A Farsa das conversações de paz do Médio Oriente por Firas Al-Atraqchi para o The Huffington Post
Para aqueles com grande interesse na história contemporânea do Médio Oriente, há um novo espectáculo de chegar a uma zona de conflito perto de si.
Em 02 de Setembro, a produtora que lhe trouxe Oslo, Wye River, Camp David e Annapolis vai lançar uma sequela, novinha em folha, do grande sucesso das chamadas negociações de paz do Médio Oriente.
Simplesmente intitulado Retoma das Negociações Directas, a produção apresenta um elenco cheio de estrelas, incluindo Benjamin Netanyahu, no papel do rei, Mahmoud Abbas como o indigente, George Mitchell como o bobo da corte, o rei Abdullah II, o novato, Tony Blair como o cientista louco , Barak Obama como o negociador Jedi compassivo, e Hosni Mubarak, como o cómico de serviço.
O Processo de Paz no Médio Oriente tem, nas duas décadas passadas caído ao ridículo, na descrença, na irreverência e na irrelevância.
Em 1990, George H. Bush, o então presidente, prometeu aos líderes árabes que ele traria todas as partes à mesa das negociações e criaria um “processo de paz "em troca da sua ajuda durante a “Operação Escudo do Deserto” (Operation Desert Shield) e mais tarde na “Tempestade no Deserto” (Desert Storm).
Ficaram mais do que ansiosos. Enquanto os palestinos e israelitas reconheceram-se mutuamente e sentaram-se, frente a frente, pela primeira vez, o processo de paz, nos seus estágios iniciais, foi grande em promessas e esperança.
Parecia, então, que algo poderia finalmente ser feito para resolver o conflito de décadas. Mas, como é costume no Médio Oriente, a retórica é barata; pouco de substantivo foi feito para colmatar as falhas, para que os palestinos obtivessem os seus direitos inalienáveis, dando aos israelitas uma sensação de segurança.
No final dos anos 90, com o Hamas crescendo em força e as eleições israelitas produzindo novos governos relutantes em honrar os acordos anteriores, o processo de paz começou a ficar claro.
Em 1998, Bill Clinton pressionou Netanyahu e Yasser Arafat a assinar e a implementar o Memorando de Wye River (Wye River Memorandum), já que o processo de paz parecia à beira do colapso. No entanto, passados alguns meses os dois lados acusaram-se mutuamente de não cumprirem os acordos. A partir desse dia, os acordos ficaram por cumprir.
Quando Clinton hospedou Arafat e Ehud Barak em Camp David em 2000 (Camp David in 2000) - uma alusão ao tratado Egipto-Israel, de 1978 - conseguiu ganhos significativos apenas para os ver afundar de seguida no pântano que foi a eleição de Ariel Sharon e a II Intifada.
Em 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa Árabe de Paz (Arab Peace Initiative (API)) a Israel, como compartida para que as suas forças terminassem com o cerco a Jenin e aos outros territórios ocupados. Instando Israel para que implementasse as resoluções da ONU sobre a retirada para as fronteiras pré-1967, a API foi amplamente ignorada por Israel e os E.U.A..
Em 2003, com George W. Bush preparado para invadir o Iraque, houve consenso em Washington e Tel Avive que removendo Saddam Hussein do poder, faria os palestinos mais maleáveis e, consequentemente, aumentaria a perspectiva de uma solução definitiva para o conflito árabe-israelita.
Encorajado pela missão cumprida no Iraque, Bush anunciou que apoiava a criação de um Estado palestino. Muitos, no mundo árabe, ficaram animados pela corajosa posição de Bush. No entanto, as realidades no terreno na Palestina Ocupada tornou-a numa ideia extremamente insustentável, criar um estado palestino viável e contíguo, ao entrecruzar as várias restrições de estrada e os colonatos israelitas.
De facto, desde o processo de paz de Oslo no início dos anos 90, o número de colonos israelitas aumentaram, na ordem das dezenas de milhares de pessoas, com um aumento acentuado no número de novos colonatos israelitas e/ou ampliações.
Em 2005, com pouco progresso visto no que era então denominado Roteiro para a Paz (Road Map to Peace), Bush anunciou que um Estado palestino seria criado em 2009. Isso nunca se concretizou.
Em 2006, a administração Bush recebeu a Conferência de Paz de Annapolis, com muita fanfarra. Foi um desastre previsível.
Desde que Obama se tornou presidente, a narrativa americana sobre as negociações de paz entre palestinos e israelitas afastou-se da negociação de medidas concretas para o futuro, agora os desafios são conseguir realmente que os dois lados até concordem em sentar-se para negociar directamente, cara a cara. Essa é uma prova incrível de como o próprio processo de paz tem vindo a desfiar-se a níveis anteriores a 1993.
Obama enviou Mitchell para superar as diferenças entre os dois lados, mas o negociador outrora poderoso regressou a Washington de mãos vazias repetidamente depois de não conseguir convencer os israelitas que parar, ou mesmo adiar, a construção de colonatos era necessário para construir a confiança com os palestinos.
Na verdade, não houve quase nenhum movimento acerca do congelamento da construção de colonatos; os colonatos que são eles próprios - de acordo com a ONU – ilegais de acordo com a lei internacional.
E entretanto o direito internacional não é apenas quebrado na Palestina Ocupada, mas ignorado como uma base para futuras negociações.
Há pouca esperança de que as “negociações" produzam algo de substancial para além de uma oportunidade para uma fotografia concebida para enganar o público de que algo de concreto está sendo feito.
Pistas disto podem ser encontradas no anúncio das conversações feito pela Secretária de Estado Hillary Clinton. Ela não fez nenhuma menção aos colonatos, um primeiro passo fundamental para os palestinos, e nada sobre as fronteiras pré-1967.
Em vez disso, como Mitchell explicou mais tarde, Israel e os palestinos teriam de estabelecer os seus próprios termos para as negociações. Assim como o leão e a lebre sentados, um-contra-um.
Isso é disparatado. Israel é poderoso e sob nenhuma pressão, qualquer que seja, concederá qualquer coisa aos palestinos. Isto torna-se duplamente mais perigoso quando se tem presente que um governo de extrema-direita, que tem em considerado a ideia de expulsar os palestinos para a Jordânia, ou de obrigar os palestino-israelitas a fazerem um juramento de fidelidade ao "Estado Judeu", se senta no poder em Tel Avive.
O Departamento de Estado dos E.U.A. afirma que seus diplomatas avançarão com uma proposta de transição em caso de necessidade. Não tem havido necessidade de uma forte e determinada participação dos E.U.A. nas conversações de paz nas últimas duas décadas?
Os democratas, em meados dos anos 2000 acusaram Bush de abandonar o processo de paz, mas agora com Obama na Casa Branca, os E.U.A. parecem estar ausentes de qualquer papel substancial que poderia ter desempenhado.
A maioria dos diplomatas árabes vai admitir que um processo de paz não pode dar fruto, a menos que haja uma presença explícita e obstinada dos E.U.A. nas negociações. Eles acreditam que apenas os E.U.A. podem pressionar Israel a fazer concessões difíceis, mas necessárias.
Como os E.U.A. se preparam para deixar as partes para determinar a escala e o âmbito das suas negociações, as negociações vão fracassar como em outras vezes têm acontecido tão dolorosamente.
Então, sim, as próximas conversações de paz serão um espectáculo de proporções hollywoodescas destinado a entreter e a proporcionar muito pouco valor.
A graça, infelizmente, está na plateia.
E nos palestinos.
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