11 julho, 2010

Entre a memória e o sonho por Frei Bento Domingues O.P.

Público - Entre a memória e o sonho por Frei Bento Domingues O.P.

Uma das melhores memórias que eu guardo dos meus tempos de católico e de adolescente (16 anos), foi do bom Papa João XXIII e dos momentos de entusiasmo na preparação do Concílio Vaticano II (inaugurado a 11 de Outubro de 1962).

Era a esperança que se iriam abrir novos e mais luminosos caminhos, onde os dogmas desabassem perante a razão e assim saíssem reforçados a partilha dos valores da bondade, da compaixão, da justiça, da dignidade humana, do amor e do bem comum.

Depois da morte de João XXIII (3 de Junho de 1963), recobraram as forças anti-conciliares, e se alguma coisa mudou, foi para quase tudo ficar na mesma.

Talvez fosse bom, nestes tempos conturbados, que os católicos - e não só - recuperassem a leitura da encíclica Mater et Magistra datada de 15 de Maio de 1961 e que aproveitassem para preparem,nos seus 50 anos (2011), um debate profundo sobre a sua "doutrina social".

Memórias de dias felizes, em que a esperança era tão forte que tudo nos parecia possível.

Esperança essa sempre renovada, noutros contextos e sempre traída, Desiludida.

Hoje, mais maduro, a esperança já não me anima. Antes a certeza de que só através da luta, persistente e quotidiana, feita às vezes de pequenos nadas, nos conduzirá pelo caminho pedregoso e acidentado do progresso da condição humana, da razão e da justiça.

Mas voltemos ao que aqui nos trouxe. Às palavras de Frei Bento Domingues e à sua citação de Emilio Garcia Estébanez:
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"Para muitos, as referidas e meritórias audiências catequéticas não conseguem fazer esquecer que, nos anos 80 do século passado, o cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, desautorizou as tendências mais inovadoras da teologia pós-conciliar, provocando um grande vazio no pensamento católico."

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"A hierarquia católica continua a sustentar posições em nome da fé e da moral, sobretudo em alguns âmbitos já muito denunciados, que uma ética racional do discurso exigiria a sua urgente revisão. Não se pode invocar a razão e, depois, não ligar às suas exigências, como escreveu o filósofo Emilio Garcia Estébanez, que conhecia muito bem a teologia e a sua história (2).

E indispensável olhar para o passado e para o futuro, mas as urgências do presente não se resolvem só com memória e sonho."

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"(2) La ética del discurso y la moralización del discurso teológico, in Estudios Filosóficos, 139 (1999) 413-460"

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