Os piratas somalis estão sem dúvida no top ten dos inimigos de estimação dos tempos que correm, tema inesgotável para ameaças e práticas de guerra, pragas da comunicação social industrializada e globalizada, ecos revoltados na opinião pública domesticada pela superficialidade dos temas e a abolição do sentido crítico dos factos oficialmente proclamados.
O realizador espanhol Juan Falque decidiu ir mais longe na investigação dos factos, imune a pressões censórias, alheio a modismos, vacinado contra uma das piores epidemias do jornalismo, o preconceito. Num pequeno filme de 23 minutos (http://dotsub.com/view/8446e7d0-e5b4-496a-a6d2-38767e3b520a) faculta-nos objectivamente os factos da história da pirataria no Corno de África e apresenta-nos todo o tipo de piratas envolvidos, entre os quais os somalis estão, provavelmente, em minoria.
Ora desde o início dos anos noventa poderosas frotas pesqueiras norte-americanas, asiáticas e de países da União Europeia decidiram aproveitar a ausência de poder na Somália para se apropriarem dos recursos pesqueiros somalis, mesmo no interior das águas territoriais no país, depredando o maior recurso económico e de proteínas de um povo onde campeia a fome e a desnutrição. Mais de 800 barcos dos países mais poderosos do mundo saqueiam sem critério as águas somalis utilizando artes de pesca ilegais na maior parte do planeta, arrancando do mar anualmente recursos com valor superior a 400 milhões de euros. Só Espanha e França retiram das águas somalis mais de 500 mil toneladas de atum por ano, procurando compensar a razia que, década após década, foram fazendo nas suas próprias águas.
Então não há piratas somalis? Claro que há. Mas a história que chega até nós pelos canais que fazem circular o grosso da informação é mais complexa de que um conto dividido entre os bons e os maus. Os militares, os políticos e a comunicação social mentem sobre o assunto? Talvez não; porém, omitem e simplificam, só revelam a parte da história que lhes interessa.
O realizador espanhol Juan Falque decidiu ir mais longe na investigação dos factos, imune a pressões censórias, alheio a modismos, vacinado contra uma das piores epidemias do jornalismo, o preconceito. Num pequeno filme de 23 minutos (http://dotsub.com/view/8446e7d0-e5b4-496a-a6d2-38767e3b520a) faculta-nos objectivamente os factos da história da pirataria no Corno de África e apresenta-nos todo o tipo de piratas envolvidos, entre os quais os somalis estão, provavelmente, em minoria.
A Somália é um país onde reina o caos desde o início dos anos noventa, quando foi derrubada a ditadura pró-americana de Siad Barre, substituída por uma guerra civil que ainda não terminou. Há um frágil governo que age apenas na capital e o resto do país é o palco de uma guerra de clãs fortemente armados.
Ora desde o início dos anos noventa poderosas frotas pesqueiras norte-americanas, asiáticas e de países da União Europeia decidiram aproveitar a ausência de poder na Somália para se apropriarem dos recursos pesqueiros somalis, mesmo no interior das águas territoriais no país, depredando o maior recurso económico e de proteínas de um povo onde campeia a fome e a desnutrição. Mais de 800 barcos dos países mais poderosos do mundo saqueiam sem critério as águas somalis utilizando artes de pesca ilegais na maior parte do planeta, arrancando do mar anualmente recursos com valor superior a 400 milhões de euros. Só Espanha e França retiram das águas somalis mais de 500 mil toneladas de atum por ano, procurando compensar a razia que, década após década, foram fazendo nas suas próprias águas.
Acresce que também desde o início da guerra civil somali barcos de todo o mundo têm despejado toneladas de barris, de início com misteriosos conteúdos, servindo-se das águas territoriais da Somália como vazadouro de lixo. O tsunami de 2004 arrastou muitos desses barris para as praias, abriu alguns deles e permitiu a identificação dos tenebrosos conteúdos: resíduos radioactivos de urânio, detritos industriais, metais pesados letais como mercúrio e cádmio, dejectos hospitalares. A descoberta confirmou, no fim de contas, a existência de uma contaminação criminosa de que já se suspeitava. Mortes repentinas e em massa, infecções respiratórias e intestinais, malformações nos recém-nascidos prenunciavam naquele lixo a presença de autênticos venenos, que aliás são despejados em águas de outros países como a Costa do Marfim, Benim, Congo e Nigéria. No ano de 2011 foram vertidas 600 mil toneladas de resíduos tóxicos em África.
As populações somalis tentaram reagir ao saque. Pescadores organizaram-se em “Guarda Costas Voluntários da Somália”, transformando os seus barcos de pesca em meios de dissuasão contra a pirataria estrangeira. Grupos armados dos clãs somalis rapidamente se lhes associaram e, oportunisticamente, viram na actividade a possibilidade de obterem receitas através de resgates, transformando o espírito defensivo em pirataria. A NATO e sucursais montaram então a Operação Atalanta para evitarem que a reacção somali perturbasse a utilização livre e desenfreada das águas da Somália por barcos de países ocidentais.
O saque e degradação das águas da Somália transformou-se assim numa guerra entre piratas ou, se preferirem, entre piratas e corsários, respeitando neste caso a definição dos que exercem a pirataria com mandato de Estados ou nações. A população somali, entretanto, afunda-se cada vez mais no caos, na fome, na miséria, nas epidemias, e na degradação do ambiente em que luta para sobreviver.
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