Notícia do Público assinada por Ana Fonseca Pereira.
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Salienta-se a perspectiva de acordo entre o Hamas e a Fatah; o papel do Egipto nesta reconciliação; a posição desesperada de Israel; a continuação do "frete" da Administração Obama à posição indefensável de Israel, tendo por base a retórica estafada de o Hamas ser "uma organização terrorista que visa civis"
Entendimento mediado pelo Egipto prevê governo interino e eleições. Netanyahu avisa que paz com Hamas afasta paz com Israel.
Quase quatro anos depois da guerra que colocou palestinianos contra palestinianos nas ruas de Gaza, Hamas e Fatah chegaram ontem, sem que ninguém o esperasse, a um acordo de reconciliação. Sob mediação do novo regime egípcio, os dois movimentos decidiram formar um governo interino que terá como missão organizar eleições gerais ainda neste ano.
O acordo - essencial para qualquer iniciativa destinada à criação de um Estado palestiniano - surge num momento em que ambos os movimentos estão sob pressão: a suspensão das negociações com Israel deixou a Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, mais isolada; a revolta contra o regime sírio ameaça fragilizar o Hamas, forçando o movimento islamista a procurar outras alianças. Mas é sobretudo a revolução no Egipto que é vista como o principal catalisador do acordo, já que "a nova administração decidiu adoptar uma posição mais equilibrada", rompendo com a maior proximidade de Hosni Mubarak à Fatah, [e acrescentaria, com o ditakt israelo-americano] disse à Reuters o analista Hany al-Masri, comentador político sediado em Ramallah.
As negociações "resultaram num entendimento completo sobre todos os pontos em discussão, incluindo a formação de um governo interino com tarefas específicas e a marcação de eleições" presidenciais e legislativas, adiantou um comunicado dos serviços secretos egípcios, que mediaram as negociações, realizadas em segredo.
Quase quatro anos depois da guerra que colocou palestinianos contra palestinianos nas ruas de Gaza, Hamas e Fatah chegaram ontem, sem que ninguém o esperasse, a um acordo de reconciliação. Sob mediação do novo regime egípcio, os dois movimentos decidiram formar um governo interino que terá como missão organizar eleições gerais ainda neste ano.
O acordo - essencial para qualquer iniciativa destinada à criação de um Estado palestiniano - surge num momento em que ambos os movimentos estão sob pressão: a suspensão das negociações com Israel deixou a Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, mais isolada; a revolta contra o regime sírio ameaça fragilizar o Hamas, forçando o movimento islamista a procurar outras alianças. Mas é sobretudo a revolução no Egipto que é vista como o principal catalisador do acordo, já que "a nova administração decidiu adoptar uma posição mais equilibrada", rompendo com a maior proximidade de Hosni Mubarak à Fatah, [e acrescentaria, com o ditakt israelo-americano] disse à Reuters o analista Hany al-Masri, comentador político sediado em Ramallah.
As negociações "resultaram num entendimento completo sobre todos os pontos em discussão, incluindo a formação de um governo interino com tarefas específicas e a marcação de eleições" presidenciais e legislativas, adiantou um comunicado dos serviços secretos egípcios, que mediaram as negociações, realizadas em segredo.
O chefe da delegação enviada por Abbas ao Cairo, Azzam al-Ahmad, disse à AFP que o novo executivo "será composto por figuras independentes" e que os palestinianos serão chamados às urnas "dentro de oito meses". À televisão Al-Jazira um representante do Hamas explicou que o acordo prevê ainda a libertação de presos de ambos os movimentos e a "conjugação" das respectivas forças de segurança.
O entendimento deve ser carimbado na próxima semana numa cerimónia oficial, para a qual foram convidadas todas as facções e que, adiantou a Reuters, deve contar com Abbas e Khaled Meshal, o líder político do Hamas, exilado em Damasco.
O entendimento deve ser carimbado na próxima semana numa cerimónia oficial, para a qual foram convidadas todas as facções e que, adiantou a Reuters, deve contar com Abbas e Khaled Meshal, o líder político do Hamas, exilado em Damasco.
A concretizar-se, o acordo põe fim a quatro anos de cisma entre a Cisjordânia, controlada pela Fatah, e Gaza, tutelada pelo Hamas, desde que, em Julho de 2007, o governo que unia as duas facções caiu [De facto o Hamas ganhou a maioria nas eleições parlamentares de 25 de Janeiro de 2006, de forma democrática, - como estabeleceram, na altura, os observadores internacionais; Ismail Haniyeh foi nomeado primeiro-ministro em 16 de Fevereiro 2006 e demitido em 14 de Junho de 2007 por Mahmoud Abbas, com o respaldo dos EUA e da UE que, desde o primeiro momento, optaram por uma política de boicote e sanções económicas, a este governo. Acresce dizer que, se o presidente da Autoridade Nacional Palestina, tem o poder constitucional de demitir um qualquer primeiro-ministro, não pode nomear um outro sem a aprovação do Conselho Legislativo Palestino, o que não aconteceu quando nomeou o seu correligionário Salam Fayyad, pervertendo assim a legalidade constitucional e democrática.] e as milícias islamistas [leia-se o Hamas] tomaram pela força o poder naquela estreita faixa de território. [Há que ter em conta que esta "tomada de poder" foi a resposta a uma tentativa da Fatah, com o apoio dos EUA e de Israel, de esmagar o Hamas em Gaza (ver artigo do Público intitulado "EUA patrocinaram tentativas da Fatah para derrubar Governo do Hamas" de 2008.03.04).]
As tentativas de reconciliação feitas desde então esbarraram nas exigências de um e de outro movimento, mas o cenário alterou-se depois de, em Setembro, Abbas ter rompido os contactos com Israel face à recusa do Governo de Benjamin Netanyahu em suspender a colonização. Desde então, Abbas tenta conseguir o reconhecimento internacional, com ou sem acordo de paz, do Estado palestiniano segundo as fronteiras de 1967, uma iniciativa que desembocará numa votação, em Setembro, na Assembleia Geral das Nações Unidas. Um esforço que, admitiam os próprios palestinianos, estaria condenado ao fracasso sem um acordo de reconciliação.
As tentativas de reconciliação feitas desde então esbarraram nas exigências de um e de outro movimento, mas o cenário alterou-se depois de, em Setembro, Abbas ter rompido os contactos com Israel face à recusa do Governo de Benjamin Netanyahu em suspender a colonização. Desde então, Abbas tenta conseguir o reconhecimento internacional, com ou sem acordo de paz, do Estado palestiniano segundo as fronteiras de 1967, uma iniciativa que desembocará numa votação, em Setembro, na Assembleia Geral das Nações Unidas. Um esforço que, admitiam os próprios palestinianos, estaria condenado ao fracasso sem um acordo de reconciliação.
Mas mesmo depois do entendimento, os analistas mostram-se cautelosos, alertando para os obstáculos que se colocam à sua concretização, a começar pela tarefa quase impossível de unificar sob um mesmo comando as forças do Hamas e da Fatah.
E apesar de ser pouco provável a participação de dirigentes do Hamas no novo governo (a fim de evitar o bloqueio externo após a vitória dos islamistas nas legislativas de 2006), é incerta a reacção internacional a este executivo - ontem a Casa Branca disse estar ainda a estudar o acordo, mas recordou que o Hamas "é uma organização terrorista que visa civis". Quem não tem dúvidas sobre este acordo é Netanyahu, que ontem deixou um claro aviso a Abbas: "A Autoridade Palestiniana tem de escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas. A paz com os dois é impossível."
E apesar de ser pouco provável a participação de dirigentes do Hamas no novo governo (a fim de evitar o bloqueio externo após a vitória dos islamistas nas legislativas de 2006), é incerta a reacção internacional a este executivo - ontem a Casa Branca disse estar ainda a estudar o acordo, mas recordou que o Hamas "é uma organização terrorista que visa civis". Quem não tem dúvidas sobre este acordo é Netanyahu, que ontem deixou um claro aviso a Abbas: "A Autoridade Palestiniana tem de escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas. A paz com os dois é impossível."
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