25 janeiro, 2011

Um voto seguro e certo.

Apesar de ter admiração e/ou simpatia pelo conjunto de candidatos que se levantaram contra Cavaco Silva, no final, e apesar de ter subscrito a candidatura de Fernando Nobre, no final, não me revi em nenhum deles.

Não que Fernando Nobre tenha perdido as qualidades que lhe reconheci então para o apoiar: honestidade, integridade, sensibilidade para as questões humanitárias e sociais, capacidade para gerir crises e criar consensos, capacidade para tomar decisões em situações de elevado stress; ou que sequer tivesse posto em causa que, apesar dos seus erros, não viesse a desempenhar a missão de Presidente da República, se fosse eleito, com honra e benefício para Portugal.

Nem por ter avaliado que no final não seria o vencedor - quando subscrevi a sua candidatura já tinha consciência que dificilmente poderia ganhar, mas mesmo assim, entendi que merecia o meu apoio. 

Aliás os 593.886 votos que granjeou excederam as minhas expectativas., que o colocavam num patamar  na ordem dos 470 mil votos.

Mas, no seu caso, porque durante a sua campanha, na minha leitura, foi incapaz de se focar no que era importante – a derrota de Cavaco Silva – e de se afirmar pela positiva e pelos valores, deixando-se embrulhar no bruaá da campanha, assumindo nalguns casos posições que raiaram a demagogia e o oportunismo populista, como por exemplo: a questão do número de deputados – terá feito ou tido acesso a algum estudo, que conjugando o plano da representação política mais abrangente, com o plano da funcionalidade organizacional, lhe tivesse demonstrado que o número de 100 deputados seria o número ideal? Já agora porque não 101, permitindo o desempate? – ou como quando acolheu acriticamente as reivindicações dos subsídios ao ensino privado.

Mas tendo eu “perdido o meu candidato”- antes mesmo de ele ter perdido… ganhando - mesmo assim, fui exercer o meu direito, que é também um dever de cidadania, e fui votar. E não inutilizei o meu voto nem o deixei em branco. Seria uma tonteira fazê-lo, um perfeito desperdício.

Entre todos não escolhi:

Nem Manuel Alegre – apesar de ter sido um dos subscritores da sua candidatura em 2006, entendi que, se não foi capaz então, de transformar a força dos votos que lhe demos, (1.138.297) num magistério que influenciasse positivamente a política nacional e combatesse a deriva neoliberal assumida pelo seu partido, o PS, agora, depois de cinco anos de uma letargia cívica entrecortada por pequenos episódios onde, engrossando a voz, a alçava para verberar o óbvio, menos força e vontade teria para o fazer.

Se em 2006 a candidatura de Manuel Alegre foi uma candidatura independente de um socialista com 69 anos de idade, em nome da cidadania, em 2011, foi uma campanha de um geronte socialista de 74 anos, que para satisfazer o seu ego preferiu partir o seu partido com uma aliança espúria com o Bloco de Esquerda. Este tendo calculando mal o passo, vê agora as suas contas saírem furadas pois que da “forçada” soma, nada veio a colher para além do descrédito da sua táctica. E ainda veio o  Luís Fazenda, com toda a distinta lata, conclamar à "união das esquerdas”, quando a montagem da candidatura de Alegre mais não foi do que um acabado exercício de divisionismo e sectarismo.

Dos 2.239.833 votos que as candidaturas de Manuel Alegre, Fernando Louça e Garcia Pereira e de Mário Soares pelo PS, reuniram em 2006, ficaram apenas 831.021 votos. Perderam-se 1.407.812 votos, 62,85% desse potencial eleitorado. 

Apesar de entender que aquele potencial iria sofrer forte erosão mercê de diversos factores - apoiantes e eleitores de 2006 que viram frustradas as suas expectativas, o "efeito" Nobre, a "quinta coluna "de Soares,  a alergia da direita do PS a tudo o que possa  parecer de esquerda, mesmo sem o ser  - nunca previ um efeito tão profundo e nefasto, pois que sempre pensei que Manuel Alegre conseguiria estancar a hemorragia  na banda dos 950 mil votos.

Nem José Manuel Coelho, pois apesar de ter introduzido na campanha uma tonalidade popular e jocosa, nunca para mim seria uma opção, pois não tem, em minha opinião, o perfil necessário para Presidente da República. 

Mesmo como opção de protesto, ficaria sempre a dúvida a quem serviria o meu voto: se a José Manuel Coelho, combatente do “jardinismo”, se à sua “barriga de aluguer”, o PND. 

Mas também aqui fui surpreendido pois não esperava que ultrapassasse os 80 mil votos, nem que conseguisse, apesar de tudo a vitória que teve na Madeira sendo o candidato mais votado nos concelhos do Funchal, Manchico e Santa Cruz e ficando a menos de 6.000 votos de Cavaco Silva, que assim não obteve maioria na Madeira, conseguindo apenas 44,01%.

Nem Defensor de Moura que ao centrar-se no combate a Cavaco Silva, na regionalização, nos transportes e na defesa dos animais, não se deu a conhecer, nem nunca se afirmou como alternativa. 

Apesar dos seus parcos 66.092 votos, para mim foi uma agradável surpresa e cumpriu a missão a que se propôs - desmascarar Cavaco Silva e introduzir temas que considerava importantes como a regionalização -  com galhardia, combatividade e inteireza, e apesar de não lhe ter dado o meu voto, porque entendi que se lho desse, seria um voto que logo ali se esgotaria, não quero deixar de lhe agradecer com apreço ter dado a cara, pelo bem-comum.


Chegados aqui já sabem quem escolhi: Francisco Lopes, o candidato do Partido Comunista Português.

As razões são simples. Não fazendo diferença, em minha opinião, em quem votar contra Cavaco - se houvesse 2.ª volta teria tendencialmente sempre que “engolir” o “universo Alegre” (Alegre, Louça, Garcia, e já me esquecia, o Sócrates), até já tinha a caixinha de Rennie à mão, - dei o meu voto a quem no passado sempre deu provas de lutar pela democracia política, económica e social de Portugal, - demonstrem o contrário sff - que no presente o faz sem esmorecer, garantido assim com a maior certeza de que o continuará a fazer no futuro.

Não foi um voto nem com os “pés” nem com o “coração” foi antes um voto com “cabeça”. Um voto seguro e certo.

No entanto os 300 mil votos do PCP não podem ser considerados um bom resultado, demonstrando antes uma menor resiliência do seu eleitorado face ao "voto útil" e à abstenção.

1 comentário:

antonio disse...

Pois é...Bastou 24% do universo eleitoral para dar mais um mandato ao Presidente Cavaco Silva! Quem ganhou foi a apatia ou a desilusão dos portugueses com a política interna? Sutil diferença que o expressivo número de abstenções do povo portugues guarda em segredo, para deleite das arengas dos entendidos.