Este foi o editorial do Haaretz de domingo passado. Escolhi publicá-lo porque entendo que ele nos ajuda a compreender as forças presentes na sociedade israelita e as tensões que nela existem.
Não haverá paz se a sociedade israelita não a entender como um bem supremo e não fizer dela uma opção clara.
Este editorial é o reflexo de uma sociedade com valores positivos mas onde o fundamentalismo religioso e o ultra "nacional"-sionismo detém lugares dominantes e determinantes. Veja-se a sua representação no Knesset e na aliança governamental Netanyahu-Lieberman e a sua cada vez maior preponderância nos lugares de chefia das Forças Armadas israelitas.
São essas forças - onde até está representado um partido denominado de "Trabalhista", filiado na "Internacional Socialista"e que tem como líder um criminoso de guerra chamado Ehud Barak, - que suportam o racismo e o apartheid, a opressão e a violência repressiva.
São essas forças que o Haaretz corajosamente denuncia.
Rabis estão explorando medos e exaltando emoções sob o pretexto de fazer cumprir a lei religiosa judaica (Halakha).
Uma carta foi distribuída, por três rabis, no sul de Telavive em que eles apelavam aos residentes para que não alugassem os seus apartamentos para migrantes e refugiados que tentam instalar-se na cidade com a pretensa preocupação com o bem-estar dos moradores e compaixão para com os requerentes de asilo. Mas dificilmente consegue esconder o racismo flagrante escondido nas entrelinhas.
Os rabis alertam os moradores para não darem acesso às suas casas a "trabalhadores ilegais", mas é claro que a manutenção da lei não é a sua preocupação, na medida em que não estão exigindo um tratamento semelhante para os cidadãos israelitas.
Quanto ao argumento de que a presença dos estrangeiros está causando um aumento da criminalidade e de casamentos interculturais, os rabis estão mesmo tomando a lei nas suas próprias mãos e ignorando as autoridades civis e a polícia.
Os grupos mais desfavorecidos da população que vivem no sul de Telavive encontram-se pressionados para receberem refugiados, trabalhadores migrantes e colaboradores.
Esta situação cria atrito preocupante que agrava a sensação dos moradores de um tratamento injusto e de alienação.
É difícil pedir aos habitantes desses bairros desfavorecidos que recebam os párias do mundo com os braços abertos, sem se sentirem ameaçados. Nesta realidade complexa, o papel dos líderes religiosos e civis é tentar colmatar as falhas e encontrar maneiras criativas de convivência.
Os rabis que assinaram a carta não são funcionários públicos. No entanto, o público é muito influenciado pelas suas opiniões.
O município de Telavive fez mais do que um pequeno esforço para cuidar dos trabalhadores migrantes e poderia ter usado a ajuda dos rabis nos contactos com os migrantes e os seus líderes, para tentar integrar os recém-chegados na vizinhança, como têm sido feito em muitos outros países.
Os rabis, no entanto, preferem explorar o medo dos moradores e inflamar emoções em nome da halakha, a lei religiosa judaica.
No fim-de-semana, um corajoso líder, o rabi Yehuda Hamutal, que fundou o movimento político Meimad, faleceu.
O seu partido, transportou o estandarte da tolerância, do humanismo e da busca da paz em nome da fé religiosa e, embora os membros do seu movimento tenham sido sempre uma minoria, forneceu uma alternativa importante à radicalização dos nacionalistas ultra-ortodoxos.
Nos últimos anos, os alunos e seguidores do rabi Hamutal caíram no silêncio, e o estatuto de rabis, como estes que escreveram a carta sobre os migrantes, tornou-se mais forte.
Espera-se que o município entenda o dano que estes rabis estão fazendo e publicamente desassocie a cidade das suas questionáveis actividades e, em vez disso, ofereça a opção de uma alternativa, de convivência para todos os moradores da cidade - tanto temporários como permanentes - uma coexistência livre do medo e do racismo.
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