Richard Tillinghast é um poeta americano que vive em Co Tipperary, na Irlanda, autor de oito livros de poesia, o último dos quais tem o título de "Selected Poems" (Dedalus Press, 2010), bem como de várias obras de não-ficção.
Uma das suas poesias "What is not allowed", ontem publicada no The Irish Times, é sobre Gaza. Nela escramenta e escarmece do opressor, desmascarando o Bloqueio como uma ferramenta para aniqilar e subjugar a vontade de um Povo e os efeitos devastadores no seu quotidiano, potenciados pela destruição e horror provocados pela agressão "Cast Lead".
Transcrevo o original e de seguida apresento a respectiva tradução.
"What is not allowed" by Richard Tillinghast
No tinned meat is allowed, no tomato paste,
no clothing, no shoes, no notebooks.
These will be stored in our warehouses at Kerem Shalom
until further notice.
Bananas, apples, and persimmons are allowed into Gaza,
peaches and dates, and now macaroni
(after the American Senator’s visit).
These are vital for daily sustenance.
But no apricots, no plums, no grapes, no avocados, no jam.
These are luxuries and are not allowed.
Paper for textbooks is not allowed.
The terrorists could use it to print seditious material.
And why do you need textbooks
now that your schools are rubble?
No steel is allowed, no building supplies, no plastic pipe.
These the terrorists could use to launch rockets
against us.
Pumpkins and carrots you may have, but no delicacies,
no cherries, no pomegranates, no watermelon, no onions,
no chocolate.
We have a list of three dozen items that are allowed,
but we are not obliged to disclose its contents.
This is the decision arrived at
by Colonel Levi, Colonel Rosenzweig, and Colonel Segal.
Our motto:
‘No prosperity, no development, no humanitarian crisis.’
You may fish in the Mediterranean,
but only as far as three km from shore.
Beyond that and we open fire.
It is a great pity the waters are polluted
twenty million gallons of raw sewage dumped into the sea every day
is the figure given.
Our rockets struck the sewage treatments plants,
and at this point spare parts to repair them are not allowed.
As long as Hamas threatens us,
no cement is allowed, no glass, no medical equipment.
We are watching you from our pilotless drones
as you cook your sparse meals over open fires
and bed down
in the ruins of houses destroyed by tank shells.
And if your children can’t sleep,
missing the ones who were killed in our incursion,
or cry out in the night, or wet their beds
in your makeshift refugee tents,
or scream, feeling pain in their amputated limbs –
that’s the price you pay for harbouring terrorists.
God gave us this land.
A land without a people for a people without a land.
"O que não é permitido" de Richard Tillinghast
(NB: Esta é uma tradução não profissional. Agradeço sugestões de melhoria)
Não é permitido carne enlatada, nem pasta de tomate,
nem roupas, nem sapatos, nem notebooks.
Estes itens serão armazenados nos nossos armazéns em Kerem Shalom
até novo aviso.
Bananas, maçãs, dióspiros podem entrar em Gaza,
e pêssegos e tâmaras, e agora macarrão
(após a visita do senador americano).
São vitais para o sustento diário.
Mas damascos não, ameixas não, uvas não, abacates não, compotas não.
São luxos e não são permitidos.
Papel para livros didácticos não é permitido.
Os terroristas poderiam usa-lo para imprimir material sedicioso.
E porquê que precisam de livros
agora que as vossas escolas são entulho?
Nenhum aço é permitido, nem materiais de construção, nem tubo de plástico.
Os terroristas poderiam usa-los para lançarem foguetes
contra nós.
Abóboras e cenouras podem ter, mas não iguarias,
cerejas não, romãs não, melancia não, cebolas não,
chocolate não.
Temos uma lista de três dezenas de itens que são permitidos,
mas não somos obrigados a revelar o seu conteúdo.
Esta é a decisão a que chegaram
o coronel Levi, o coronel Rosenzweig e o coronel Segal.
O nosso lema:
"Não à prosperidade, não ao desenvolvimento, nenhuma crise humanitária".
Podem pescar no Mediterrâneo,
mas apenas até trés quilómetros da costa.
Para além disso abrimos fogo.
É uma pena as águas estarem poluídas
cinquenta* milhões de litros de esgotos não tratados são despejados no mar todos os dias
é o valor indicado.
Os nossos mísseis atingiram as centrais de tratamento de esgotos,
e neste momento as peças de reposição para repará-los não são permitidas.
Enquanto o Hamas nos ameaçar,
não é permitido cimento, nem vidro, nem equipamentos médicos.
Estamos a vigiar-vos com os nossos aviões sem piloto
enquanto cozinham as vossas escassas refeições em fogueiras
e deitam-se
nas ruínas das casas destruídas pelas bombas dos tanques.
E se os vossos filhos não dormirem,
faltam os que foram mortos na nossa incursão,
ou gritarem no meio da noite, ou urinarem nas suas camas
nas vossas improvisadas tendas de refugiados,
ou gritarem, sentindo dor nos seus membros amputados -
esse é o preço que pagam por abrigar terroristas.
Deus deu-nos esta terra.
Uma terra sem povo para um povo sem terra.
* Entre a dúvida na conversão de galões americanos - o autor é americano - e os galões britânicos, entendi usar os dados de um relatório da ONU de Maio de 2008.
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