13 janeiro, 2011

"Quebrando o silêncio!": soldados israelitas falam sobre a sua experiência nas forças de ocupação

O Cómité Palestina enviou-me esta informação que reputo de importante. Aqui fica.

NB: "Quebrando o silêncio!" referencia a organização de militares israelitas veteranos "Breaking the Silence", fundada em 2004, que tem por objectivo dar a conhecer a realidade do quotidiano nos Territórios Palestinos Ocupados por Israel, com base em testemunhos de militares.
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O dia a dia dos soldados israelitas nos territórios da Cisjordânia, contado pelos ex-soldados que decidiram quebrar o silêncio.

 

Fonte: CAPJPO-Europalestine, 5.11.2010, citando Paris Match

Granadas para meter medo
Chegamos a uma aldeia palestiniana às 3 horas da manhã e começamos a lançar granadas de "estrondo" nas ruas. Por nada, para meter medo. Vemos as pessoas a acordar esbaforidas... Dizem-nos que isso afugenta os eventuais terroristas. Tretas... Fazíamos isso todas as noites, rotativamente. Rotina. Diziam-nos 'boa operação'. Não percebíamos porquê.”

Roubar um hospital
Uma noite, recebemos ordem para entrar numa clínica de Hebron que pertence ao Hamas. Confiscámos o equipamento: computadores, telefones, impressoras, outras coisas, num valor de milhares de shekels. O motivo? Atingir o Hamas na carteira, pouco antes das eleições do parlamento palestiniano, para que ele perdesse. O governo israelita tinha anunciado oficialmente que não iria tentar influenciar essas eleições.”

Matámos um homem por pura ignorância”
Não sabíamos que durante o Ramadão os fiéis vão para a rua às 4 horas da manhã com tambores para acordar as pessoas, para que elas comam antes do nascer do sol. Identificamos um gajo numa avenida que leva uma coisa, gritamos-lhe 'stop!'. Se o 'suspeito' não pára imediatamente, o procedimento exige intimações. 'Pare ou atiro', depois atiramos para o ar, depois para as pernas, etc. Na verdade, esta regra nunca é aplicada. Matamo-lo, ponto final. E por pura ignorância dos ritos locais.”

Camponeses em lágrimas
As nossas escavadoras montam uma barreira de separação em pleno campo palestiniano de figueiras. O camponês chega, a chorar: 'plantei este pomar durante dez anos, esperei dez anos para que desse frutos, gozei dele durante um ano e agora eles arrancam-no!' Não há solução de replantação. Só há compensações a partir de 41% de terra confiscada. Se for 40%, não tens nada. O pior é que talvez amanhã eles vão decidir a construção da barreira.”

Devolver os galões, voltar a ser soldado
Instalamos check-points surpresa. Em qualquer lado, nunca é claro. E de repente detemos toda a gente, controlamos as suas licenças. Detemos inocentes, pessoas que querem ir trabalhar, procurar alimentos, não terroristas... Tive de fazer isto durante cinco meses, oito horas por dia; deu cabo de mim. Então, decidi devolver os meus galões de comandante.”

A nossa missão: incomodar, assediar”
Estamos em Hebron. Como os terroristas são residentes locais e a nossa missão é entravar a actividade terrorista, a via operacional é esquadrinhar a cidade, entrar em casas abandonadas ou em casas habitadas escolhidas ao acaso – não há um serviço de informações que nos oriente -, inspeccioná-las, saqueá-las ... e não encontrar nada. Nem armas, nem terroristas. Os habitantes acabaram por se habituar, pois isto acontece há anos. Fazer sofrer a população civil, dar-lhe cabo da vida, e saber que isso não serve para nada. Isto provoca um sentimento de inutilidade"

Os castigos colectivos
Os meus actos mais imorais? Fazer explodir casas de suspeitos terroristas, prender centenas de pessoas em massa, olhos vendados, pés e mãos atados, levá-los em camiões; entrar em casas, despejar brutalmente as famílias; às vezes voltávamos para fazer explodir a casa; nunca sabíamos porquê tal casa nem que suspeitos prender. Às vezes era-nos dada ordem de destruir com bulldozer ou com explosivos a entrada da aldeia, como castigo colectivo por terem sido albergados terroristas.”

Proteger colonos agressivos
Chegamos ao distrito de Naplus para garantir a segurança dos colonos. Descobrimos que eles decidiram atacar Huwara, a aldeia vizinha, palestiniana. Eles estão armados, atiram pedras, apoiados nessa acção por um grupo de judeus ortodoxos franceses que filmam, tiram fotos. Resultado: vemo-nos entre árabes surpreendidos, aterrorizados, e a nossa obrigação de proteger os colonos. Um oficial tenta fazer recuar os colonos para as suas terras; recebe pancada, há tiros e ele desiste. Não sabemos o que fazer: retê-los, proteger os palestinianos, proteger-nos. Uma cena absurda e louca. Acabamos por conseguir com que os agressores voltem para as suas casas. Uma dezena de árabes ficam feridos.”

Assassinar um homem sem armas
Estamos instalados numa casa que despejámos dos seus ocupantes, suspeitamos da presença de terroristas, vigiamos, são 2 horas da manhã. Um dos nossos atiradores de elite identifica um tipo a andar em cima de um telhado. Eu observo-o com os binóculos, ele tem cerca de 25, 26 anos, não está armado. Informamos por rádio o comandante que nos ordena: 'É um espião. Abatam-no'. O atirador obedece. Eu chamo a isso um assassinato. Nós tínhamos os meios de o prender. E isto não é um caso único, são dezenas deles.”
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Os militares israelitas que servem nos Territórios Ocupados testemunham e participam em acções militares que os alteram imensamente. Casos de abuso contra os palestinos, saques e destruição de propriedade tem sido a norma por anos, mas ainda são explicados como casos extremos e únicos.  

Os seus testemunhos desenham um retrato diferente e muito mais sombrio em que a deterioração dos padrões morais encontra a sua expressão no carácter das ordens e das regras de combate, e são justificados em nome da segurança. 

Enquanto essa realidade é conhecida por soldados israelitas e seus comandantes, a sociedade israelita continua a fechar os olhos e a negar o que acontece em seu nome. 

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