Com a intolerância “Israel caracteriza-se como um regime totalitário”, denuncia a Associação dos Direitos Humanos de Israel.
“Os funcionários do Ministério do Interior estão se transformando numa espécie de ‘Polícia do Pensamento’”, afirma a advogada do Gush Shalom (Bloco da Paz), Gabi Laski, numa carta aberta ao Ministro do Interior de Israel, Ely Yishai, protestando contra a decisão de proibir a entrada de um dos mais destacados intelectuais norte-americanos, o linguista Noam Chomsky, professor do Massachussets Institute of Technology (MIT), através da posto de controlo da ponte Allembly, que liga a Jordânia à Cisjordânia, no passado dia 16.
A carta de Laski refere-se também a outras personalidades também impedidas de entrar tanto nos territórios palestinos sob ocupação, como em Israel, entre elas diversos membros da comunidade judaica norte-americana. O professor universitário Norman Finkelstein, os representantes da ONU, Richard Falk e Richard Goldstone, entre outros cujo traço em comum é serem críticos ou fazerem denúncias de políticas e ações de Israel contra os palestinos.
“Impedir sem razão ou justificação a entrada de muitas pessoas causa grande dano à expressão democrática e à liberdade de movimentos”, destaca Laski.
Jornalistas, activistas da paz e contra a ocupação da Palestina, organizações de direitos humanos em Israel além de personalidades em diversos países condenaram o facto.
Chomsky, professor de 81 anos, que havia sido convidado a proferir uma palestra na Universidade de Birzeit na Cisjordânia, foi detido na fronteira, interrogado durante quatro horas e depois teve o seu passaporte carimbado com os dizeres: “Entrada Negada”.
A sua filha, que o acompanhava também teve a entrada negada.
No dia seguinte a este evento, o jornal israelita Haaretz (cuja linha editorial esta longe de ser de esquerda ou popular) decidiu publicar um editorial intitulado “Declarando guerra ao intelecto”.
“Ao impedir o renomado académico de entrar na Cisjordânia”, diz o editorial, “o tratamento ultrajante [do governo de Israel] aos seus críticos chegou a novas alturas”.
“Chomsky é um intelectual corajoso e controverso. As suas investigações em linguística trouxeram-lhe um inquestionável respeito, mas os seus escritos e denúncias, nos quais ele ataca abertamente os governos que entende que tal mereçam, criaram-lhe oposição tanto fora como dentro dos EUA. Ainda assim é difícil imaginar qualquer país que não se sentisse honrado em ser visitado por Chomsky, só Israel”.
“Como muitos outros que integram a esquerda nos EUA, Chomsky tem repetidamente condenado a ocupação e mostrado simpatia pela luta dos palestinos contra esta ocupação”, acrescenta o periódico.
“Israel, no entanto, perdeu os seus últimos resquícios de tolerância por qualquer um que não se junte ao seu cada vez mais reduzido coro de apoiantes”, diz o Haaretz.
“Os detalhes do incidente, como relatado pela correspondente Amira Hass, parece que foram tirados de um teatro do absurdo ou de alguma sátira política sobre lugares e tempos que se afundaram na infâmia.
As questões colocadas a Chomsky por um inspector de fronteira, sob ordens superiores, têm que ser lidas e relidas para que nelas se possa acreditar”.
A Associação dos Direitos Humanos de Israel (ACRI) denunciou o Ministério do Interior “por usar a detenção e a deportação para impedir que uma pessoa expresse sua opinião, o que caracteriza um regime totalitário”.
“Um país democrático onde a liberdade de expressão é um princípio guia não se fecha à crítica ou a ideias que não considera confortáveis e não nega a entrada a visitantes apenas por que não aceita mas suas opiniões. Ao invés disso, trata com estas opiniões através do discurso público”, destaca a ACRI.
Nem mesmo o direitista e quase omisso face à ocupação da Palestina, jornal Yediot Achronot, pôde ficar silencioso. Publicou assim um artigo do seu editor para questões de direito, Boaz Okon, em que afirma:
“Em Israel, deixamos de nos interessar pelo que os outros têm a dizer ,para não mencionar, o seu direito de viver e de aqui entrar em condições normais. Queremos que eles saiam da nossa frente. Nós perseguimos os ‘outros’ com base em generalizações, suspeição, preconceito ou apenas por que incomodam”.
“Quando a liberdade desaparece – ela vem em primeiro lugar às expensas dos fracos, grupos marginais e minorias. Agora já está atingindo intelectuais de reputação mundial. Portanto, não seria exagero dizer que a decisão de calar o professor Chomsky é uma tentativa de por um fim à liberdade em Israel”, diz ainda Okon, para concluir: “Não vou falar aqui da munição que este facto vai dar aos que dizem que Israel é fascista, mas da minha preocupação de que muitos entre nós estejam de facto se tornando fascistas”.
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