06 maio, 2010

O site do MNE ao serviço do proselitismo da Igreja Católica

Ontem recebi informações sobre a possível entrada de Israel como membro de pleno direito da OCDE, assunto que  logo que possível abordarei. 

Para tal terá que existir uma aceitação unânime da sua candidatura por todos os países-membros, entre eles Portugal. Assim fui pesquisar o site da OCDE, onde para além do "roadmap" da candidatura de Israel nada mais encontrei.

Fui de seguida ao site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa - bem carente de informação sobre as nossas posições internacionais nas diversas organizações de que fazemos parte e onde nem uma ligação a um motor de pesquisa disponibiliza - e logo me deparei com os sinais do proselitismo da Igreja Católica Apostólica Romana.

Abrindo o site do MNE, sobre a coluna da direita, surge a "marca" da campanha de promoção em curso sobre a visita apostólica de Bento XVI.

Aliás basta ir ao sitebentoxviportugal - cuja qualidade gráfica e informativa saliento - criado especialmente para a promoção deste evento pelo Conselho Episcopal Português para verificarmos, se dúvidas houvesse, a origem de tal "marca".

Que a "marca" de um evento religioso apareça no site oficial de um ministério da República Portuguesa, Estado constitucionalmente laico, dá que pensar sobre a incompetência, dolo ou "sabujice" que por lá escorrem.

Mas não ficamos por aqui.

Se clicarmos sobre essa "marca" somos conduzidos a uma página intitulada "Visita Oficial e Apostólica de S.S. o Papa Bento XVI", onde se indicam uma série de links úteis para a comunicação social - acreditações, "badges", contactos, programa ...

Se no título da página atrás referida já aparecia a referência a "apostólica" que lá não devia estar, a designação do link para o "Programa" é simplesmente extraordinária:

"Viagem Apostólica de Sua Santidade Bento XVI a Portugal no 10º aniversário da beatificação de Jacinta e Francisco Marto, Pastorinhos de Fátima - Programa"

"Caiu" o "oficial" e passou a estar claro a essência desta viagem de Bento XVI: uma acção de proselitismo católico com a cobertura dos órgãos de soberania da República Portuguesa (constitucionalmente laica), nomeadamente do Presidente da República e do Governo.

Se seguirmos o link verificamos que a parte oficial da visita de Bento XVI,se baliza entre as 11 horas do dia 11 - Chegada ao Aeroporto de Lisboa; Acolhimento oficial; Discurso de Bento XVI - e o meio da tarde, com o fim da sua visita ao Presidente da República, no Palácio de Belém.

O resto do programa até dia 14, às 14.00, hora da sua partida de avião do Porto para Roma, é claramente proselitista, donde não fazer sentido a sua inclusão no "Programa" apresentado pelo MNE.

Creiam que o que me move é a defesa da laicidade, porque estou convicto que é o único regime que garante a liberdade de consciência e assim a liberdade religiosa.

Para mim, os católicos portugueses, tem tanto direito a manifestarem-se públicamente como quaisquer outras organizações.

O que me repugna profundamente é ver os órgãos de soberania da República Portuguesa,  Presidente da República e Governo, que deviam ser os primeiros garantes desse princípio, o tripudiarem, deixando-se aprisionar  nas teias do proselitismo religioso, uns por deleite esóterico próprio outros por mero oportunismo político, -  a questão das "tolerâncias de ponto " é exemplo flagrante - em qualquer dos casos, derespeitando a Constituição.

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