27 fevereiro, 2009

As mentiras de Israel, por Henry Siegman

Henry Siegman é director do Projecto Americano para o Médio Oriente em Nova Iorque, é professor convidado de investigação na Escola de Estudos Orientais e Africanos (SOAS) da universidade de Londres. Foi director nacional do Congresso Americano – Judaico e do Conselho de Sinagogas da América.
O artigo que aqui se transcreve, no original Israel’S Lies, foi escrito a 15 de Janeiro de 2009 e publicado no magazine literário London Review of Books, Vol. 31 No. 2 · 29 de Janeiro de 2009.

Foi publicado em português na tradução de João Manuel Pinheiro, com o título”
As mentiras de Israel”pelo site ODiario.info.

Os governos e a maioria dos media ocidentais aceitaram muitas das reivindicações de Israel de justificação do assalto militar a Gaza: que o Hamas, consistentemente, violava o período de seis meses de tréguas que Israel respeitava e que depois se recusava a prolongá-lo; que Israel, por conseguinte, não tinha outro remédio senão destruir a capacidade do Hamas de lançar mísseis para as cidades israelitas; que o Hamas é uma organização terrorista, parte integrante de uma rede de jihad global; e que Israel não só agiu em sua própria defesa mas também em nome de uma luta internacional das democracias ocidentais contra essa rede.



Não tenho conhecimento de um único jornal americano importante, estação de rádio ou canal de televisão que nas suas coberturas do assalto a Gaza questionasse esta versão dos acontecimentos. Críticas às acções de Israel, se as houve (não houve nenhumas da administração Bush) focaram, em vez disso, se a carnificina feita pela Força de Defesa de Israel (IDF) foi proporcional à ameaça a que Israel procurou fazer frente, e se medidas adequadas foram tomadas para evitar vitimas civis.


O processo de paz do Médio Oriente tem sido sufocado em eufemismos enganadores, por isso deixem-me declarar, sem rodeios, que cada uma dessas reivindicações é uma mentira.


Israel, não o Hamas, é que violou as tréguas.
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O Hamas comprometeu-se a parar de disparar foguetes para Israel; como retribuição, Israel iria diminuir o seu apertar de gasganete em Gaza.


Na realidade, apertou-o ainda mais durante o período das tréguas. Isto foi confirmado, não só por todos os observadores neutrais internacionais e Organizações Não Governamentais no terreno, mas também pelo General Shmuel Zakai, um ex-comandante da IDF da Divisão de Gaza. Numa entrevista a Ha’aretz [jornal diário israelita] no dia 22 de Dezembro, acusou o governo de Israel de ter cometido um «erro básico» durante a tahdiyeh, o período de seis meses de tréguas relativas, por falhar a oportunidade da acalmia para melhorar, em vez de piorar acentuadamente, a má situação dos palestinianos da Faixa… Quando se cria uma tahdiyeh, e persiste a pressão económica sobre a Faixa, afirma o general Zakai, «é evidente que o Hamas tentará conseguir um tahdiyeh melhorado, e que a maneira deles para conseguir isso é continuar a disparar Qassams. Não se pode desferir golpes, deixar os palestinianos em Gaza na amargura económica em que se encontram e esperar que o Hamas apenas fique parado sem fazer nada».


As tréguas, iniciadas em Junho do ano passado e que iriam ser renovadas em Dezembro, requeriam que ambas as partes se abstivessem de acções violentas entre eles. O Hamas tinha que parar com os seus assaltos com mísseis e impedir o lançamento de foguetes por outros grupos, tais como a jihad islâmica (mesmo a espionagem israelita reconheceu que isto tinha sido conseguido com surpreendente eficácia), e Israel teria que parar com os seus assassínios selectivos e as suas incursões militares.


Este entendimento foi seriamente violado no dia 4 de Novembro, quando a IDF entrou em Gaza e matou seis membros do Hamas. O Hamas respondeu lançando foguetes Qassam e mísseis Grad.


Mesmo assim, o Hamas ofereceu-se para prolongar a trégua, mas só sob a condição de Israel terminar o bloqueio. Israel recusou. Podia ter cumprido a obrigação de proteger os seus cidadãos concordando em aliviar o bloqueio, mas nem sequer tentou. Não se pode afirmar que Israel iniciou o assalto a Gaza para proteger os seus cidadãos dos ataques por mísseis. Fê-lo para proteger o seu direito de continuar o estrangulamento da população de Gaza.


Parece que toda a gente já se esqueceu que o Hamas declarou o fim dos ataques suicidas com bombas e lançamentos de mísseis quando decidiu aderir ao processo político palestiniano, e que o respeitou por mais de um ano.


Bush deu publicamente as boas-vindas a essa decisão, citando-a como um exemplo do êxito da sua campanha pela democracia no Médio Oriente. (Não apontou mais nenhum outro êxito seu).


Quando, inesperadamente, Hamas venceu as eleições, Israel e os Estados Unidos procuraram imediatamente tirar legitimidade ao resultado e acolheram Mahmoud Abbas, o chefe da Fatah, que até aí tinha sido rejeitado pelos líderes de Israel como uma «galinha depenada». Armaram e treinaram as suas forças de segurança com o fim do derrube do Hamas; e quando o Hamas – brutalmente, sem dúvida, pré–esvaziou esta tentativa violenta de reverter o resultado da primeira democrática eleição honesta no Médio Oriente moderno, Israel e a administração Bush impuseram o bloqueio.


Israel procura contrariar estes indisputáveis factos, insistindo que ao retirar os colonatos de Gaza em 2005, Ariel Sharon deu a oportunidade ao Hamas de iniciar o caminho para a criação de um estado, uma oportunidade que Hamas recusou e, em vez disso, transformou Gaza numa rampa de lançamento para disparar mísseis contra a população civil de Israel.


A acusação é uma dupla mentira.


Apesar de todos os seus defeitos, Hamas trouxe um nível de lei e ordem, desconhecido em anos recentes em Gaza, e fê-lo sem as enormes quantias de dinheiro com que alguns dadores inundaram a Autoridade palestiniana dirigida pela Fatah. Os gangues violentos e os senhores da guerra que aterrorizavam Gaza sob o domínio da Fatah foram eliminados. Muçulmanos não-praticantes, cristãos e outras minorias, tinham mais liberdade religiosa sob Hamas do que teriam tido, por exemplo, na Arábia Saudita, ou sob muitos outros regimes árabes.


A maior mentira é que a retirada de Gaza de Sharon tinha o propósito de ser um prelúdio de outras retiradas e de um acordo de paz. Foi assim que Dov Weisglass, conselheiro principal de Sharon, também chefe negociador com os americanos, descreveu a retirada de Gaza, numa entrevista ao Há’aretz em Agosto de 2004.


«O que eu realmente concordei com os americanos foi que uma parte dos colonatos [isto é, os blocos principais na Margem Ocidental] não seriam tratados de nenhuma maneira, e que os restantes só seriam tratados quando os palestinianos se tornassem finlandeses…O significado [do acordo com os Estados Unidos] representa o congelamento do processo político. E quando se congela esse processo, impede-se o estabelecimento de um Estado palestiniano e impede-se a discussão acerca dos refugiados, das fronteiras e de Jerusalém. De facto, todo este pacote que se chama Estado palestiniano, com tudo que gira à sua volta, foi removido definitivamente da nossa agenda. E tudo isto com a autoridade [do presidente Bush] e a autorização…e a ratificação de ambas as Câmaras do Congresso».


Será que os israelitas e os americanos pensam que os palestinianos não lêem os jornais israelitas, ou que quando viram o que se estava a passar na Margem Ocidental não podiam deduzir o que Sharon tencionava fazer?


O governo de Israel gostaria que o mundo acreditasse que o Hamas lançava os seus mísseis Qassam porque é isto que os terroristas fazem e o Hamas é um grupo terrorista genérico. Na realidade, Hamas não é mais uma «organização terrorista» (o termo preferido por Israel) do que o movimento sionista era durante a sua luta por uma pátria judia.


Nos finais dos anos 30 e 40, os partidos no interior do movimento sionista recorreram a actividades terroristas por razões estratégicas.


De acordo com Benny Morris, foi o Irgun que primeiro alvejou civis. Ele escreve em Righteous Victims, que uma «vaga de terrorismo árabe em 1937, disparou uma onda de bombardeamentos do Irgun contra multidões árabes e autocarros, introduzindo uma dimensão nova ao conflito». Documenta ainda as atrocidades cometidas durante a guerra de 1948-49 pela IDF, admitindo numa entrevista em 2004, publicada no Há’aretz, que as informações emitidas pelo Ministro das Defesa de Israel indicavam que «houve muitos mais actos de massacre por Israel do que teria antecipado… Nos meses de Abril-Maio de 1948, foram dadas ordens operacionais a unidades do Haganah, que estabeleciam explicitamente que elas deviam desenraizar os aldeões, expulsá-los e destruir as próprias aldeias». Em várias aldeias palestinianas e cidades, a IDF levou a cabo execuções organizadas de civis. Quando perguntado pelo Há’aretz se condenava a limpeza étnica, Morris respondeu que não.


Nunca teria existido um Estado Judaico sem o desenraizamento de 700.000 palestinianos. Portanto, foi preciso desenraizá-los. Não havia outra coisa a fazer senão expulsar a população. Foi necessário limpar o interior, as áreas fronteiriças e as estradas principais.


Foi necessário limpar as aldeias donde partiam disparos contra os nossos transportes e os nossos colonatos.


Por outras palavras, quando os judeus matam civis inocentes para desenvolver a sua luta nacional, são heróis. Quando os adversários o fazem, são terroristas.


É muito simples descrever Hamas, meramente como uma «organização terrorista». É um movimento nacionalista religioso que recorre ao terrorismo, como o movimento sionista fez durante a sua luta por uma nação, no entendimento errado de que era a única forma de acabar com uma ocupação opressiva e criar um Estado palestiniano.


Enquanto a ideologia do Hamas determina formalmente que esse Estado será estabelecido sobre as ruínas do Estado de Israel, isso não determina as políticas actuais do Hamas mais do que a mesma declaração na carta da OLP determinava as acções da Fatah.


Não são estas as conclusões de um apologista do Hamas mas sim as opiniões do antigo chefe da Mossad, e conselheiro nacional de segurança de Sharon, Ephraim Halevy.


A liderança do Hamas passou por uma alteração «mesmo sem darmos por isso», escreveu recentemente Halevy, no Yedioth Ahronoth, reconhecendo que a «a meta ideológica do Hamas não é alcançável e que não o será num futuro previsível». O Hamas está preparado e desejoso de ver o estabelecimento de um Estado palestiniano dentro das fronteiras temporárias de 1967. Halevy observou, que enquanto Hamas nada disse sobre quanto tempo essas fronteiras seriam «temporárias», «eles sabem que quando um Estado palestiniano for estabelecido com a sua cooperação, serão obrigados a alterar as regras do jogo: terão que adoptar um caminho que os conduzirá para muito longe dos seus objectivos ideológicos originais». Num artigo anterior, Halevy também observou o absurdo de ligar o Hamas a Al-Qaeda.


Aos olhos da Al-Qaeda, os membros do Hamas são considerados como heréticos, devido às suas declaradas intenções de participar, mesmo que indirectamente, em processos de alguns entendimentos ou acordos com Israel. A declaração [do chefe do gabinete político do Hamas, Khaled Mashal] contradiz diametralmente a abordagem a Al-Qaeda e permite a Israel ter uma oportunidade, talvez histórica, de ter uma melhor influência.


Por que será então que os líderes de Israel estão tão determinados em destruir o Hamas?


Porque sabem que os líderes do Hamas, diferentemente dos da Fatah, não podem ser intimidados a aceitar um acordo de paz que estabelece um «Estado» palestiniano formado por entidades territorialmente desligadas, sobre as quais Israel teria a possibilidade de conservar um controlo permanente. O controlo da Margem Ocidental tem sido o objectivo irreversível das elites militares, de espionagem e políticas, desde o fim da Guerra dos Seis Dias [*]. Acreditam que o Hamas não permitiria tal cantonização do território palestiniano, não importa quanto tempo durasse a ocupação.


Pode ser que estejam enganados acerca de Abbas e do seu bando de reformados mas têm toda a razão acerca do Hamas.


Observadores do Médio Oriente interrogam-se se o assalto de Israel ao Hamas terá êxito na destruição da organização ou na sua expulsão de Gaza. É uma questão irrelevante. Se Israel planeia manter o controlo sobre qualquer futura entidade palestiniana, nunca encontrará um parceiro palestiniano, e mesmo que consiga em desmantelar Hamas, o movimento será posteriormente substituído por uma oposição palestiniana muito mais radical.


Se Barack Obama escolher um enviado experiente para o Médio Oriente que seja fiel à ideia de que entidades estranhas não devam apresentar as suas propostas para um acordo de paz sustentável e justo, e muito menos pressionem as partes a aceitá-lo, mas que em vez disso os deixem trabalhar as suas diferenças, ele dará confiança a uma futura resistência palestiniana, muito mais extrema do que Hamas – uma capaz de se aliar à Al-Qaeda. Para os Estados Unidos, a Europa e para a maioria do resto do mundo, isto seria a pior solução possível. Talvez que alguns israelitas, incluindo os líderes dos colonos, acreditem que isso lhes seria proveitoso, uma vez que daria ao governo um pretexto irresistível para ficar com toda a Palestina. Mas isto seria uma ilusão que provocaria o fim de Israel como Estado judaico e democrático.


Anthony Cordesman, um dos mais fiáveis analistas militares do Médio Oriente, e um amigo de Israel, afirma num relatório escrito para o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais que as vantagens tácticas na continuação da operação em Gaza foram superadas pelo custo estratégico – e que provavelmente não seriam superiores a quaisquer ganhos Israel pudesse ter recebido no princípio da guerra em ataques selectivos a instalações essenciais do Hamas.


E pergunta: «Será que Israel, de certo modo, cometeu uma gafe ao envolver-se numa guerra de escalada progressiva sem um objectivo estratégico claro ou, pelo menos, um que credivelmente pudesse alcançar?»


«Acabará Israel por dar plenos poderes em termos políticos a um inimigo que vencera em termos tácticos? As acções de Israel prejudicarão seriamente a posição dos Estados Unidos na região, de qualquer esperança de paz, assim como o de regimes de países árabes moderados e de outras sensibilidades no processo? Para ser franco, a resposta até agora parece ser sim.» E Cordesman conclui, que «qualquer líder pode assumir uma posição de dureza e alegar que os ganhos tácticos são vitórias sem significado. Se isto for tudo que Olmert, Livni e Barack dão como resposta, é uma desonra para eles e prejudicam o seu país e os seus amigos».

Nota:
[*]
Ver o meu artigo de 16 de Agosto de 2007 no London Review of Books

09 fevereiro, 2009

Activista desaparecida estava presa em Israel

A activista dos direitos humanos, a escocesa Theresa McDermott foi encontrada, detida na prisão de Ramleh, quatro dias depois de ter sido dada como "desaparecida", por parte do governo de Israel.

Theresa era uma dos 9 passageiros a bordo do Tali, um navio que transportava ajuda humanitária para Gaza, quando este foi interceptado por navios de guerra israelita, em 4 de Fevereiro de 2009, que o apresaram e levaram para Ashdod, em Israel.

Todos os passageiros e tripulantes a bordo foram libertadas na quinta-feira, 5 de Fevereiro, excepto Theresa.

Entre quinta-feira à noite e domingo de manhã não houve nem uma palavra sobre o paradeiro de Theresa excepto várias notícias falsas dizendo que "britânicos" tinham partido para Londres.
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Finalmente no domingo, Theresa foi capaz de telefonar ao seu irmão João, na Escócia para lhe dizer que estava na prisão de Ramleh em Israel.

Segundo o jornalista Salam Khodr, da Al Jazeera, que se encontrava a bordo do Tali quando o navio foi abordado os passageiros foram ameaços, agredidos, pontapeados por soldados israelitas antes de serem retirados do navio.

Nenhuma informação foi fornecida pelas autoridades israelitas sobre as razões da detenção de Theresa, quais as acusações e as razões de ter sido ocultada a sua detenção.

Sempre que o consulado britânico em Israel foi contactado para ajudar a encontrar Theresa, recusou-se a fazê-lo, afirmando que não poderia prestar assistência a um cidadão britânico a menos que ele o pedisse pessoalmente.

Membros do Parlamento Escocês, incluindo Pauline McNeil e Hugh O'Donnell que fizeram parte de uma delegação a Gaza, do movimento “Free Gaza”, bordo do barco “Dignity”, estão a trabalhar com o governo britânico a fim de garantir que Theresa recebe a protecção e assistência a que tem direito.

Theresa esteve em Gaza, com os primeiros navios do “Free Gaza”, em Agosto, e regressou para uma segunda viagem no navio “Dignity”.

Ela é desde há muito tempo uma respeitada activista dos direitos humanos que tem trabalhado com o Movimento Internacional de Solidariedade na Palestina, assim como com o “Free Gaza”. Na Escócia ela trabalha para os Correios.

Os Israelitas apenas encontraram no Tali, material médico e de ajuda humanitária, mas recusam-se a devolver o navio. O status da sua carga é desconhecido.

08 fevereiro, 2009

"Meias sujas" ou as eleições em Israel

Um texto de Uri Avnery a propósito das eleições em Israel.

Tenho algumas boas notícias e algumas más notícias", diz o sargento, na anedota, aos seus homens. "A boa notícia é que vão mudar as vossas meias sujas. A má notícia é que vão trocá-las entre si.”

Eu não sou a única pessoa que se lembrou desta antiga anedota do exército britânico no contexto das actuais eleições.

Somos confrontados por um monte de desculpas políticas, algumas delas fracassos documentados e outras completamente livres de quaisquer conquistas passadas. Não há nenhuma discussão significativa entre eles sobre estas questões. Nenhum dos principais concorrentes oferece soluções reais para os nossos problemas básicos. As diferenças entre eles são invisíveis, sem uma lupa.

A reacção instintiva: "Para o inferno com eles. Não vamos votar! "

Mas isso é infantil. Não podemos dar-nos ao luxo de não votar, ou votar nulo por despeito, ou como um protesto. Mesmo que as diferenças sejam minúsculas - podem revelar-se importantes.

Portanto, vamos tapar o nariz e votar. Se necessário, vamos tomar algum remédio contra as náuseas. Se todos eles são maus, vamos olhar para o mal menor.

Para mim, o maior mal é Binyamin ("Bibi") Netanyahu[1].

Se ele receber um voto mais que os seus rivais, o presidente irá confiar-lhe a tarefa de criar o próximo governo. Netanyahu já se comprometeu a convidar Avigdor Liberman[2], o aluno do fascista Meir Kahane[3], como seu primeiro parceiro, bem como o Shas[4] que agora se tornou num partido de extrema-direita. Talvez ele queira a "União Nacional"[5], que é ainda mais extremista, e os restos do Partido Nacional Religioso[6], juntamente com os Ortodoxos.

Se este for o núcleo da próxima coligação, teremos um governo radicalmente nacionalista e racista, um governo que irá rejeitar liminarmente qualquer possibilidade de acabar com a ocupação, de criar um Estado palestiniano e de evacuar os colonatos.

Depois disto, Netanyahu poderá convidar o Kadima[7] e os trabalhistas[8], mas isso já não interessará mais. Uma vez que ele seja capaz de criar um governo sem eles, ele vai tê-los por nada. Num tal governo, a sua única função será a de servir, como as folhas de figo, de camuflagem para os americanos.

É preciso lembrar que também viriam com Netanyahu: tipos como Limor Livnat[9], Benny Begin[10] e Bogie Yaalon[11].

Algumas pessoas têm tido uma ideia maquiavélica: deixar o Likud chegar ao poder. Dessa forma, todo o mundo vai ver a verdadeira face de Israel e boicota-lo. O governo cairá, e podemos começar tudo de novo.

Desculpem, mas para mim é também uma aposta arriscada. Eu não estou disposto a jogar com o futuro de Israel. Para usar uma velha frase feita: Eu não tenho outro país.

Alguns tentam animar-nos com um outro pensamento: Netanyahu é uma pessoa fraca. Se os americanos exercerem pressão sobre ele, desiste No final ele fará tudo o que Obama lhe disser para fazer.

Não tenho tanta certeza. Também não estou disposto a apostar nessa. Os seus parceiros não vão deixá-lo submeter-se. Para mim, a primeira decisão é: Não a Netanyahu.

TZIPI Livni tem uma enorme vantagem: ela não é Bibi.

Pode parecer que esta é também a sua única vantagem.

Neste momento, ela é a única pessoa que poderia - talvez, talvez - bloquear o caminho para uma coligação liderada pelo Likud. Para muitos, essa é uma razão suficiente para votar a favor dela.

Existe algum outro motivo? Difícil de ver um. Ela podia ter subido acima das tenebrosas águas e apresentado uma mensagem clara e focada: a paz com o povo palestino e o mundo Árabe. Isto teria a diferenciado de Netanyahu e também de Ehud Barak, dando-lhe o estatuto de uma estadista. Teria transformado as eleições num referendo sobre a guerra e a paz.

Ela perdeu essa oportunidade. Tal como todos os outros candidatos, ela tem medo da palavra "paz". Os seus assessores provavelmente advertiram-na de que as acções da paz na bolsa de valores da opinião pública estão em baixa.

Se ela fosse uma verdadeira líder, se a paz lhe estivesse a queimar os ossos (como dizemos em hebraico), ela teria ignorado o conselho e levantar-se-ia como uma mulher de princípios.

Em vez disso, ela está tentando ser mais “macho” do que todos os machos, "o único homem no Governo".

Ela grita aos céus contra qualquer diálogo com o Hamas. Ela opõe-se a um cessar-fogo mutuamente acordado. Ela tenta competir com Netanyahu e Liberman com desenfreadas mensagens nacionalistas.

Isso é mau. Isso também é estúpido. Alguém que está à procura de um homem não vai votar a favor de uma mulher. Alguém que anseia por um brutal senhor da guerra não vai votar a favor de uma fêmea civil que, nas palavras de Ehud Barak, "nunca segurou um rifle nas suas mãos".

Foi um teste de liderança. E Tzipi reprovou.

É verdade, aqui e ali, ela manifestou algumas ideias vagas sobre "dois Estados-nação", mas em todos os seus anos de mandato ela não deu o mais pequeno passo nessa direcção.

Portanto, não há razão para votar a favor dela, com uma excepção: se ela tiver um voto a mais que Netanyahu, o presidente vai chama-la para tentar criar um governo. Esse governo vai certamente incluir Netanyahu, e provavelmente também Liberman. No entanto, será diferente de um governo liderado por Netanyahu. Sob forte pressão americana, poderá talvez até mesmo avançar para a paz.

NÃO POSSO votar em Ehud Barak. Mesmo que a minha cabeça o queira, a minha mão não iria obedecer.

A desumana guerra de Gaza foi um reflexo do carácter desumano do próprio Barak. Ele travou a guerra como parte da sua campanha eleitoral. Quando os manifestantes contra a guerra, marcharam pelas ruas de Telavive e gritaram: "Não compre votos / com o sangue dos bebés" eles não estavam assim tão longe da realidade.

Como Netanyahu, Ehud Barak é um fracasso documentado. Eu estava entre as massas, que comemoraram o seu triunfo na Praça Rabin, em 1999, quando foi eleito primeiro-ministro, e, quase um ano mais tarde, eu suspirava de alívio quando o seu governo ruiu. No seu curto mandato ele convocou a conferência de Camp David e sabotou-a, espalhando o veneno e a falsidade da mantra "Não temos parceiros para a paz", provocando a segunda Intifada e destruindo, de dentro, o campo da paz.

Contrariamente a Livni, Ehud Barak nem sequer pretende ter uma perspectiva de paz. Ele só vê diante de si uma paisagem de intermináveis cordilheiras de guerra, montanha após montanha, esticando bem para além do horizonte.

Ao contrário das listas do Kadima e do Likud, a lista eleitoral do Partido do Trabalho inclui algumas boas pessoas. Mas estes não terão nenhuma influência nas coisas que se avizinham. Efectivamente, é um homem-lista, e esse homem está profundamente viciado.

POR UM MOMENTO parecia que o Meretz[12] se iria transformar algo maior. Eles incluíram na sua lista algumas novas e atractivas pessoas. Homens de letras recomendam-nos calorosamente.

E então algo aconteceu com eles, a mesma coisa que aconteceu com eles na última vez.

Uma guerra eclodiu, e o Meretz apoiou-a entusiasticamente.

Os seus três mosqueteiros literários - Amos Oz[13], A.B. Yehoshua[14] e David Grossman[15] - saíram do seu caminho para apelar à guerra louvando-a, cada um de sua vez.

Exactamente como haviam feito na Segunda Guerra do Líbano.

É verdade que, após alguns dias, os três - juntamente com o Meretz e o Paz Agora[16] - apelaram para o fim do ataque.

Esse apelo não foi acompanhado por um pedido de desculpas pela anterior. Isto mostrou um monte de Chutzpa (insolência).

Após ajudarem na ruptura da barragem, achavam que poderiam interromper a inundação com os seus dedos. Mas depois de terem legitimado as atrocidades da guerra, ninguém os ouvia mais. Cada mulher e cada criança que foi morta nessa guerra, até ao último dia, deverá pesar sobre a sua consciência.

Evidentemente, que alguns dirão: você não votar para castigar e vingar-se. Apesar do crime, temos de votar a favor do Meretz, porque entre os partidos "sionistas" são o mal menor. Eles falam sobre a paz e a justiça social, e alguns de seus representantes, como Shulamit Aloni[17] e Yossi Sarid[18], fizeram um bom trabalho no governo Rabin. O Meretz também fez um bom trabalho parlamentar para as causas justas.

OUTRA COISA bem diferente é problema colocado pelos três partidos designados por "árabes", um dos quais é o comunista Hadash[19], que tem um pequena componente judia.

O programa do Hadash está mais perto do consistente campo da paz do que qualquer outro. Alguns diriam: Isso é perto o suficiente. Eu voto de acordo com as minhas convicções, e não com base em considerações tácticas. O Hadash também deve ser creditado por fazer avançar algumas causas positivas no Knesset.

O problema das listas "árabes"[20] é que elas não conseguiram jogar um papel significativo na arena política, que se manteve como um domínio feudal exclusivo dos partidos "sionistas" ("sionista" neste contexto, significa "não-árabes").

A fim de penetrar no campo judeu, Hadash poderia ter colocado na cabeça da sua lista, ou pelo menos em segundo lugar, Dov Khenin[21], que subiu ao estrelato em Telavive nas recentes eleições autárquicas. Ao não fazê-lo, perderam, pelo menos, alguns dos votos que poderiam ter desviado do Meretz e do Trabalhista.

O impacto dos partidos "árabes" na política israelita é próximo a zero. É limitado a um ponto no tempo: no dia após as eleições, a questão colocar-se-á se quando todos os partidos de centro/esquerda em conjunto, do Kadima para a esquerda, podem reunir votos suficientes para bloquear um governo de direita. Neste contexto, e só aí, os partidos "árabes" desempenham um papel.

RESTA o fenómeno Liberman.

Liberman criou um partido que é simples e profundamente racista. A sua campanha eleitoral está centrada na exigência da anulação da cidadania israelita a pessoas "não-leais". Significado: os árabes, que constituem 20% dos cidadãos de Israel.

Em qualquer outro país, o programa de Liberman seria chamado fascista, sem aspas. Em parte alguma do mundo ocidental, existe um grande partido que se atreva a fazer avançar tal exigência.

Os neo-fascistas na Suíça e na Holanda querem expulsar os estrangeiros, mas não a anulação da cidadania dos que lá nasceram.

O núcleo do partido é composto por imigrantes da antiga União Soviética, muitos dos quais têm trazido da sua pátria um desprezo absoluto pela democracia, o desejo de um líder forte (um Estaline ou um Putin), uma atitude racista para com os cidadãos de pele castanha e um gosto pelo brutal, estilo Chechénia.

A eles vieram agora juntar-se jovens, nativos israelitas, que se têm radicalizado face à recente guerra.

Quando Joerg Haider integrou o governo austríaco, Israel chamou o seu embaixador em Viena, como protesto. Mas, em comparação com Liberman, Haider foi um desvario liberal, e assim é Jean-Marie Le Pen. Agora Netanyahu anunciou que Liberman será "um importante ministro" no seu governo, Livni tem que entender que ele estará no seu governo, também, e que Barak não excluiu essa possibilidade.

A versão optimista diz que Liberman irá revelar-se como uma curiosidade passageira.

Todas as campanhas eleitorais israelitas tem-se caracterizado pelo aparecimento de um partido que reflecte uma moda passageira, consegue um estrondoso sucesso e depois desaparece.

Em 1977, foi o partido Dash, que montava o cavalo de "mudar o sistema". Ganhou 12,5% dos votos, mais tarde quebrou e desapareceu antes das próximas eleições. Mais tarde, foi o partido Tzomet de Rafael Eitan, sobre o cavalo da incorrupta pureza. Outro foi o partido Shinui (Mudança), que andava a cavalo no ódio anti-religioso e que desapareceu sem deixar um rasto.

Nas últimas eleições foi a lista dos reformados[22], com dezenas de milhares de jovens a votarem nela por brincadeira.

Nas actuais eleições, o partido de Liberman capturou a tendência, cavalgando sobre as primitivas emoções das massas que perderam a liberdade na Guerra de Gaza.

Existe também uma versão pessimista: O fascismo tornou-se um sério jogador no domínio público israelita. Os três principais partidos têm-no legitimado. Este fenómeno deve ser interrompido antes que seja tarde demais.

ENTÃO, COMO votarei na próxima terça-feira?

Tenho a intenção de elaborar uma lista que terá início a partir do pior para o menos mau. O último na lista terá o meu voto.

Notas:
[1]
Binyamin ("Bibi") Netanyahu, nascido em Telavive, em 21 de Outubro de 1949, Foi Primeiro-Ministro e é o Presidente do partido conservador Likud, na oposição.

[2] Avigdor Liberman, nasceu em Kishinev, então União Soviética, hoje Moldavia, emigrando para Israel em 1978. Tendo militado no Kadima abandonou-o por não concordar com o “Plano de Desocupação” de Ariel Sharon. Líder do partido de extrema-direita Israel Beitenu. Em Outubro de 2006 assinou um acordo de coligação com Ehud Olmert, tendo sido nomeado vice-primeiro-ministro e Ministro dos Negócios Estratégicos. Abandonou o governo em ruptura, em Janeiro de 2008.

[3] Rabi Meir David Kahane, (1de Agosto de 1932-5 de Novembro de 1990), um rabi ortodoxo israelo- americano, conhecido pelas suas ideias nacionalistas, baseadas no conceito do “Grande Israel”. Fundador do partido nacionalista Kach, e por ele eleito para o Knesset. Em 1986 o Kach foi declarado como um partido racista pelo Governo de Israel e assim Kahane banido do Knesset. Acrescente-se que depois do massacre da Caverna dos Patriarcas, em 1994, - um massacre de árabes, incluindo crianças, enquanto rezavam, por Baruch Goldstein, um activista do Kach - o movimento foi declarado fora da lei.

[4] Shas “Associação dos Sefarditas Jasídicos do Mundo” é um partido representando os sefarditas ortodoxos. Tem vindo a assumir posições de extrema-direita Nas últimas eleições para o Knesset, 2006, posicionou-se como a terceira força política obtendo 12 lugares. Está no governo de coligação de Ehud Olmert, juntamente com o Kadima, Partido Trabalhista, Gil e entre Outubro 2006 e Janeiro de 2008, com o Yisrael Beiteinu. O seu líder, Yishai, é vice-primeiro-ministro e ministro da Indústria, Comércio e Trabalho; Ariel Atias é Ministro das comunicações; Meshulam Nahari e Yitzhack Cohen são Ministros sem Pasta.

[5]União Nacional” é um partido político israelita da direita radical, nacionalista, e sionista que reflecte a aliança política entre os agrupamentos Moledet, Tzkuma e o Partido Nacional Religioso Sionista (resultante de uma cisão do Partido Nacional Religioso). Nas últimas eleições para o Knesset, 2006, posicionou-se, em aliança com o Partido Nacional Religioso como a sexta força política obtendo 9 lugares, distribuídos na proporção de 6-3.

[6] O Partido Nacional Religioso, ou MAFDAL, segundo o acrónimo hebreu, é resultante da fusão, em 1956, do Mizrahi (criado em 1902, com o objectivo de "rejudaizar" o sionismo, no sentido religioso, mas também de contribuir para a colonização judia da Palestina) e do Hapoel Hamizrahi (criado em 1922, em contraponto com as ideologias de esquerda dominantes na altura, como um ramo “operário” do Mizrahi com o objectivo de unir no sionismo, a prática religiosa e uma ideologia de progresso social). Nas últimas eleições para o Knesset, 2006, posicionou-se, em aliança com a “União Nacional” como a sexta força política que obtendo 9 lugares, distribuídos na proporção de 3-6.

[7] O Kadima é um partido político israelita de ideologia centrista, liberal e sionista. Durante a Guerra de Gaza radicalizou a sua posição concorrendo com a extrema-direita. Foi fundado por Ariel Sharon, depois de abandonar o Likud, em 21 de Novembro de 2005. Nas últimas eleições para o Knesset, 2006, posicionou-se, como a primeira força política obtendo 29 lugares.
Destacam-se entre os seus membros, Ehud Olmert, Primeiro-ministro (demissionário); Tzipi Livni, Presidente do Kadima, Ministra dos Negócios Estrangeiros, e candidata a Primeiro-Ministro nas próximas eleições; Shimon Peres, Presidente de Israel; Dalia Itzik, Presidente do Knesset; Shaul Mofaz, Ministro dos Transportes.

[8] O Partido Trabalhista de Israel representa a esquerda moderada, de orientação social-democrata e sionista. No entanto, durante a Guerra de Gaza radicalizou a sua posição concorrendo, nas suas posições, com a extrema-direita, muito por responsabilidade do seu Presidente e Ministro da Defesa, Ehud Barack. É membro da Internacional Socialista. Nas últimas eleições para o Knesset, 2006, posicionou-se, como a segunda força política obtendo 20 lugares.

[9] Limor Livnat, nasceu em Haifa em 22 de Setembro de 1950, conservadora de direita, pertence ao Likud e é membro do Knesset. Opôs-se aos acordos de Oslo e revelou preocupações quanto ao Road Map de Bush.

[10] Ze'ev Binyamin (Benny) Begin, nasceu em 1 de Março de 1943, em Telavive. É geólogo e político. Membro do Likud, em 1993 foi derrotado nas primárias para a liderança do partido, na sucessão de Isaac Shulamit, por Benjamim Netanyahu.
Em 1997, quando era Ministro da Ciência, de um Governo de Netanyahu, resignou por discordar dos Acordos de Hebron, que visavam a reorganização das Forças Israelitas nessa área.
Assim abandonou o Likud, levando consigo a linha dura, com a esperança de fazer renascer o Herut – Movimento Nacional fundado por seu pai Menachem Begin. Com total apoio do ex-ministro Yitzhac Shamir, afastou o Likud e juntou outros partidos da direita numa aliança contra os Acordos de Oslo, a “União Nacional” e concorreu às eleições de 1999, onde ganhou apenas 4 lugares. Face aos resultados Begin demitiu-se e abandonou a política … até que a 2 de Novembro de 2008 anunciou o seu regresso ao Likud e que iria concorrer nas eleições de 2009.
A 29 de Dezembro de 2008, numa entrevista a Arit Shavit, do Haaretz, explicou a sua oposição a um Estado palestino propondo antes a sua autonomia sob controlo israelita.

[11] Moshe "Bogie" Ya'alon nasceu em 24 de Junho de 1950, ex-Chefe do Estado Maior das Forças de Defesa de Israel e político. Ya’alon é conhecido pelas suas controversas declarações, como a que fez ao Haaretz em 27 de Agosto de 2002:
"A ameaça palestina abriga atributos parecidos com o cancro que têm de ser cortados. Existem soluções para todos os tipos de câncer. Alguns dizem que é necessário amputar órgãos, mas no momento estou aplicando quimioterapia.”

[12] Meretz ou Meretz-Yajad é um partido de esquerda com representação no Knesset. É de tendência social-democrata, sionista-socialista e pacifista. Nas últimas eleições para o Knesset, 2006, posicionou-se, como a nona força política obtendo 5 lugares.
Entre os seus activistas mais importantes conta-se com Zehava Gal-On, membro do Knesset e membro activo de várias organizações de direitos humanos, é ainda directora do Centro Internacional para a Paz no Médio Oriente.

[13] Amos Oz, nasceu em Jerusalém, a 4 de Maio de 1939,escritor e co-fundador do movimento pacifista israelita Paz Agora.
(N.B.: Iremos tratar aqui apenas do seu perfil político.)
Amo Oz é um dos mais influentes e considerados intelectuais israelitas. Oz foi um dos primeiros israelitas a defender a solução de “dois-Estados” para resolver o conflito israelo-palestino depois da Guerra dos Seis Dias. Fê-lo em 1967 um artigo "Terra de nossos antepassados", no jornal DAVAR (Trabalho). "Uma ocupação, mesmo inevitável, é uma ocupação corruptora”, escreveu.
Em 1978, foi um dos fundadores do movimento pacifista “Paz Agora”. Ao contrário de muitos outros no movimento de paz israelita, ele não se opõe à construção de uma barreira israelita na Cisjordânia, (o muro) mas considera que deve ser sensivelmente ao longo da Linha Verde, a fronteira pré-1967. Opôs-se aos colonatos desde o primeiro momento e foi um dos primeiros a elogiar os Acordos de Oslo e de conversações com a OLP.
Nos seus discursos e ensaios frequentemente ataca a esquerda não-sionista, até ao ponto da auto-abnegação como ele diz, e sempre enfatiza a sua identidade sionista.
É identificado por muitos observadores de direita como o mais eloquente porta-voz da esquerda sionista.
“Duas guerras israelo-palestinas irromperam nesta região. Uma é a guerra do povo palestino para se libertar da ocupação e pelo seu direito à independência. Qualquer pessoa decente deveria apoiar esta causa. A segunda guerra é travada pelos fanáticos do Islão, do Irão a Gaza e do Líbano a Ramallah, para destruir Israel e conduzir os judeus para fora das suas terras. Qualquer pessoa decente deveria abominar esta causa. "(7 de Abril de 2002)
Durante muitos anos Oz foi identificado com o Partido Trabalhista. Na década de 90 Oz retirou o seu apoio ao Partido Trabalhista, saindo pela esquerda e aderindo ao Meretz. Nos últimos anos, descreveu o Partido Trabalhista como um partido que "na minha opinião praticamente não existe mais".
Nas eleições para o décimo sexto Knesset, que teve lugar em 2003, Oz apareceu na campanha de televisão do Meretz, apelando ao voto no Meretz.
Em Julho de 2006, Oz apoiou o exército israelita, na guerra do Líbano, escrevendo no Los Angeles Times: "Muitas vezes no passado, o movimento da paz israelita tem criticado as operações militares israelitas. Não desta vez. Desta vez, a batalha não é sobre a expansão e colonização israelitas. Não há território libanês ocupado por Israel. Não há reivindicações territoriais de ambos os lados ... O movimento da paz israelita deverá apoiar Israel na tentativa de auto-defesa, pura e simples, enquanto esta operação tenha por alvo o Hezbollah e poupe, tanto quanto possível, as vidas de civis libaneses.
Como os romancistas israelitas David Grossman e A.B. Yehoshua, Amos Oz mudou a sua posição (de inequívoco apoio a um acto militar de auto-defesa, na eclosão da guerra), face à decisão do governo, numa fase posterior, de expandir as operações no Líbano. Grossman, numa conferência de imprensa, colocou em palavras esta visão partilhada afirmando que Israel já tinha esgotado o seu direito de auto-defesa.
Em 26 de Dezembro de 2008, um dia antes da ofensiva israelita em Gaza começar, Oz assinou uma declaração publicada como um anúncio no Yediot Aharonot apoiando a acção militar contra o Hamas em Gaza. Duas semanas mais tarde, num artigo no Yediot Aharonot Oz defendia um cessar-fogo com o Hamas, chamando a atenção para as terríveis condições em Gaza.

[14] Abraham B. ("Bulli") Yehoshua nasceu em 1936, é novelista, ensaísta e dramaturgo e um fervoroso e incansável activista do movimento israelita pela Paz, Yehoshua assistiu à assinatura do Acordo de Genebra, e expande livremente as suas opiniões políticas em ensaios e entrevistas. É um crítico de longa data da ocupação israelita, mas também dos palestinianos.
Ele e alguns outros intelectuais mobilizaram-se no apoio do partido Meretz pouco antes das eleições de 2009.

[15] David Grossman, nasceu em Jerusalém, a 25 de Janeiro de 1954, autor de ficção e não-ficção e de literatura infanto-juvenil. Grossman, é um activista da paz e é respeitado entre os anti-sionistas, tendo apoiado Israel durante 2006 no conflito com o Líbano. Em 10 de Agosto de 2006, porém, ele e os colegas autores Amos Oz e AB Yehoshua realizaram uma conferência de imprensa em que exortou o governo a concordar com um cessar-fogo que criaria a base para uma solução negociada.

[16] Paz agora é uma organização não governamental pacifista israelita fundada em 1978. Tem como missão influenciar a opinião pública e convencer o governo israelita da necessidade e possibilidade de uma paz justa e de uma reconciliação histórica com o povo palestino e com os países árabes vizinhos, baseada na fórmula terra pela paz. Um dos fundadores da organização é o escritor Amos Oz.

[17] Shulamit Aloni nasceu em 29 de Novembro de 1928, em Telavive é um político e um activista de esquerda e dos direitos humanos.
É um proeminente membro do campo da Paz israelita. Fundou o partido Ratz que mercê de alianças várias se veio a transformar no partido Meretz, de que foi líder.
Aloni está na direcção da organização Yesh Din, criada em 2005, e que é formada por voluntários que se organizaram para se opor às contínuas violações dos direitos humanos dos palestinos nos Territórios Ocupados da Palestina
Aloni defendeu o uso da palavra “apartheid” pelo Presidente Jimmy Carter no título do seu livro “Paz para a Palestina, não ao apartheid” Mais tarde Aloni declarou: “Eu odeio encobrir coisas que deveriam estar abertas ao Sol.”

[18] Yossi Sarid nasceu em 24 de Outubro de 1940 é um comentador e um ex-político. Foi membro do Knesset pelo partido Meretz-Yachad até se retirar da política depois das eleições de 2006.

[19] O Hadash define-se como um partido Árabe-Judaico. A maioria dos seus votantes e dos seus líderes são árabes-israelitas, cidadãos de Israel. Tem três lugares no Knesset.
O partido apoia a evacuação de todos os colonatos israelitas, uma retirada completa por parte de Israel de todos os territórios ocupados, como resultado da Guerra-dos-seis-dias (1967), bem como o estabelecimento de um Estado palestiniano nesses territórios. Apoia ainda o direito de regresso ou indemnização para os refugiados palestinos. Para além das questões de paz e segurança, o Hadash também é conhecido por ser activo em questões sociais e ambientais.Hadash define-se como um partido não-sionista, inicialmente, em conformidade com a oposição marxista ao nacionalismo. Apela para o reconhecimento dos árabes palestinos como uma minoria nacional dentro de Israel.

[20] Lista Árabe Unida é um partido árabe-israelita com representação no Knesset – 4 lugares. Criado em 1996 é liderado actualmente por Ibrahim Sarsor, As suas principais propostas são: O fim da conquista e o estabelecimento de um Estado Palestino; O abandono das armas de destruição massiva; Uma lei que reconheça os árabes-israelitas como uma minoria nacional; Uma emenda à Lei do Regresso que assegure aos refugiados palestinos e aos seus descendentes a possibilidade de regressar.

[21] Dov Khenin nascido em 10 de Janeiro de 1958 é um cientista político, advogado e membro Knesset pelo partido Hadash. É membro do comité central do Maki (o Partido Comunista Israelita, e o maior grupo dentro do Hadash), um activista para a igualdade socioeconómica e um ambientalista.

[22] Gil ou Reformados de Israel à Assembleia é o partido dos reformados e pretende representar e defender os interesses das pessoas da terceira idade. Nas últimas eleições, de 2006, ganhou 7 lugares no Knesset. O seu líder é Rafi Eitan e os princípios políticos que defendem são: Proteger as pensões dos reformados, Melhorar os serviços de saúde gratuitos; Defender os valores tradicionais do judaísmo; Proteger os valores democráticos do Estado de Israel.

06 fevereiro, 2009

Marinha de Guerra de Israel apresa navio com ajuda humanitária

A Marinha de Israel interceptou na manhã de quinta-feira um navio que levava ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

Pelo menos dezoito pessoas estavam a bordo do navio Tali, de bandeira do Togo, crismado de Al-Ikhwa (A Irmandade), que foi desviado para o porto israelita de Ashdod, aonde a sua carga será examinada, estando os passageiros e a tripulação a serem interrogados pela polícia.

Entre eles estava o ex-arcebispo greco-católico de Jerusalém, monsenhor Hilarion Capucci, que deixara a cidade nos anos 70 após cumprir 3 anos de prisão, de uma pena de doze, acusado de contrabando de armas para a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de quem era membro, e um correspondente da emissora de TV árabe Al Jazeera, Salam Khoder, entre outros jornalistas.

De acordo com um comunicado do ministério da Defesa israelita, o Al-Ikhwa foi abordado após o comportamento da tripulação "levantar suspeitas" de que "o barco pudesse ser usado para contrabandear equipamento proibido para dentro ou fora da Faixa de Gaza".
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(Entretanto, de acordo com as últimas notícias da Haaretz, as autoridades israelitas já libertaram todos os passageiros, tendo permitido o regresso do navio ao libano. Nas buscas não foram encontradas armas)

Um porta-voz israelita, citado na versão online do jornal Haaretz, também disse que nenhum tiro foi disparado pelas forças do país para tomar o navio - só teriam sido feitos disparos de advertência.

No entanto, um correspondente da emissora de TV árabe Al Jazeera, que estava a bordo do navio, contou que depois de terem sido alvejados pela marinha israelita, cinco soldados entraram a bordo, agredindo e ameaçando os passageiros.

“Eles apontaram armas contra nós, eles pontapearam-nos e bateram-nos. Eles ameaçaram as nossas vidas.” Afirmou Salem Khoder.

Entretanto o equipamento de comunicações foi destruído e os telefones pessoais foram confiscados.

A missão foi organizada pelo Comité Nacional Palestino Contra o Bloqueio em cooperação com a organização americana Movimento para a Liberdade de Gaza. (”Free Gaza”) e o navio Al-Ikhwa que originalmente saira de Chipre, partiu do porto da cidade libanesa de Tripoli na terça-feira carregando 60 toneladas de remédios, comida e outros suprimentos.
Um dos organizadores da missão, Maen Bashur, declarou numa conferência de imprensa em Beirute que o navio transportava equipamento médico, comida, livros, brinquedos e leite para bebé.

"O navio foi revistado em Chipre e no Líbano. E estávamos muito ansiosos que fosse revistado pelas autoridades cipriotas e libanesas para que não houvesse razão para os israelitas o impedirem de chegar a Gaza” declarou Bashour à Al Jazeera.

O primeiro-ministro do Líbano, Fouad Siniora, condenou o ataque israelita contra Al-Ikhwa enfatizando que o mesmo estava numa missão humanitária.

“Não é surpresa que Israel perpetre tais acções já que vem sendo costume ignorar todas as leis e resoluções internacionais.”

“Já fiz algumas chamadas telefónicas para parceiros da comunidade internacional para que exerçam pressão sobre Israel que está a violar a Lei. Responsabilizo Israel pela segurança do navio e dos passageiros.”, declarou Siniora.

Anúncio "Passagens" a publicar em Israel

Uri Avnery enviou-nos o texto do anúncio que vai ser colocado no Haaretz, no dia 6 de Fevereiro, pelo Gush Shalom (Bloco da Paz), que traduzimos e que aqui deixamos:

NÓS dizemos:
É impossivel para
Os habitantes de Ashkelon
Viver sobre o fogo dos rokets

ELES dizem:
É impossivel para
Os habitantes de Gaza
Viver em casas demolidas
Enquanto as passagens estão
Fechadas para os materiais de construção.

Impossível separar
Entre os dois:
Acabem com o lançamento dos Qassams
Por todas as organizações –
Todas elas!
E abram as passagens
Para todos os materiais –
Todos eles!

Se quiserem ajudar a pagar as actividades e os anúncios do Gush Shalom, podem enviar os vossos cheques para:


Gush Shalom, P.O.Box 3322, Tel-Aviv 61033
Os contactos são:
972-3-5221732

05 fevereiro, 2009

Judeus europeus por uma paz justa.

É sempre bom encontrar gente justa e digna. Aqui fica a informação:
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Judeus europeus por uma paz justa, (EJJP), é uma federação de grupos judaicos de diferentes países europeus.[1] (Infelizmente não consta o nosso.)

Os seus princípios estão formulados na Declaração de Amesterdão.

Declaração de Amesterdão


"Nós, os representantes de dezoito organizações judaicas pela paz, de nove países europeus, reunidos na conferência" Não diga que não sabia" em Amesterdão, de 19 a 20 Setembro de 2002, apelamos:

A) Ao governo de Israel para que mude a sua política actual e para que implemente as propostas desta declaração e
B) a todos os outros governos, às Nações Unidas e à União Europeia para que pressionem o governo de Israel para que implemente as propostas da seguinte declaração:

Acreditamos que a única forma de sair do actual impasse é através de um acordo baseado na criação de um Estado palestino, independente e viável, e da garantia de estabilidade e segurança para Israel e para a Palestina.

Condenamos todas as formas de violência contra civis no conflito, não importa por quem seja perpetrada.

Apelamos para:

1. O fim imediato da ocupação dos territórios ocupados: Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, com o reconhecimento das fronteiras de 4 de Junho de 1967;

2. A completa retirada de todos os colonatos judeus em todos os territórios ocupados;

3. O reconhecimento do direito de ambos os estados de terem Jerusalém como sua capital;

4. O reconhecimento por Israel da sua parte de responsabilidade na criação do problema dos refugiados palestinianos.

Israel deve reconhecer o princípio do direito de regresso dos palestinianos, como um direito humano.

A solução prática para o problema virá por acordo entre as partes com base numa solução justa, equitativa e prática. Incluirá indemnização, e o retorno ao território do Estado da Palestina ou de Israel, sem colocar em perigo a existência de Israel.

Fazemos um apelo à comunidade internacional, especialmente da Europa, para apoio político e financeiro ".

(Declaração de Amesterdão, na redacção dada pela Convenção da EJJP realizada em Paris em Maio de 2004)



[1] Alemanha, Austria, Bélgica, Dinamarca França, Holanda, Itália, Reino Unido, Suécia, Suiça.

04 fevereiro, 2009

Hamas: Uma visão optimista. Cessar-fogo; Reconstrução; Reconciliação.

Uma atmosfera positiva prevalece no Cairo nas conversações relativas ao cessar-fogo com Israel, à reconstrução de Gaza e à reunificação do governo palestino, afirmou o líder do Hamas, Salah Bardawil na terça-feira à noite.

Falando ao telefone a partir do Cairo, Bardawil declarou à Maan que "O Hamas negociou a proposta egípcia sobre o cessar-fogo com Israel positivamente. No entanto, o Hamas pediu explicações sobre algumas propostas israelitas, especialmente quanto à sua oposição à entrada de certos materiais para a Faixa de Gaza, que Israel alega são utilizados no fabrico de armas."

Momentos antes referira que Israel havia bombardeado a Faixa de Gaza, em pelo menos dois lugares.

Também afirmou que um acordo foi alcançado quanto à formação de comités de unidade palestina para supervisionar a reconstrução de Gaza e de outras comissões para planear as conversações sobre a reconciliação nacional palestina marcadas para dia 22 de Fevereiro.

"A delegação do Hamas discutiu os três temas, cessar-fogo, conciliação e a reconstrução de Gaza com o director dos serviços secretos egípcios Omar Suleiman," disse Bardawil.

Condições de Israel, respostas do Hamas


Segundo Bardawil, Israel oferece permitir a entrada de 75% dos bens actualmente proibidos de entrar em Gaza em troca da libertação do soldado israelita Gilad Shalit em cativeiro. Os restantes 25% são bens que Israel afirma que poderão ser utilizados para fazer armas.

"Não temos nenhuma objecção ao cessar-fogo em troca do levantamento do cerco e à abertura dos postos de passagem. Não nos opomos a que se aborde o caso Shalit em conjunto com as negociações de cessar-fogo, mas pedimos explicações sobre a natureza deste material que Israel não quer deixar entrar", acrescentou, afirmando que o seu movimento estaria pronto para uma troca de prisioneiros com Israel a partir de amanhã, quarta-feira.

Bardawil acrescentou que o Hamas, como parte de um cessar-fogo, concordará em parar de disparar projécteis contra Israel. No entanto, Hamas pedirá a ajuda do Egipto para convencer outras facções a conterem-se.

No que diz respeito à exigência de Israel para que o Hamas pare o contrabando através de túneis sob a fronteira Gaza-Egipto, a resposta do Hamas é que o Hamas não é um estado e que necessitará da cooperação para reprimir o contrabando.

No entanto, explicou, "O Hamas não vai concordar em parar com o contrabando de armas em Gaza, porque isso significaria o fim da resistência."

"A política não deve interferir na reconstrução de Gaza"

Segundo Bardawil, o Hamas disse aos egípcios que a reconstrução de Gaza deve ser despolitizada. O grupo sugeriu que o Hamas, Fatah, e as outras facções formem comités conjuntos para supervisionar a construção.

Outra opção seria uma comissão não-partidária de especialistas em direitos humanos e de outros tecnocratas que coordenaria a reconstrução com os Estados doadores.

Destacou ainda que o mecanismo de reconstrução seria anunciado na conferência de Estados doadores a ser realizada no Cairo, a 2 de Março.

Hamas-Fatah reconciliação

Bardawil sublinhou que o Egipto tem a intenção de convidar as facções palestinianas para uma reunião em 22 de Fevereiro para clarificar a forma como irá prosseguir a reconciliação nacional.

Disse ainda que cinco comissões serão formadas para tratar de aspectos específicos do conflito interno palestino, incluindo a segurança e a estrutura da Organização de Libertação da Palestina (OLP).

As comissões vão começar a funcionar com a assistência de uma comissão Árabe que ajudará a criar uma "atmosfera positiva", disse ele.

Concluiu declarando que o Hamas pediu aos egípcios para formar uma comissão jurídica para o acompanhamento das detenções pela Autoridade Palestina de membros do Hamas na Cisjordânia.