06 junho, 2010

Egípcios casados com israelitas podem perder nacionalidade. Uma tontice obscena

Egípcios casados com israelitas podem perder nacionalidade - Mundo - PUBLICO.PT

É pena que a maior parte dos comentários sobre estas questões, no espaço a eles dedicados pelo Público, caiam tantas vezes numa tontice tão obscena como a da decisão que o Supremo Tribunal Administrativo do Egipto acaba de publicar.

É interessante notar que esta decisão saí no momento em que o presidente Hosni Moubarak corre o risco de perder influência face a uma Turquia que se ergue e se afirma, não só como potência regional, mas como o "campeão dos países islâmicos. pela mão de Tayyip Erdogan.

A primeira resposta foi ter aberto as portas de Rafah no dia 1 de Junho, - o único ponto de passagem oficial, em território egípcío, para Gaza - antes fechadas para agradar ao seu aliado Israel, ao seu patrono EUA e pelo temor que tem aos palestinos, enquanto "agentes sediciosos" que poderiam ajudar a minar o seu poder.

Quanto à questão religiosa eu diria que os islamitas lá chegarão.

As posições de Mohammed Sayyed Tantawi, o já falecido grande imã da Al-Azhar, a mais antiga e importante universidade do mundo islâmico, e referido na notícia, são a prova que o caminho se está a fazer.

Tal como o trabalho que o Prof. Tariq Ramadan, entre outros, tem desenvolvido, através de seus escritos e palestras onde tem contribuído substancialmente para o debate sobre a presença dos muçulmanos no Ocidente e sobre o ressurgimento islâmico no mundo muçulmano. Ele está activo tanto a nível académico, como público, através de palestras por todo o mundo, sobre justiça social e o diálogo entre civilizações.

A notícia do Público trazia uma fotografia onde se vê um casal muçulmano numa cerimónia de casamento onde a noiva aparece toda velada. Aliás deve ser uma fotografia de um casamento realizado em 29 de Julho de 2009 em Amã, quando se casaram 124 casais, e é pena não se ver o desfecho, que é, na maioria dos casos, o descobrir do rosto, que parece ser o que o noivo se prepara para fazer.

Confundir franjas da sociedade islamita, que tem uma visão mais integrista do Corão e por isso, onde o uso da Niqba e da Burka, estão mais arreigados na sua cultura, com a restante comunidade, é tomar a árvore pela floresta.

Entendo que a comunicação social, neste caso o Público, deveria ser mais cuidadosa a tratar destes assuntos.


Assim aquela imagem fora do seu contexto foi o suficiente para despertar os sentimentos islamofóbicos de uns tantos, que logo ali verteram toda a sua asca.

Acho que lhes faria bem seguirem este link para conhecerem as diferentes formas de cobrir a cabeça e esconder os cabelos usadas pelas mulheres muçulmanas.

E talvez não fosse má ideia recordar que em Portugal, ainda não há muito tempo, as católicas não podiam entrar de cabeça descoberta, nem de calças, nem de braços ao léu nas igrejas e que ainda hoje o seu papel, na comunidade religiosa e civil, continua a ser menorizado e secundarizado; que é tradição que as noivas entrem cobertas por um véu, hoje em dia, cada vez mais diáfano é certo; e que muitas das "esposas de Cristo" ainda se vestem de forma muito idêntica a uma mulher muçulmana que use hijab  e jilab.

 hijab                                          jilab

Isto para não falar nos lenços de cabeça (hijabs) usados em algumas regiões do país, ou em certo tipo de ocasiões.

As diferenças, em certo estádio de desenvolvimento religioso-cultural, não são assim tão distintas, como se pode verificar nesta imagem:

1 comentário:

antonio disse...

Caro Pedro: Você tem razão quanto ao título da matéria tanto quanto a falta de propriedade oportuna da foto. De fato, na minha visão de brasileiro, não sei qual mais absurdo: se a decisão da jurisprudência egípcia ou se a postura submissa da noiva muçulmana na foto. Acho mesmo que foi essa a intenção do Público....Enfim...Sabe, gostaria muito de ir ao Egito, passar lá uns dez dias, se tanto. Não endosso de maneira nenhuma o módus-vivendi dos muçulmanos, mas não devo me importar se lá nos seus países assim vivem. O mundo seria um tédio se nos jardins só existissem rosas. Forte Abraço.