22 outubro, 2010

Actualização: "Porquê os colonatos?" por Hagit Ofran

Actualizado com a tradução para português às: 19:15 de 2010.10.24
 
Respigado do blog da secção "Médio Oriente" do site da organização "The Elders"



Porquê os colonatos?

"Colonatos" será de certeza uma palavra-chave durante a visita da missão dos “Elders” a Israel e aos territórios palestinianos ocupados. A questão do "congelamento dos colonatos", está na agenda mundial, como parte dos esforços para iniciar negociações reais entre os palestinos e Israel. Mas porquê que a questão dos colonatos é vista como um obstáculo no caminho para a paz?

Como judia israelita que acredita firmemente que a única maneira para que possamos realizar o sonho sionista de um Estado judeu e democrático, na terra de Israel é estabelecer um Estado palestino lado a lado com Israel, eu vejo a construção em curso nos colonatos como a nosso própria "marcha da insensatez".

Nos 43 anos de ocupação, Israel estabeleceu 120 colonatos (e outros 95 "postos avançados” ilegais)  [todos eles são ilegais face ao direito internacional e às resoluções do Conselho de segurança das Nações Unidas] na Cisjordânia. Eles são o lar para 296.700 colonos. Em Jerusalém Oriental, 192 mil israelitas residem em outros 12 bairros israelitas em terras ocupadas anexadas unilateralmente por Israel.

Para que os dois lados possam viver em paz, Israel terá de parar com a ocupação e permitir a criação de um Estado palestino viável nos territórios ocupados. A maioria destes colonatos terá de ser removida. Como Israel continua a desenvolver os colonatos, isso tornar-se-á cada vez mais difícil.

Há algumas semanas atrás, [o movimento israelita] Peace Now organizou "uma conferência de imprensa nos céus". Convidamos cerca de 50 jornalistas, membros do Knesset e líderes de opinião pública para um voo sobre a Cisjordânia. Foi uma das nossas maneiras de transmitir a mensagem ao povo israelita, de que os colonatos já estão muito grandes e profundamente encravados no território [ocupado] - e que estamos, portanto, quase num ponto sem retorno para a solução dos Dois Estados.

Screenshot of Peace Now's 'Facts on the ground' map project
Projecto do mapa de “Factos no terreno“ do movimento Peace Now

Em paralelo a nossa organização irmã, a Americans for Peace Now, lançou uma nova aplicação para iPhone com um mapa de todos os colonatos e informações detalhadas acerca deles para que todos possam ver e entender a importância da questão.

O gráfico seguinte mostra o número de novas habitações que começaram a ser construídas nos colonatos entre 1973 e 2009, segundo dados do Departamento Central de Estatísticas de Israel.

Graph showing settlement construction from 1973 to 2009
Gráfico mostrando a construção de colonatos de 1973 a 2009

Como podemos ver, mesmo após o início do processo de Oslo, em 1993, quando Israel e os palestinos concordaram em iniciar um processo que deveria ter terminado com um acordo de dois estados em 1999, Israel continuou a construir nos colonatos. De facto, desde os acordos de Oslo, o número de colonos mais do que duplicou (de 116.000 em 1993 para 296.700 em 2009).

Colonatos e o processo de paz

Cada novo tijolo assente nos colonatos é uma mensagem aos palestinos de que Israel não tem intenção de abandonar os territórios ocupados. A liderança palestina perde o que resta da sua credibilidade junto do povo palestino, sempre que a construção continua. Para eles, é quase impossível continuar as negociações com Israel, enquanto a construção estiver em curso.

Alguns podem argumentar que isso significa que Israel não quer realmente a paz. Eu acho que essa é uma explicação muito simplista.

A opinião pública de Israel mudou drasticamente nos últimos anos. Quando o primeiro-ministro Rabin iniciou o processo de Oslo, em 1993, houve muita oposição em Israel contra isso (liderada por Netanyahu, então como membro do Knesset). Mesmo na área do Partido Trabalhista, havia receio em mencionar as palavras "Estado palestino". Com o passar dos anos, muitos daqueles que se opuseram fortemente à solução de Dois Estados, incluindo Ehud Olmert e Tzipi Livni (talvez até o próprio Netanyahu), juntaram-se àqueles que defendem essa posição. As sondagens mostram que a maioria dos israelitas está disposta a desistir dos colonatos e a pagar o preço da paz, só que eles não acreditam que o outro lado vá concordar.

Então porque é que Israel continua a construir nos colonatos?

Eu penso que psicologicamente o povo israelita considera que já concordamos em desistir da maioria dos colonatos. É como se tivéssemos feito a nossa parte: agora estamos esperando que os palestinos façam a sua parte e que aprovem as últimas questões. Até que os palestinos possam avançar nesta direcção, parece que a construção de colonatos é "business as usual" para a maioria dos israelitas.

Eu acredito que essa atitude acaba por prejudicar os interesses de Israel. O Projecto do Observatório dos Colonatos do movimento Paz Agora tenta desafiar essa sensação de complacência, reunindo informações sobre a construção de colonatos para que possam ser conhecidos e debatidos na imprensa israelita.

Desejo à missão dos Elders uma boa viagem. Estou certo de que o facto de estarem aqui mais uma vez, levantará a questão dos colonatos e ajudará a explicar a um povo cansado da urgência da paz.

Hagit Ofran dirige o Projecto do Observatório dos Colonatos do movimento israelita Paz Agora (Shalom Achshav). Amplamente reconhecida como a maior especialista de Israel em colonatos da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, Hagit é responsável por monitorar, controlar e analisar a construção e planeamento dos colonatos israelitas na Cisjordânia.

O seu trabalho inclui viagens diárias através da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental monitorando a evolução relacionada com colonatos, obtendo e analisando fotos aéreas dos colonatos e examinando documentos oficiais israelitas.


Why settlements?


"Settlements" is sure to be a key word during the Elders’ visit to Israel and the occupied Palestinian Territories. The issue of the "settlement freeze" is on the world's agenda, as part of the efforts to start real negotiations between the Palestinians and Israel. But why is the issue of settlements seen as a stumbling block on the road to peace?


As an Israeli Jew who strongly believes that the only way for us to fulfill the Zionist dream of a Jewish democratic state in the land of Israel is by establishing a Palestinian state side by side with Israel, I see the ongoing construction in the settlements as our own ‘March of Folly’.
In the 43 years of occupation, Israel has established 120 settlements (and another 95 "illegal outposts") in the West Bank. These are home to 296,700 settlers. In East Jerusalem, 192,000 Israelis reside in another 12 Israeli neighborhoods in occupied lands unilaterally annexed by Israel.
In order for the two sides to live in peace, Israel will have to stop occupation and allow the establishment of a viable Palestinian state in the occupied territories. Most of the settlements will have to be removed. As Israel continues to develop the settlements, this becomes harder and harder.
A few weeks ago Peace Now arranged ‘a press conference in the sky’. We invited some 50 journalists, Members of Knesset and public opinion leaders to a flight over the West Bank. It was one of our ways to convey the message to the Israeli public that the settlements are already very large and deep inside the territories – and that we are therefore close to midnight for the two-state solution.

Screenshot of Peace Now's 'Facts on the ground' map project
Peace Now's 'Facts on the ground' map project

In parallel our sister organization, Americans for Peace Now, launched a new iPhone app with a map of all of the settlements and detailed information about them so that everyone can see and understand the importance of the issue.

The following graph shows the number of new housing units that started to be built in the settlements between 1973 and 2009, according to data from Israeli’s Central Bureau of Statistics.

Graph showing settlement construction from 1973 to 2009
Graph showing settlement construction from 1973 to 2009

As we can see, even after the beginning of the Oslo Process in 1993, when Israel and the Palestinians agreed to start a process that should have ended with a two-state agreement by 1999, Israel continued to build in the settlements. In fact, since the Oslo accords, the number of settlers has more than doubled (from 116,000 in 1993 to 296,700 in 2009).

Settlements and the peace process

Every new brick laid in the settlements is a message to Palestinians that Israel has no intention to leave the occupied territories. The Palestinian leadership loses whatever is left of its credibility with the Palestinian public whenever construction continues. For them, it is almost impossible to continue negotiations with Israel while construction is going on.

Some might argue that this means that Israel doesn't really want peace. I think that this is a very simplistic explanation.
Israeli public opinion has shifted dramatically in recent years. When late PM Rabin started the Oslo process in 1993, there was a lot of opposition in Israel against it (led by then MK Netanyahu). Even in the Labor Party's platform the words "Palestinian State" had still to be mentioned. As years went by, many of those who strongly opposed the two-state solution, including Ehud Olmert and Tzipi Livni (maybe even Netanyahu himself), joined those who advocate it. Polls consistently show that the majority of Israelis are ready to give up on the settlements and pay the price of peace, only that they don't believe that the other side will agree.

So why does Israel continue to build in the settlements? I think that psychologically the Israeli public feels that we have already agreed to give up on most of the settlements. It’s as if we did our part: now we are waiting for the Palestinians to do their part and agree on the final status issues. Until the Palestinians can move forward on this, settlement construction seems like ‘business as usual’ for most Israelis.

I believe that this attitude ultimately harms Israel’s interests. Peace Now's Settlement Watch project tries to challenge this sense of complacency, collecting information about settlement construction so that it can be heard and debated in the Israeli media.

I wish the Elders a good trip. I am sure that the fact you are here will once again raise this issue of settlements and help to explain to a tired public the urgency of peace.

Hagit Ofran directs the Settlement Watch project of the Israeli Peace Now movement (Shalom Achshav). Widely recognized as Israel’s foremost expert on West Bank and East Jerusalem settlements, Hagit is responsible for monitoring, scrutinizing and analyzing Israeli construction and planning of settlements in the West Bank.

Her work includes traveling daily throughout the West Bank and East Jerusalem monitoring settlement-related developments, commissioning and examining aerial photos of settlements and scrutinizing official Israeli documents.

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