30 maio, 2009

Voz calma, Grande Pau, por Uri Avnery


Esta é a crónica de Uri Avnery datada de há uma semana atrás e que só agora é publicada por manifesta falta de recursos na oportunidade.

Continuamos a solicitar o apoio de tradutor@s pro bono, bem como de colaborador@s que tenham interesse por esta causa.

Barack Obama é frequentemente comparado a Franklin Delano Roosevelt, mas é de um outro Roosevelt que ele segue o exemplo: O Presidente Theodore Roosevelt, que, 108 anos atrás, aconselhou os seus sucessores: "Falem suavemente e tenham na mão um grande pau!".

Esta semana, o mundo inteiro viu como isso é feito. Obama, sábado no Gabinete Oval, lado a lado com Binyamin Netanyahu, falou aos jornalistas. Estava sério, mas descontraído. A linguagem corporal falou claramente: Netanyahu inclinando-se assiduamente para a frente, como um bufarinheiro vendendo a sua mercadoria, Obama inclinado para trás, tranquilo e seguro de si.

Ele falou suavemente, muito suavemente. Mas inclinado contra a parede por detrás dele, escondido pela bandeira, estava na verdade um grande pau.

O MUNDO queria, naturalmente, saber o que se passou entre os dois quando se encontraram sozinhos.

Regressado a casa, Netanyahu esforçadamente tentou apresentar a reunião como um grande sucesso. Mas após os holofotes desligados, o tapete vermelho enrolado, podemos analisar o que tínhamos realmente visto e ouvido.

Entre as suas grandes proezas, Netanyahu enfatizou a questão iraniana. "Chegámos a um acordo completo", anunciou orgulhosamente uma e outra vez.

Acordo sobre o quê? Sobre a necessidade de impedir o Irão de obter "capacidade nuclear militar".

Só um momento. O que é que ouvimos, "militar"? De onde é que esta palavra apareceu de surpresa? Até agora, todos os governos israelitas insistiram que o Irão deveria ser impedido de adquirir qualquer capacidade nuclear de todo. A nova fórmula significa que o governo Netanyahu aceita agora, que o Irão tenha uma "não militar" - que nunca está muito longe da "militar" - capacidade nuclear.

Esta não é a única derrota de Netanyahu sobre a questão iraniana.

Antes da sua viagem, exigiu que Obama desse ao Irão apenas três meses, " até Outubro", e que, depois "todas as opções estariam sobre a mesa". Um ultimato, que incluía uma ameaça militar.

Nada disto ficou.

Obama disse que iria conduzir um diálogo com o Irão até o final do ano, e que então teria de avaliar o que tinha sido alcançado e considerar o que fazer a seguir. Se ele chegasse à conclusão de que não tinha havido progresso, tomaria novas medidas, incluindo a imposição de sanções mais severas.

A opção militar tinha desaparecido.

É verdade que, antes da reunião Obama dissera a um jornal que "todas as opções estão sobre a mesa", mas o facto de que ele não o repetir na presença de Netanyahu diz tudo.

Sem dúvida que Netanyahu pediu permissão para atacar o Irão, ou - no mínimo – para ameaçar de tais ataques. A resposta foi um Não absoluto.

Obama está decidido a evitar um ataque israelita. Ele tem alertado o governo de Israel de forma inequívoca. Só para ter a certeza de que a mensagem teria sido adequadamente absorvida, enviou o chefe da CIA a Israel para a entregar pessoalmente a todos os líderes israelitas.

O plano israelita para um ataque militar ao Irão foi retirado da mesa - se alguma vez esteve lá.

Netanyahu pretendia ligar o Irão com a questão palestina, de forma negativa: enquanto existir o perigo iraniano, a questão palestina não pode ser tratada.

Obama inverteu a fórmula e fez uma ligação positiva: progressos na questão palestina são uma condição prévia para um progresso sobre a questão iraniana.

Isto faz sentido: os conflitos não resolvidos estão a alimentar o Irão, dando-lhe um motivo para ameaçar Israel e enfraquecer a oposição, do Egipto e da Arábia Saudita, às ambições do Irão.

A principal mensagem de Obama diz respeito a uma questão que retornou ao centro da cena esta semana: colonatos.

Esta palavra praticamente desaparecera durante o reinado de Bush, o Júnior. É verdade, que todas as administrações dos E.U.A. se opuseram à expansão dos colonatos, mas, desde a fracassada tentativa, de James Baker, o secretário de Estado de Bush, o Velho, de impor sanções a Israel, ninguém mais se atreveu a fazer qualquer coisa acerca disso. Em Washington resmungam, com os fundamento que criaram. Em Jerusalém dissimulam, e sobre o terreno, construíram.

Como um chefe palestino observou: "Estamos a negociar sobre a divisão da pizza e, entretanto, Israel já está comendo."

Tem de ser repetido uma e outra vez: os assentamentos são um desastre para os palestinos, um desastre para a paz e uma dupla ou tripla catástrofe para Israel.

Primeiro, porque o seu principal objectivo é fazer com que o estabelecimento de um Estado palestiniano seja impossível e, assim, impedir a paz para sempre.

Em segundo lugar, porque eles sugam a medula da economia israelita e engolem recursos que deveriam ser utilizadas para ajudar os pobres.

Terceiro: porque os colonatos minam o Estado de direito em Israel, propagam o cancro do fascismo e empurram todo o sistema político para a direita.

Portanto Obama está certo quando coloca a questão dos colonatos à frente de tudo o resto, mesmo à frente das negociações de paz. Uma paragem total na construção dos colonatos vem antes de qualquer outra coisa. Quando um corpo sangra, a hemorragia tem de ser estancada antes de que a doença possa ser tratada. Caso contrário, o paciente vai morrer de perda de sangue e não haverá ninguém para tratar. Este é precisamente o objectivo de Netanyahu.

Esta é a razão porque Netanyahu se recusou a aceder ao pedido. De outra forma a sua coligação iria por água abaixo e seria obrigado a demitir-se ou a criar uma coligação alternativa com o Kadima. A infeliz Tzipi Livni, que não encontrou um papel na oposição, provavelmente não deixaria escapar a oportunidade.

Netanyahu tentará usar Barak contra Barack.

Com a ajuda de Ehud Barak está colocando em cena uma performance de "demolir postos avançados", a fim de desviar a atenção da construção em curso nos colonatos. Veremos se este truque tem sucesso e se a liderança dos colonos vai desempenhar o seu papel nesta charada. No dia seguinte ao regresso de Netanyahu, Ehud Barak demoliu pela sétima vez (!) Maoz Esther, um posto avançado composto de sete cabanas de madeira. Poucas horas depois, os colonos regressaram ao local.

(O exército israelita construiu uma aldeia Árabe, inteira, no Negev para fins de treino. Alguém ironizou esta semana que o exército também tinha construído este posto avançado que é lotado com soldados disfarçados de colonos, de modo que pode ser demolido, cada vez que exista pressão da América. Depois os soldados constroem tudo de novo, pronto para ser utilizado na próxima vez que a pressão seja exercida).

A RECUSA DE congelar os colonatos significa a recusa de aceitar a solução dos Dois Estados. Em vez disso, Netanyahu faz malabarismos com slogans vazios. Fala sobre "dois povos que vivem juntos em paz", mas recusou-se a falar de um Estado palestino.

Um dos seus assessores apelidou a exigência dos Dois Estados de "jogo infantil". Mas este não é, de todo, um jogo infantil. Já foi provado que, negociações onde os objectivos não tenham sido previamente definidos, não levam a qualquer lugar. O Acordo de Oslo colapsou precisamente por este motivo. Netanyahu espera que a próxima ronda de negociações, também fracasse por causa disso.

Ele não apresentou um plano de sua própria iniciativa. Não porque não tenha nenhum plano, mas porque ele sabe que ninguém o iria aceitar.

O plano de Netanyahu é: o total controlo israelita sobre todo o território entre o Mar Mediterrâneo e o rio Jordão. Ilimitada colonização judaica por todo o lado. Limitado auto-governo para uma série de enclaves palestinos com uma densa população palestina, que serão cercados por colonatos. Jerusalém, na sua totalidade permanecerá como parte de Israel. Nem um único refugiado palestino regressará ao território de Israel.

Esta mercadoria não vai encontrar compradores no mundo inteiro. Então Netanyahu, um vendedor profissional, tenta embrulhá-la num belo pacote.

Por exemplo: os palestinianos vão "governar-se a eles próprios".

Onde exactamente? Aonde serão as fronteiras? Ele já declarou que os palestinos não podem ter controlo sobre "o seu espaço aéreo ou as suas fronteiras". Um estado sem forças armadas e sem controlo sobre o seu espaço aéreo e as passagens de fronteira – parece-se suspeitosamente com os Bantustans do falecido regime racista de apartheid na África do Sul.

Eu não ficaria surpreso se, em qualquer momento no futuro, Netanyahu começasse a chamar a estas reservas nativas "um Estado palestiniano".

No entretanto, ele tenta ganhar tempo e adiar as negociações o mais tempo possível.

Ele exige que os palestinos reconheçam Israel como "o estado do povo judeu", esperando e tendo esperança que eles rejeitarão esta ideia com as duas mãos. E, de facto, aceitar isso significaria desistir desde logo, do seu principal trunfo - a questão dos refugiados - e também espetar uma faca nas costas dos 1,5 milhões de palestinos que são cidadãos de Israel.
Netanyahu está pronto para aceitar a proposta de Obama de envolver os estados árabes e outros estados muçulmanos no processo de paz - uma ideia que tem sido sempre rigorosamente rejeitada por todos os governos de Israel. Mas isto é apenas mais um dos coelhos que ele vai tirar do seu chapéu de tempos a tempos, a fim de adiar tudo.

Antes de dezenas de estados árabes, e talvez mais de cinquenta estados muçulmanos decidirem aderir ao processo, meses, talvez anos, vão passar. E, entretanto, Netanyahu exige deles um pagamento adianto, sob a forma da normalização - o que significa que todo o mundo árabe e muçulmano daria o seu único trunfo sem obter nada em troca. Pura gorjeta.

Este é o plano de trabalho de Netanyahu.

TEM Obama um plano de paz?

Se colocarmos todas as suas declarações dos últimos dias juntas, parece que ele tem.

Quando ele fala de "dois Estados para dois povos", praticamente aceita o plano de paz que, por agora, se tornou um consenso em todo o mundo: como os "parâmetros" apresentadas por Bill Clinton, nos seus últimos dias de mandato; como a parte central da proposta de paz saudita; e como os planos de paz do movimento da paz israelita (o projecto de acordo de paz da Gush Shalom, a iniciativa de Genebra, a declaração Ayalon-Nusseibeh e mais).

Em suma: um Estado Palestino soberano e viável, lado a lado com Israel; as fronteiras pré-1967 - com pequenas e acordadas trocas territoriais; o desmantelamento de todos os colonatos que não fiquem ligados a Israel, nas trocas territoriais; Jerusalém Oriental como capital da Palestina e Jerusalém Ocidental como capital de Israel; uma solução mutuamente aceitável para o problema dos refugiados; uma passagem segura entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza; acordos mútuo em matéria de segurança.

ENTRETANTO, por todo o mundo, há um consenso crescente de que a única maneira de pôr as rodas da paz em movimento novamente será Obama publicar o seu plano de paz e convocar ambas as partes a aceitá-lo. Se necessário, em referendos populares.

Obama poderia fazer isso no discurso que fará daqui a cerca de uma semana no Cairo, durante a sua primeira visita presidencial ao Médio Oriente. Não é por acaso, que não irá a Israel durante esta visita, algo quase sem precedentes para um presidente dos E.U.A.

Para fazer isso, deve estar pronto para confrontar o poderoso lobby israelita. Parece que está pronto para isso. O último presidente que se atreveu a fazer isso foi Dwight D. Eisenhower, que obrigou Israel a devolver o Sinai logo após a guerra 1956. "Ike" foi tão popular que não tinha receio do lobby. Obama não é menos popular, e talvez tenha a mesma ousadia.

Como "Teddy" Roosevelt sugeriu: quando alguém tem um grande pau, não tem que o brandir. Pode dar-se ao luxo de falar suavemente.

Espero que Obama irá efectivamente falar suavemente - mas de forma clara e inequívoca.

29 maio, 2009

MPT responde às questões sobre a Palestina

Estas são as respostas que Pedro Quartin Graça, Presidente do Partido da Terra (MPT) nos enviou.
Obrigado pela sua colaboração e pela possibilidade de ficarmos a conhecer a posição dos candidatos do MPT às Europeias 2009, no tocante à Palestina.
(Poderão encontrar o questionário com o rationale de cada tema no nosso postQuestões sobre a Palestina dirigidas aos candidatos às Eleições Europeias

Tema 1: Colonatos

Concorda que Israel deve retirar os seus colonos da Cisjordânia, incluindo de Jerusalém Oriental?

Cisjordânia sim; Jerusalém Oriental é um caso problemático a estudar

Tema 2: Anexação de Jerusalém Oriental

Concorda que Israel deve reverter a anexação de Jerusalém Oriental?

Jerusalém Oriental é um caso problemático a estudar

Tema 3: Anexação dos Montes Golan

Concorda que Israel deve reverter a anexação dos Montes Golan?

Sim
Tema 4: O “Muro”

Concorda que Israel deve respeitar o acórdão do Tribunal Internacional de Justiça e desmantelar o muro?

Sim

Tema 5: Postos de Controlo & Barreiras na Cisjordânia

Concorda que Israel deve retirar os seus postos de controlo e barreiras na Cisjordânia?

Trata-se de um caso problemático a estudar

Tema 6: O bloqueio da Faixa de Gaza

Concorda que Israel deve permitir que os pontos de passagem com Gaza "operem continuamente", como acordado em Novembro de 2005, e termine, de uma vez por todas, com o bloqueio da Faixa de Gaza?

Trata-se de um caso problemático a estudar

Tema 7: Abertura das instalações nucleares à inspecção da Agência Internacional de Energia Atómica (International Atomic Energy Agency - IAEA).

Concorda que Israel deveria abrir suas instalações nucleares à inspecção da IAEA?

Sim

Tema 8: Armas europeias utilizadas em violação do direito internacional humanitário.

Que tipo de medidas vai tomar a fim de que os Estados Membros da UE respeitem estas novas normas nas suas relações com Israel?

Todas as que se imponham para assegurar a paz mundial e na região

Tema 9: Responsabilização por Crimes de Guerra e Crimes contra a Humanidade

Como tenciona agir a fim de garantir que as pessoas responsáveis por tais violações serão julgadas?

Levá-las a Tribunal

Tema 10: Reforço das relações entre a União Europeia & Israel

Concorda que a UE não deve "melhorar" as suas relações com Israel até que exista um progresso significativo no processo de paz?

Se for eleito, vai fazer tudo o que estiver no seu alcance para evitar qualquer "reforço" até que tal condição seja respeitada?

Sou favorável ao incremento generalizado das relações diplomáticas multilaterais

Tema 11: Suspensão do Acordo Euro-Med

Tenciona apelar para a suspensão do acordo de associação até que a lei seja respeitada, em conformidade com a resolução do Parlamento Europeu, de Abril de 2002?

Sou favorável ao incremento generalizado das relações diplomáticas multilaterais

Tema 12: Reparação para os projectos financiados pela União Europeia
Pretende pedir reparações para os projectos financiados pela UE, que foram destruídos por Israel?

Trata-se de um caso a estudar

Tema 13: Hamas

Concorda que o Hamas tem de ser uma parte da solução do problema na Palestina?

Como entende que a UE pode facilitar a implementação de um diálogo com o Hamas?

Concorda que a UE deve cooperar com o Hamas, desde que este mantenha um cessar-fogo?

Tendo isto em mente, vai pedir a retirada do Hamas da lista europeia de organizações terroristas?

Sim, genericamente

Tema 14: Conferência de Paz

Vai pedir que se realize uma conferência internacional (com base no direito internacional, com uma agenda e garantias de execução), a realizar sob os auspícios da ONU?

Sim

15 maio, 2009

NAKBA (a catástrofe) 61 anos depois

A convite do MPPM, Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente, - a quem agradecemos a cedência do texto que a seguir apresentaremos - a Senhora Embaixadora Randa Nabulsi, Delegada-Geral da Autoridade Nacional Palestina, evoca a NAKBA, 61 anos depois, nos seguintes termos:


A 29 de Novembro de 1947 as Nações Unidas aprovaram a Resolução 181 que recomendava a Partilha da Palestina histórica num Estado israelita, para menos de 20% de habitantes representados por colonos provenientes na sua maioria da Europa, sobre 51% do território e um Estado palestino nos outros 49%, para um milhão de Palestinianos. Esta divisão, apesar de demograficamente desigual, nunca chegou a efectuar-se.

Entre a decisão de partilha e o dia 15 de Maio de 1948, dia oficial do fim do mandato britânico e a declaração do Estado de Israel, houve uma verdadeira guerra de limpeza étnica que foi relatada historicamente por inúmeros escritores e pensadores.
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Talvez tenha sido Ilan Pappe, o historiador israelita quem mais relatou e transmitiu as realidades desta guerra através do seu livro denominado “A Limpeza Étnica da Palestina” e baseado em documentos “libertados” pelo governo israelita há mais de dois anos.
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Neste livro, o escritor relata palavra por palavra e detalhadamente como nasceu a questão dos refugiados, as aldeias completamente destruídas e os massacres cometidos contra o povo palestiniano.

Com a guerra de 1948, iniciou-se um processo de ocupação territorial em benefício dos emigrantes judaicos e da limpeza étnica da população palestiniana que foi seguindo o seu percurso fatídico até aos dias de hoje.
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O primeiro afastamento da população palestiniana foi levada a efeito por milícias sionistas provocando um êxodo massivo de 750.000 palestinianos que se converteram em refugiados. Junto com os seus descendentes, representam hoje em dia cerca de cinco milhões de pessoas refugiadas além de um milhão e meio a viverem na Faixa de Gaza, a maioria dos quais já havia sido desalojada dos territórios em 1948, 2 milhões na Cisjordânia e 1 milhão e meio de Palestinianos, cristãos e muçulmanos que representam 20% da população de Israel.

Aquela primeira ofensiva das milícias sionistas (consideradas grupos terroristas pela comunidade internacional) culminou a 15 de Maio de 1948 com a proclamação unilateral do Estado de Israel por Bem Gurion.
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Esta data ficou gravada na memória do povo palestiniano como o dia fatídico da derrota, o massacre e o exílio forçado. É relembrada a cada 15 de Maio e conhecida pelo nome de “Nakba”, a catástrofe/ a desgraça.

A resolução 194 das Nações Unidas de 11/09/1948 que exigia à comunidade internacional cumprir o direito do regresso dos refugiados palestinos e garantir a respectiva indemnização foi condição para entrada de Israel nas NU mas esta resolução continua sem implementação e a ser anualmente recordada na Assembleia Geral das Nações Unidas Sob o tema: Palestina, os Direitos Inalienáveis.
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Durante estes longos 61 anos e até hoje, o Estado de Israel pratica nos Territórios Palestinos Ocupados uma politica de expansão e imposição de factos no terreno, construção de uma rede imparável de colonatos, violação dos direitos fundamentais e políticos da população civil palestiniana, anexação de terras e recursos hídricos, castigos colectivos, isolamento das populações e restrição de movimento dos cidadãos através de controlos militares (check points) cerca de 650 fixos além dos temporários, o muro de separação racista, detenções (11 mil prisioneiros alguns dos quais já ultrapassaram os 37 anos nas prisões israelita), expulsões, torturas, assassinatos, bombardeamentos….
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Ignorando as resoluções das NU e de outros organismos internacionais, Israel continua praticando uma política de colonização e expulsão. Continua ampliando o número e tamanho dos colonatos israelitas na Cisjordânia e em Jerusalém onde tem vindo a instalar cerca de meio milhão de colonos.

Após 61 anos o povo palestiniano, apesar de todas as injustiças que tem vindo a sofrer, resiste firmemente aos seus direitos.
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Resiste contra um Estado militar e confessional que se apoia num “lobby” internacional sionista muito poderoso, que se nega a acatar as resoluções das NU especialmente a 243 e a 338 que insistem na retirada de Israel dos territórios árabes ocupados e a 194 e a 3236 que reconhecem o direito de regresso dos refugiados assim como a declaração do Tribunal Internacional de Haia de 2004 sobre o rápido derrube do muro de separação racista. Sem o apoio e consentimento internacional, o estado ocupante de Israel não poderia ter mantido todos estes anos a incomensurável injustiça contra todo um povo. Os 86 vetos americanos no Concelho de Segurança ajudaram a fazer com que Israel seja um país acima de lei.
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Apesar de se recordarem agora os 61 anos da Nakba (desgraça) os palestinos não desistem, continuam e continuarão a insistir no direito ao estabelecimento do seu estado independente nos territórios ocupados em 1967 com Jerusalém oriental como sua capital e encontrar uma solução justa para a questão do regresso dos refugiados.

O Povo Palestiniano nada mais pede do que aquilo que lhe foi concedido pelas resoluções das NU, pela comunidade e legalidade internacionais de acordo com os direitos humanos se é que, e esperamos que sim, ainda exista algum respeito e consideração por aqueles conceitos e resoluções.

Ao relembramos os 61 anos da Nakba (catástrofe/desgraça), lembramos 61 anos do sofrimento que vivemos, os massacres, a tortura e a miséria nos campos dos refugiados nos países vizinhos.
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61 anos da Nakba, é altura de mais uma vez exigirmos de todos os governos europeus que assumam a sua obrigação de fazer cumprir as resoluções das NU assim com as obrigações estabelecidas pelo Tribunal Internacional de Justiça sobre a ilegalidade do muro de separação racista.
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A criação pela União Europeia de uma comissão e tribunal especial que investigue as violações cometidas por Israel em relação aos Convénios, ao Direito Internacional e especificamente sobre o regime de “apartheid” que têm vindo a desenvolver assim como as suas violações à IV Convenção de Genebra e crimes contra a humanidade na sua campanha de isolamento e genocídio contra um milhão e meio de cidadãos que vivem na Faixa de Gaza.

Israel conta com a ideia de que os mais velhos irão morrer e os mais novos irão esquecer-se. Morrerão os mais velhos, mas os mais novos, geração após geração, continuam a ter na mão as chaves das casas dos pais e as escrituras das suas terras para um dia regressarem… As novas gerações mostram-se lutadoras e ligadas às aspirações da sua identidade e de uma pátria própria não desistindo do direito ao regresso, à independência e ao estabelecimento do Estado Palestiniano independente com Jerusalém como capital.

13 maio, 2009

Jornalista israelita detida por estar onde as notícias acontecem

A polícia de Israel deteve ontem, terça-feira, a laureada jornalista israelita, correspondente do Haaretz, Amira Hass após esta ter regressado da Faixa de Gaza, onde se encontrava nos últimos meses por motivos profissionais.

Amira Hass foi detida num posto de controlo quando saia da Faixa de Gaza e levada para interrogatório, acusada de violar uma lei que proíbe um cidadão de Israel de residir num estado inimigo.

Posteriormente foi libertada sob fiança após ter-se comprometido a não entrar na Faixa de Gaza nos próximos 30 dias.

Amira Hass é a primeira jornalista israelita a entrar na Faixa de Gaza nos últimos dois anos, desde que as Forças de Defesa de Israel proibiram a sua entrada na Faixa de Gaza no seguimento da captura do soldado Gilad Shalit, em 2006, por militantes palestinos.

Em Dezembro passado, mais precisamente no dia 1, Amira Hass já tinha sido presa, no posto de controlo de Erez quando regressava a Israel, após ter entrado na Faixa de Gaza, por mar, há semanas atrás, a bordo do “Dignity”, um navio do movimento internacional “Free Gaza”, que pela segunda vez rompia o bloqueio naval israelita a Gaza, para assim fazer a cobertura do evento.

Ao descobrirem que ela não tinha autorização para estar em Gaza, os soldados transferiram-na para o posto de polícia de Sderot.

Quando questionada, Amira Hass salientou que ninguém a tinha proibido de entrar na Faixa de Gaza, o que fizera, como jornalista, para trabalhar.

Hass foi libertada em seguida, sob medidas de coação, e o Superintendente Shimon Nahmani, comandante da polícia em Siderot, disse então que o seu caso seria levado a tribunal.

Também por essa ocasião a presidente do Conselho de Imprensa Dalia Dorner, que anteriormente exercera funções no Supremo Tribunal de Justiça, comentou que, mesmo os jornalistas estão sujeitos à lei e o Conselho não pode defender um repórter que viole a lei. Em vez disso, afirmou, os jornalistas deveriam apresentar uma petição ao Supremo Tribunal de Justiça contra a ordem do exército.

Amira Hass In: Wikipedia

Amira Hass é uma proeminente jornalista e escritora israelita conhecido principalmente pela sua coluna no jornal Ha'aretz. É particularmente reconhecida pelo seu trabalho jornalístico sobre os assuntos palestinos, desde a Cisjordânia e Gaza, onde também viveu durante alguns anos.Filha de dois sobreviventes do Holocausto (Bergen-Belsen), Amira Hass nasceu em Jerusalém, e foi educada na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde estudou a história do nazismo e a Esquerda Europeia com o Holocausto.

No início de sua carreira, viajou bastante e tendo tido diversos empregos.

Frustrada com os acontecimentos da Primeira Intifada, iniciou a sua carreira jornalística, em 1989, como editora do jornal israelita Ha'aretz, tendo, a partir de 1991, passado a trabalhar directamente dos territórios palestinos.

Vivendo, desde 1993, na Faixa de Gaza, e em Ramallah, desde 1997, a partir de 2003, ela é a única jornalista judia israelita que vive a tempo inteiro, entre os palestinos.

Amira Hass recebeu em 2000, o prémio Press Freedom Hero instituído pelo International Press Institute, em 2002, o galardão Bruno Kreisky Human Rights Award, em 2003, o prémio da UNESCO, Guillermo Cano World Press Freedom Prize, e em 2004, o galardão inaugural atribuído pelo Anna Lindh Memorial Fund.

O seu trabalho é geralmente solidário com o ponto de vista palestino e crítico da política do governo israelita para com os palestinos.

No entanto, durante os anos da Intifada de Al-Aqsa, no entanto, altamente Amira Hass publicou diversos artigos altamente críticos sobre o caos e a desordem causada pelas milícias associadas ao partido Fatah de Yasser Arafat e à sangrenta guerra entre facções palestinas em Nablus.A sua descrição dos acontecimentos, e a expressão de opiniões que contrariam as posições oficiais, quer israelitas, quer palestinas expôs Amira Hass aos ataques verbais, e à oposição de ambas as autoridades, israelitas e palestina.

Recentemente Amira Hass definiu Israel como um estado apartheid, com privilégios reservados principalmente para os judeus. Afirmando:

“Os palestinianos, como povo, estão divididos em subgrupos, algo que faz lembrar a África do Sul sob a lei do apartheid.”

Em Junho de 2001, a Juíza Rachel Shalev-Gartel, Magistrada do Tribunal de Jerusalém decidiu que Hass tinha difamado a comunidade judaica do colonato de Beit Hadassah, em Hebron, e sentenciou-a a pagar 250.000 shekels (cerca de 60,000 dólares) por danos.

Amira Hass havia relatado o testemunho de palestinos que viram colonos israelitas a profanar o corpo de um militante palestino que tinha sido morto pela polícia israelita; os colonos alegaram que tal nunca acontecera e que Hass tinha contado a história com intenções malévolas.
O juiz presidente decidiu em favor dos colonos.
O Ha'aretz declarou que não teve tempo para organizar a defesa do caso, e anunciou que iria recorrer da decisão.

Hass fez notar que tinha apresentado informações adquiridas a partir da comunidade palestiniana, e afirmou que era da responsabilidade dos editores de jornal fazer o cruzamento da informação com as outras entidades envolvidas FDI e comunidade do colonato.
A 1 de Dezembro de 2008, Amira Hass, que havia viajado para Gaza a bordo de um navio do Movimento “Free Gaza”, um movimento internacional de direitos humanos, furando assim o bloqueio marítimo a Gaza, foi detida pela polícia israelita, no seu retorno a Israel por estar em Gaza sem licença.

A 12 de Maio de 2009 Amira Hass foi novamente presa pela polícia israelita num posto de controlo entre a Faixa de Gaza e Israel, quando mais uma vez regressava a Israel, acusada de violar uma lei que proíbe um cidadão de Israel de residir num estado inimigo.