Um artigo de Gideon Levy a não perder. Agora totalmente traduzido. Os destaques são de minha responsabilidade
O esclarecimento veio de uma direcção inesperada; foi o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que, de entre todos, definiu com precisão o problema. Ao decidir sobre o futuro dessas crianças, disse que, o gabinete está dividido entre considerações humanitárias, por um lado, e considerações Sionistas, por outro. É o primeiro-ministro de Israel, ele próprio, que as apresenta como uma contradição, e esta é a história em poucas palavras.
Cada injustiça deve ser combatida em particular, naturalmente, mas não devemos esquecer que tudo se resume a uma grande e fundamental verdade: Definindo Israel como Estado judeu condenamo-nos a viver num Estado racista.
Esta é a nova definição do Sionismo que nós aceitamos até percebemos que não seremos capazes de erradicar todas as ervas selvagens que semearam por aqui ultimamente. Se não expulsarmos os filhos dos trabalhadores migrantes, mas continuarmos a arrasar aldeias beduínas não resolveremos nada. Vamos continuar a movermo-nos de uma injustiça para outra até que reconheçamos a natureza racista do Estado.
Israel não é o único lugar onde o racismo está em ascensão. A Europa e os Estados Unidos estão inundados numa onda turva de xenofobia, mas em Israel, esse racismo é integrado nos mais fundamentais valores do Estado.
Não há nenhum outro Estado cujas leis de imigração sejam descaradamente e de forma inequívoca baseadas na linhagem dos candidatos. O sangue judeu, seja autêntico ou duvidoso, é kosher [limpo, segundo a lei judaica]. Outros sangues, de outros credos ou nacionalidades, são inaceitáveis.
Nenhum país escancara as suas portas a todos, mas, enquanto outros estados tem em conta considerações sociais, económicas e culturais, em Israel, linhagem é o nome do jogo.
Que de outra forma podemos entender o facto de que alguém que aqui nasceu, que fala a língua, estima os seus valores e até mesmo serve nas forças armadas, pode ser expulso sem-cerimónias, enquanto um membro da comunidade de Bnei Menashe, na Índia ou o neto de um meio-judeu do Cazaquistão são recebidos com braços abertos.
Em contraste com o que nos foi dito não existe uma discussão significativa em todo o mundo e, claro, também em Israel, sobre o direito dos judeus a um Estado. A discussão é sobre o seu carácter.
Também não há discussão sobre a justiça da Lei do Retorno: Israel é o lugar dos judeus que querem morar lá. A discussão real é sobre a exclusividade da lei, sobre o facto de que se aplica apenas aos judeus. É onde tudo começa. Pode-se compreender a necessidade após o Holocausto, a necessidade, nos primeiros anos do estado, mas 62 anos depois da fundação do estado chegou o momento de re-examinar os conceitos largamento obsoletos.
Alguém realmente sabe o significado do termo "Estado judeu" acerca do qual discutimos tanto?
Significa um estado para os judeus somente? Não é um novo tipo de "pureza racial"?
É a "ameaça demográfica" maior do que o perigo do estado se tornar uma etnocracia religiosa ou um estado de apartheid?
Não seria melhor viver numa democracia justa?
E como é que é mesmo possível falar acerca de um estado ser ao mesmo tempo judeu e democrático? Se quem tenta entrar no caldeirão do debate, que tenta pensar fora da caixa do estafado cliché, está automaticamente fadado à deslegitimação e calúnia.
Basta perguntar a Avraham Burg*, que na semana passada anunciou sua intenção de criar um novo partido político segundo estas linhas.
* Avraham Burg, ex-presidente do Knesset, anunciou esta semana que planeia formar um novo partido israelita antes da próxima eleição, que promoverá a igualdade entre todos sectores da sociedade israelita, nomeadamente árabes e judeus.
"Não ver a floresta
Alguém realmente sabe o significado do termo "Estado judeu"? Não seria melhor viver numa democracia justa?
Às vezes, você realmente não pode ver a floresta por causa das árvores. A floresta das políticas racistas, governamentais e institucionais, em Israel é escura e profunda.
Uma árvore em particular nessa floresta irritou todos os israelitas: o tratamento do Estado aos filhos dos trabalhadores migrantes. Na sombra de uma árvore próxima está o tratamento do Estado aos pais dessas crianças, mas isso estimula os israelitas um pouco menos.
E há muitas outras árvores venenosas na floresta: lei da cidadania, lei da lealdade, lei da conversão [ao judaísmo], a destruição das aldeias beduínos no Negev e até mesmo a história do homem das entregas árabe que foi condenado por estupro porque fingiu ser um judeu. Cada uma destas galvaniza sectores da sociedade para a acção, e isso é muito bom, mas poucos vêem o retrato completo, e a imagem em grande é várias vezes pior do que a soma de seus componentes.
O esclarecimento veio de uma direcção inesperada; foi o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que, de entre todos, definiu com precisão o problema. Ao decidir sobre o futuro dessas crianças, disse que, o gabinete está dividido entre considerações humanitárias, por um lado, e considerações Sionistas, por outro. É o primeiro-ministro de Israel, ele próprio, que as apresenta como uma contradição, e esta é a história em poucas palavras.
Cada injustiça deve ser combatida em particular, naturalmente, mas não devemos esquecer que tudo se resume a uma grande e fundamental verdade: Definindo Israel como Estado judeu condenamo-nos a viver num Estado racista.
Esta é a nova definição do Sionismo que nós aceitamos até percebemos que não seremos capazes de erradicar todas as ervas selvagens que semearam por aqui ultimamente. Se não expulsarmos os filhos dos trabalhadores migrantes, mas continuarmos a arrasar aldeias beduínas não resolveremos nada. Vamos continuar a movermo-nos de uma injustiça para outra até que reconheçamos a natureza racista do Estado.
Israel não é o único lugar onde o racismo está em ascensão. A Europa e os Estados Unidos estão inundados numa onda turva de xenofobia, mas em Israel, esse racismo é integrado nos mais fundamentais valores do Estado.
Não há nenhum outro Estado cujas leis de imigração sejam descaradamente e de forma inequívoca baseadas na linhagem dos candidatos. O sangue judeu, seja autêntico ou duvidoso, é kosher [limpo, segundo a lei judaica]. Outros sangues, de outros credos ou nacionalidades, são inaceitáveis.
Nenhum país escancara as suas portas a todos, mas, enquanto outros estados tem em conta considerações sociais, económicas e culturais, em Israel, linhagem é o nome do jogo.
Que de outra forma podemos entender o facto de que alguém que aqui nasceu, que fala a língua, estima os seus valores e até mesmo serve nas forças armadas, pode ser expulso sem-cerimónias, enquanto um membro da comunidade de Bnei Menashe, na Índia ou o neto de um meio-judeu do Cazaquistão são recebidos com braços abertos.
Em contraste com o que nos foi dito não existe uma discussão significativa em todo o mundo e, claro, também em Israel, sobre o direito dos judeus a um Estado. A discussão é sobre o seu carácter.
Também não há discussão sobre a justiça da Lei do Retorno: Israel é o lugar dos judeus que querem morar lá. A discussão real é sobre a exclusividade da lei, sobre o facto de que se aplica apenas aos judeus. É onde tudo começa. Pode-se compreender a necessidade após o Holocausto, a necessidade, nos primeiros anos do estado, mas 62 anos depois da fundação do estado chegou o momento de re-examinar os conceitos largamento obsoletos.
Alguém realmente sabe o significado do termo "Estado judeu" acerca do qual discutimos tanto?
Significa um estado para os judeus somente? Não é um novo tipo de "pureza racial"?
É a "ameaça demográfica" maior do que o perigo do estado se tornar uma etnocracia religiosa ou um estado de apartheid?
Não seria melhor viver numa democracia justa?
E como é que é mesmo possível falar acerca de um estado ser ao mesmo tempo judeu e democrático? Se quem tenta entrar no caldeirão do debate, que tenta pensar fora da caixa do estafado cliché, está automaticamente fadado à deslegitimação e calúnia.
Basta perguntar a Avraham Burg*, que na semana passada anunciou sua intenção de criar um novo partido político segundo estas linhas.
* Avraham Burg, ex-presidente do Knesset, anunciou esta semana que planeia formar um novo partido israelita antes da próxima eleição, que promoverá a igualdade entre todos sectores da sociedade israelita, nomeadamente árabes e judeus.
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