20 janeiro, 2009

Unilateral + Unilateral = Bilateral


"Todo o acordo de cessar-fogo tem dois lados", disse hoje (19) o antigo membro do Parlamento Israelita (Knesset) e activista do Gush Shalom, Uri Avnery (1).

"A proclamação arrogante e unilateral feita por Olmert e por Barak, frente às câmaras de televisão, não pararam o disparo de mísseis contra o Negueve, que continuou ainda esta manhã.

Somente quando o Hamas, por sua vez, acrescentou um cessar-fogo unilateral, foi criado um cessar-fogo bilateral na prática, permitindo que o tiroteio parasse na prática.

Por fim atingimos um momento de sanidade, o fim de um terrível banho de sangue, que chocou as pessoas por todo o mundo e que os levou a sair em protesto pelas ruas de cidades de todo o mundo - inclusive nas ruas das cidades de Israel.

Mas, o derramamento de sangue poderá explodir, ainda mais terrível, se o governo persistir na loucura de ignorar o facto principal: o Hamas foi e continua a ser a potência dominante na Faixa de Gaza, mesmo quando o seu poder militar está ferido - devido a uma forte base de apoio entre a população palestina.

Não há solução - quer para os problemas imediatos e urgentes quer para os de longo prazo - sem falar com o Hamas, quer directamente quer através de mediadores.

As tropas israelitas devem ser imediatamente retiradas da Faixa de Gaza, o cerco levantado, e as passagens entre a Faixa e o mundo exterior amplamente abertas.

Os habitantes de Gaza, como os de qualquer outro lugar no mundo, têm todo o direito de abandonar o seu país e de a ele regressar por terra, mar e ar, reavivar e desenvolver a sua economia, exportando os seus produtos e importando o que for que precisem, sem pedir permissão a ninguém.

Devem ser abertas rapidamente negociações de forma a permitir o regresso rápido às suas casas e famílias do soldado israelita Gilead Shalit, capturado pelo Hamas, e de um número significativo de prisioneiros palestinos das prisões israelitas.

O governo tem que pagar o preço fixado, há muito, para a libertação de Shalid, e toda esta terrível guerra em Gaza não mudou isso.

O argumento hipócrita do "sangue nas mãos", levantado contra este tipo de acordo, deve ser removido dos vocabulários de uma vez por todas.

Pelo menos metade dos 1300 palestinos mortos pelo Estado de Israel nas últimas semanas eram civis desarmados, incluindo centenas de crianças. De agora em diante, a expressão "sangue nas mãos" na boca de um político ou militar israelita será uma triste zombaria ou simples descaramento".

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(1) Uri Avnery, jornalista, escritor, parlamentar e activista pela Paz em Israel é um dos fundadores em 1993, do movimento Gush Shalom (Bloco pela Paz).

Nasceu no seio de uma família da classe média a 10 de Setembro de 1923, em Beckum, na Alemanha, como Helmut Ostermann. Com a subida dos nazis ao poder em 1933, a família emigrou para a Palestina.
Aos 15 anos (1938) alistou-se no Irgun, uma organização de direita sionista.

Na Guerra Israelo-árabe de 1948 foi ferido com gravidade

De 1950 a 1990 foi membro da revista Haolam Haseh.

Como defensor do laicismo que separa o Estado da religião, opõe-se à influência do judaísmo ortodoxo na política israelita e propõe um “Israel sem sionismo” para libertar o Estado da carga histórica que na sua visão complica o processo de Paz.

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