23 julho, 2010

A hierarquia da Igreja Católica apoiou Pinochet e seus verdugos. Padres de base fuzilados, presos e torturados


Segundo o Público a Conferência Episcopal chilena enviou uma carta [intitulada "Chile, uma mesa para todos durante o Bicentenário"] ao Presidente Sebastián Piñera pedindo-lhe "misericórdia" para os encarcerados por violações dos direitos humanos, como forma de comemorar o bicentenário da independência. O pedido está a gerar grande polémica, porque menciona explicitamente os militares condenados por crimes cometidos durante a ditadura de Pinochet.

De acordo com o "Último segundo":

"O presidente da Conferência Episcopal do Chile, Alejandro Goic, e outras autoridades eclesiais se reuniram com Piñera para pedir clemência aos réus, o que atraiu críticas de vários setores. "Achamos que podem ser dados passos de clemência atuando no marco do estado de direito, do ordenamento constitucional e dos tratados internacionais vigentes", disse Goic ao apresentar o documento."

Durante a ditadura, cerca de 3 mil pessoas morreram por razões políticas - 5 deles, pelo menos, eram sacerdotes católicos de comunidades de base -  e 28 mil sofreram prisão tortura, incluindo a ex-presidente Michelle Bachelet e entre outros, o Padre Peppo (José Gutiérrez), hoje colocado na paróquia de La Matriz, em Valparaíso.

O Presidente Sebastián Piñera, um dos homens mais ricos do país, tomou posse no início deste ano, a 17 de Janeiro, e é o primeiro presidente de direita a governar o Chile desde o fim do regime ditaturial de Pinochet (1990).

A sua família está ligada ao regime de Pinochet. O seu irmão, Jose Piñera, foi ministro do Trabalho e da Segurança Social (1978–1980), e depois Ministro das Minas (1980–1981).

Já ontem houve protestos em Santiago diante do Palácio de La Moneda, sede do governo.

"Estamos aqui para dizer ao Governo e à Igreja que há um país e há familiares que não estão dispostos a flexibilizar o respeito pelos direitos humanos por causa de acordos que se fazem às escondidas, contra a democracia e contra a vida", protestou Lorena Pizarro, presidente do Agrupamento de Familiares de Detidos e Desaparecidos.

Além da hierarquia da Igreja Católica, no Chile, ter, na sua esmagadora maioria, apoiado Pinochet, o próprio papa João Paulo II, na sua visita ao Chile em 1987,  ministrou-lhe a eucaristia e apareceu à varanda do Palácio La Moneda com o torcionário para saudar os devotos. Mais tarde intercedeu pela libertação de Pinochet quando foi detido em Londres, por crimes contra a humanidade, por ordem do juiz Baltasar Garzon, pedindo a sua libertação, tendo o Vaticano alegado que os crimes foram cometidos quando gozava da imunidade de Chefe de Estado.

Mas também será justo esclarecer que o cardeal Raúl Silva Henríquez durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990) assumiu a defesa dos direitos humanos desrespeitados. Criou o Vicariato da Solidariedade e desde aí impulsionou um trabalho de serviço que salvou milhares de vidas e deu protecção aos perseguidos, sem perguntar qual era sua opção política ou religiosa.

O teólogo leigo Luis Cárdenas, Presidente da Corporação Paz e Justiça, SERPAJ Chile, declarou à ADITAL que hoje em dia, vivemos "o avanço e o domínio de uma igreja anti-conciliar. Isso se nota no aumento progressivo, que causa inquietação, de uma maioria de bispos Opus Dei e de conservadores no Chile", que "têm feito de tudo para anular os processos de renovação que caracterizam a igreja de João XXIII.


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