Condenamos todas as formas de racismo, religioso ou étnico, incluindo o anti-semitismo e a islamofobia
1. Quando se fala da perseguição aos cristãos no Médio Oriente, não se tem em conta a situação especial na Palestina. O Conselho Ecuménico das Igrejas publicou, agora, um documento elaborado pelos cristãos e teólogos palestinianos que, perante o drama do seu povo, perguntam: o que faz a comunidade internacional? Que fazem os chefes políticos na Palestina, em Israel e no mundo árabe? Que faz a Igreja? (1).
Nos limites deste espaço, o melhor é dar-lhes a palavra, porque o documento é também um convite às Igrejas: "vinde e vede", conhecer os factos e descobrir as gentes desta terra, palestinianos e israelitas. Condenamos todas as formas de racismo, religioso ou étnico, incluindo o anti-semitismo e a islamofobia. Vamos aos factos.
O muro da separação, construído em terrenos palestinianos, confisca uma parte do nosso território, transforma as cidades e as vilas em prisões, faz cantões separados e dispersos. Gaza, depois da guerra cruel desencadeada por Israel (Dez.2008-Jan.2009), continua a viver em condições desumanas sob embargo permanente e corta-a, geograficamente, do resto dos territórios palestinianos.
As colónias israelitas, ao apoderarem-se da nossa terra em nome de Deus ou da força, controlam os nossos recursos naturais, sobretudo a água e as terras agrícolas, privando delas centenas de milhares de palestinianos. Esta realidade é um obstáculo a qualquer solução política.
Para nos deslocarmos ao nosso trabalho, às escolas e aos hospitais somos, diariamente, submetidos à humilhação, nos postos de controlo militar.
A separação entre os membros da mesma família, quando um dos cônjuges não é portador de um bilhete de identidade israelita, torna a vida familiar impossível a milhares de palestinianos.
A própria liberdade religiosa, a liberdade de acesso aos lugares santos, é limitada a pretexto de segurança. Os lugares santos de Jerusalém são inacessíveis a um grande número de cristãos e muçulmanos da Cisjordânia e de Gaza. Os próprios habitantes de Jerusalém não podem aceder aos seus lugares santos, em certos dias de festa, assim como os nossos padres árabes não podem entrar em Jerusalém sem dificuldade.
Os refugiados fazem parte da nossa realidade. A maior parte deles vive ainda nos campos de refugiados em condições difíceis, inaceitáveis para seres humanos. Esperam o seu retorno há várias gerações. Qual será a sua sorte?
Milhares de pessoas detidas nas prisões israelitas também fazem parte da nossa realidade. Os israelitas removem o céu e a terra por um só dos seus prisioneiros, mas quando verão a liberdade esses milhares de prisioneiros palestinianos que permanecem indefinidamente nas prisões israelitas?
2.Jerusalém é o coração da nossa realidade. É, ao mesmo tempo, símbolo de paz e sinal de conflito. Desde que o "muro" criou a separação entre os bairros palestinianos da cidade, as autoridades israelitas não param de os esvaziar dos seus habitantes palestinianos, cristãos e muçulmanos. É-lhes retirado o bilhete de identidade, isto é, o seu direito a residir em Jerusalém. As suas casas são demolidas ou confiscadas. Jerusalém, cidade da reconciliação, tornou-se a cidade da discriminação e da exclusão e, por isso, fonte de conflito, em vez de fonte de paz.
Por outro lado, Israel despreza o direito internacional e as resoluções internacionais, contando com a impotência do mundo árabe e com a da comunidade internacional perante este desprezo. Os direitos humanos são violados, apesar dos múltiplos relatórios das organizações locais e internacionais.
(...) Face a esta realidade, os israelitas pretendem justificar os seus actos como actos de legítima defesa. (...) Do nosso ponto de vista, o contrário é que é verdade. Há uma resistência palestiniana à ocupação. Se não houvesse ocupação, não havia resistência e não haveria nem medo nem insegurança. Apelamos aos israelitas a acabar com a ocupação. Verão, então, um novo mundo, no qual não haverá nem medo nem ameaças, mas segurança, justiça e paz.
A resposta palestiniana a esta realidade revestiu numerosas formas. Uns escolheram a via das negociações: é a posição oficial da Autoridade Palestina, o que, no entanto, não fez avançar o processo de paz. Outros partidos políticos recorreram à resistência armada. Israel serviu-se disso como pretexto para acusar os palestinianos de terroristas, o que lhe permitiu alterar a verdadeira natureza do conflito, apresentando-o como uma guerra israelita contra o terrorismo e não como uma resistência palestiniana legítima à ocupação israelita.
O conflito interno entre palestinianos, assim como a separação de Gaza só agravaram a tragédia. Convém notar que, embora a divisão tenha afectado os próprios palestinianos, a responsabilidade depende muito da comunidade internacional, porque ela recusou acolher, positivamente, a vontade do povo palestiniano como ela se exprimiu nos resultados das eleições, democrática e legalmente conduzidas, em 2006.
3.(...) O Ocidente quis reparar a injustiça que tinha cometido em relação aos judeus nos países da Europa. Fê-lo à nossa custa, na nossa terra. Deste modo, reparou uma injustiça, criando outra. Mais uma vez, proclamamos que a nossa palavra cristã, no meio de qualquer tragédia, é uma palavra de fé, de esperança e de amor, sem recurso à violência.
É essa palavra que é explicitada e justificada no resto do documento que todos os peregrinos à Terra Santa deviam meditar.
(1) La Documentation Catholique, 03. 01.2010, n°24-37, pp. 33-42
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