25 julho, 2010

Irão-Israel: Dois pesos e duas medidas

Actualizado a 27 de Julho de 2010

Hoje o Público informa que "União Europeia aprova novas sanções contra o Irão " ... "devido ao seu controverso programa nuclear."

Será que a UE vai sancionar as nações que detêm MESMO armas nucleares e que já ameaçaram usá-las, como o Paquistão e a Índia? Ou agravar as sanções à Coreia do Norte?

Ou sancionar Israel que detendo armamento nuclear, tem demonstrado total desrespeito pelos direitos humanos e humanitários e o direito internacional?

Isto para não referir os "intocáveis" - China, EUA, França, Reino Unido e Rússia - e os "fiéis depositários" da NATO (aquele tipo de aliança "defensiva" que já devia ter terminado), como a Alemanha, a Bélgica, a Holanda, a Itália e ... a Turquia. 

Duvido.

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O editorial do Público de hoje (25 de Julho) "A retórica nuclear a dois andamentos" (http://jornal.publico.pt/noticia/25-07-2010/a-retorica-nuclear-a-dois-andamentos-19898137.htm), observa:

"O Irão projecta um reactor nuclear e o mundo agita-se. A Coreia do Norte ameaça com uma bomba e ninguém liga"

Um editorial interessante que eu recomendo.

Para mim a dualidade abissal de critérios tem a seguinte justificação:

Enquanto a Coreia do Norte está na zona de influência da China e por mais ténue que pareçam os apoios, a China não permitiria que os EUA se atrevessem a alterar o "status quo".

O Irão encontra-se na zona de influência da antiga URSS. Hoje, a sua sucessora, a Federação Russa, está enfraquecida, e mais desejosa de ter acesso às tecnologias americanas do que em defender activamente a sua suposta "zona de influência". Veja-se a sua posição na última decisão do Conselho de Segurança que aprovou um novo pacote de sanções contra o Irão.

O Irão é um espinho cravado no pueril "orgulho/arrogância" americano, desde 1979, quando os funcionários da sua embaixada foram feitos reféns por estudantes iranianos e as tentativas de resgate terminaram em desastre. E por ser um "mau exemplo" de independência para o mundo face ao "império".

Para além do mais o Irão é "apetecido" quer pelas suas importantes reservas de petróleo, quer pelo seu posicionamento geográfico em geral, quer pela posição que detém de fácil controlo sobre o Golfo Pérsico, nomeadamente no tocante ao Estreito de Ormuz, o que só por si, em meu entendimento, torna a bomba nuclear dispensável, para o Irão.

De facto, com a possibilidade de fechar o Estreito de Ormuz, pelo menos durante algum tempo, bastando para isso afundar alguns navios em pontos estratégicos, o Irão, de facto, não precisa de bombas nucleares, para manter os “interesses ocidentais” – leia-se EUA, “capangas”, alienados e "capachos" – sob ameaça.

O que acontece com o Irão é simplesmente vergonhoso.

Podemos não gostar do regime iraniano em si – para mim está nas antípodas do que eu defendo;

Podemos clamar contra a inobservância de valores que defendemos, nomeadamente no tocante aos direitos humanos – mas certas potências e organizações não tem moral para atacar o Irão nesse plano, nomeadamente, quando os desrespeitam em sua própria casa e quando apoiam, quer à descarada, quer de forma indirecta, estados párias, que também os desrespeitam;

Podemos entender que alguns dos discursos do Senhor Mahmoud Ahmadinejad são anti-semitas – eu aqui fico sempre na dúvida, porque sendo ele um homem inteligente, não sei se é por populismo para uso interno que os profere ou se nessas ocasiões é um “agente adormecido” da Mossad que “acorda” a servir os interesses da clique “nacional"-sionista que governa Israel... mas que dizer dos discursos anti-iranianos de dirigentes americanos, europeus, e dos "nacionais"-sionistas israelitas?

Podemos entender as suas ameaças contra Israel como um "crime de ódio e de incitamento"... mas como poderemos classificar as declarações da Senhora Hillary Clinton, actual Secretária de Estado da Administração Obama, quando em campanha eleitoral, a 21 de Abril de 2008, declarou, referindo-se ao Irão, e no contexto de um possível futuro ataque nuclear deste a Israel "... we totally obliterate them", traduzindo, "...nós extinguíamo-los totalmente". TOTALMENTE!
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O certo é que mais de dois anos passados… da bomba nuclear iraniana nem vê-la e as sanções entretanto agravaram-se e a retórica "imperial" subiu de tom.

De facto sanciona-se o Irão por querer desenvolver energia nuclear para fins pacíficos, no pressuposto de que, o que pretende é construir armas nucleares, mas cala-se o poderio nuclear israelita - a única potência nuclear de facto da região - fornecido pelos EUA, e até as comprovadas tentativas de vender esses “produtos” a outros Estados, como já foi provado, no tocante à África do Sul, quando ainda vigorava o regime do apartheid

O que continua por provar é que o Irão tenha por objectivo construir uma bomba nuclear.

Mas sanciona-se o Irão... porque a questão não é o nuclear mas antes o Irão em si.

Destruído o Iraque resta o Irão como potência regional. O que não é bom para os americanos e pouco simpático para os Russos. E a Turquia tem-se salvo porque tem sido uma aliada na NATO e de certa forma subserviente para com os interesses do "império".

A prova provada é a recusa liminar de uma solução que permitiria abrir caminho para o controlo do enriquecimento do urânio, construída pelo Brasil e pela Turquia e acordada com o Irão. Porquê?

Porque a solução não foi gizada pelo "império", apesar de estar de acordo com os princípios basilares pelos seus representantes enunciados uns tempos antes?

Não! Porque a Paz na região não interessa ao "império" e aos interesses "nacional"-sionistas que de certa forma o influenciam.

Entretanto, se de Ahmadinejad se refuta o discurso anti-semita – e bem – nada se diz do discurso dos governantes de Israel, cada vez mais arabofobo, xenófobo, racista e eugenista, nem das medidas concretas de descriminação e de apartheid que de forma opressiva, repressiva e violenta está a tentar impor à sociedade israelita e desde há muito é política seguida nos territórios ocupados da Palestina.

E pouco se fala da ocupação colonial da Palestina; nem do maior campo de concentração a céu aberto: a Faixa de Gaza; nem dos crimes que quotidianamente ocorrem contra os palestinos. E nada se resolve|

Dois pesos e duas medidas ou parafraseando a velha máxima tão americana: "Sim Israel comete crimes contra o direito internacional, contra o direito humanitário, contra os direitos do homem, mas é dos nossos".

(O Presidente Franklin D. Roosevelt (FDR) supostamente declarou em 1939: "Somoza may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch.")

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