que impuseram, aos portugueses do norte, uma nova bandeira e uma nova língua. Em suma, haviam perdido a sua pátria.
A brutalidade da repressão goda causou numerosas mortes e, em breve, mais de dois milhões de portugueses foram deslocados das suas terras e muitos deles forçados a fugir para Espanha, Marrocos e outros países onde passaram a vegetar em miseráveis campos de refugiados.
Portugal, virtualmente, viria a desaparecer do mapa, já que o sul do território, encabeçando a resistência contra a usurpação goda, rapidamente foi invadido pelos novos senhores, que apenas deixaram nas mãos dos Portugueses a parte leste do Alentejo e uma faixa de terreno junto ao mar, que passou a chamar-se a Faixa de Palmela.
Por outro lado, os portugueses que ficaram a viver ou a trabalhar na Godolândia não passavam de cidadãos de 2.ª categoria, ou de mão de obra barata para os Godos.
Os Portugueses, quase abandonados pela comunidade internacional, haviam sido forçados a reconhecer o novo Estado, passando a bater-se, ao menos, pelo reconhecimento da sua soberania total no território alentejano oriental e na Faixa de Palmela. Porém, a Godolândia nem isso aceitava, argumentando que tal iria ameaçar a sua segurança.
A ONU através da Assembleia-geral, emitia resoluções atrás de resoluções, condenando o expansionismo godo, mas nenhuma acção era levada a cabo pelo Conselho de Segurança, uma vez que os E. U.A., tendo apoiado e armado a Godolândia até aos dentes, vetavam todas as tomadas de decisão favoráveis a Portugal.
E foi assim que os Portugueses, despojados das suas terras, casas e pátria, se viram condenados ao desespero num exíguo território, onde viviam em condições infra-humanas e de onde toda a esperança parecia ter fugido. No exílio, os que haviam partido sonhavam com um longínquo regresso e, como símbolo desse sonho, guardavam a chave da casa que há muito haviam deixado para trás: quem sabe, um dia voltariam ao lar ...
Os Portugueses iniciavam uma longa e dolorosa luta pela sua dignidade, apesar da desproporção de meios perante o poderoso inimigo. Tinham quase só, como armas, a revolta e a dádiva da própria vida, pois, tendo perdido tudo, já nada tinham a perder.
Passaram a ser chamados de terroristas.
Acabou-se a parábola!”
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[i] José Adalberto Coelho Alves nasceu em Lisboa, a 18 de Julho de 1939, de uma ancestralidade onde se entrecruzam celtas e árabes.
Poeta, ensaísta escritor, orientalista, tradutor de árabe para português e conferencista, Aldalberto Alves, licenciou-se em Direito, exercendo ainda hoje advocacia.
[i] José Adalberto Coelho Alves nasceu em Lisboa, a 18 de Julho de 1939, de uma ancestralidade onde se entrecruzam celtas e árabes.
Poeta, ensaísta escritor, orientalista, tradutor de árabe para português e conferencista, Aldalberto Alves, licenciou-se em Direito, exercendo ainda hoje advocacia.
Frequentou também o Conservatório Nacional e a Academia dos Amadores de Música, tendo estudado violino e guitarra clássica.
O seu interesse pela cultura muçulmana levou-o a estudar Língua Árabe na Universidade Nova de Lisboa, curiosidade que se alarga à História e Cultura Árabico-Islâmicas.
Neste âmbito está ligado a várias instituições, sendo actualmente Presidente do Conselho Geral do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves.
Tem vasta obra publicada, poesia, contos e ensaios destacando-se os trabalhos que dedicou ao sufismo e à poesia luso-árabe, alguns deles fazendo parte de obras de referência, estrangeiras e nacionais, da especialidade.
Entre os títulos dedicados ao mundo árabe, referem-se:
Arabesco (Da Música Árabe e da Música Portuguesa), ensaio, 1989
O Meu Coração é Árabe, (A Poesia Luso-Árabe), poesia, 1998
Ibn‘Ammâr Al-Andalusî - O drama de um poeta, Biografia e poesia, 2000(Em co-autoria com Hamdane Hadjadji)- Al-Mu‘tamid, Poeta do Destino, poesia, 2004
- Em Busca da Lisboa Árabe, ensaio, 2007
- Irão, Viagem ao País das Rosas, poesia, 2008
- Portugal e o Islão Iniciático, ensaio, 2008
Em 2008, também dá à estampa "No Vértice da Noite", mais um livro de poesias, cuja apresentação remeto para as palavras de Elsa Rodrigues dos Santos.
Adalberto Alves foi distinguido em 2008 com o prémio Sharjah 2008 para a cultura árabe, atribuído pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
O prémio visa distinguir personalidades, grupos ou instituições que tenham contribuído de forma significativa para o desenvolvimento, difusão e promoção da cultura árabe no mundo, bem como para a preservação e a revitalização do património cultural imaterial árabe.
No caso de Adalberto Alves, director do Centro de Estudos Luso-Árabe, em Silves, a UNESCO enalteceu-o por ter “inspirado muitos escritores portugueses e espanhóis [um deles o romancista Pedro Plasencia, autor de El Tiempo de los Cerezos] a divulgar a história da cultura árabe do Gharb al-Andalus”.
No caso de Adalberto Alves, director do Centro de Estudos Luso-Árabe, em Silves, a UNESCO enalteceu-o por ter “inspirado muitos escritores portugueses e espanhóis [um deles o romancista Pedro Plasencia, autor de El Tiempo de los Cerezos] a divulgar a história da cultura árabe do Gharb al-Andalus”.
Actualmente está a preparar um dicionário de palavras portuguesas com origem árabe (toponímia, antroponímia, léxico corrente e empréstimos semânticos), a publicar durante este ano,
Igualmente irão para o prelo durante esta Primavera:
As Sandálias do Mestre , 3ª edição revista e aumentada- Escritos do Crescente
[ii]
Palestina - A Saga de um Povo
Al-Khudayri, Tariq Hugin Editores, 2002. ISBN: 9727941370 / 972-794-137-0EAN: 9789727941377
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antoniosempredidata.blogspot.com
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