30 outubro, 2010

Pão e circo por Uri Avnery

Esta é a crónica desta semana de Uri Avnery e trata de um problema que está na ordem do dia: a corrupção.

Fiquei surpreso quando, no final de 1975, recebi um convite do primeiro-ministro, Yitzhak Rabin, para me encontrar com ele na sua residência. Ele abriu a porta, serviu-me um copo de uísque, serviu outro para si e sem mais delongas perguntou-me: "Diga-me, Uri, decidiu destruir todas as pombas [defensores de uma solução pacífica para o conflito israelo-palestino] no Partido Trabalhista?"

Algumas semanas antes, a minha revista, Haolam Hazeh ("Este Mundo"), começara a publicar revelações sobre ligações corruptas do candidato a presidente do Banco Central, Asher Yadlin. Na véspera da conversa, tínhamos também começado a publicar suspeitas sobre o ministro da Habitação, Avraham Ofer. Ambos eram líderes das "pombas" dos Trabalhistas.

Eu respondi que, infelizmente, não poderia oferecer imunidade a políticos corruptos, mesmo que as suas posições políticas estivessem próximas das minhas. São questões distintas.

Contei essa história esta semana numa conferência realizada pela Universidade de Telavive dedicada a um novo livro do Professor Yossi Shain, "A Linguagem da Corrupção".

O painel era muito heterogéneo. Dois ex-ministros da Justiça - Yossi Beilin, presidente da "Iniciativa de Genebra" e Daniel Friedman, um direitista, cujos desenfreados ataques ao Supremo Tribunal tinham despertado a indignação pública; Yedidia Stern, um intelectual do nacionalismo-religioso que é defensor da reconciliação com o campo secular e o general reformado da Força Aérea e da Agência Espacial de Israel, Yitzhak Ben-Israel, membro do anterior Knesset [Parlamento israelita] pelo partido Kadima. Eu fui apresentado como o criador do jornalismo de investigação em Israel, que fora o responsável pela exposição dos primeiros grandes casos de corrupção que abalaram a nação.

O Professor Shain atacou vigorosamente aqueles que lutam contra a corrupção - incluindo juízes, policias, promotores e outros que tais. Alegou que fazem perigar a democracia israelita e minar a força nacional. Estas duas palavras - "força nacional" - são típicas na Direita.

E, de facto, todos reconhecem que os assuntos de corrupção estão actualmente a ocupar o centro da cena pública. Um ex-presidente do Estado [de Israel, Moshe Katsav, (Likud)] está a aguardar julgamento acusado de violação. Um ex-primeiro-ministro [Ehud Olmert (Kadima)] é suspeito de receber gordos subornos. Um ex-ministro das Finanças [Abraham Hirchson (Likud até 2005, depois Kadima)] está na prisão [por 5 anos]. [Na mesma altura entrara na prisão por 4 anos o ex-ministro do Trabalho e da Providência, Shlomo Benizri, do partido Shas (conservador e religioso ultra-ortodoxo), por corrupção e fraude]. Um ex-ministro sénior [então ministro da Justiça, Haim Ramon (Likud)] condenado por atentado ao pudor por forçar a entrada da sua língua na boca de um oficial do exército do sexo feminino (que aconteceu no dia em que o governo decidiu lançar Segunda Guerra do Líbano). O Ministro dos Negócios Estrangeiros [Avigdor Lieberman] está sob investigação. Uma longa lista de políticos variados, altos funcionários e oficiais das Forças Armadas estão em vários estágios de investigação e acção penal.

O livro de Shain não trata com os casos em si, mas com o lugar que ocupam no discurso público. Ele acredita que devem ser retiradas das manchetes e removidos do centro da cena.

Os seus argumentos merecem consideração.

Nas manchetes, os escândalos de corrupção, muitas vezes preenchem o espaço que deveria ser dedicado aos assuntos que são cruciais para o nosso futuro.

Tomemos, por exemplo, dois casos de actualidade. 

1.º Caso: Uma comissão do Knesset acaba de aprovar uma lei que permite que os "comités de recepção" das "localidades comunitárias" 1) com menos de 500 famílias possam recusar futuros residentes que não sejam do seu gosto.

A lei, que entrará em vigor numa questão de dias, destina-se a contornar o acórdão do Supremo Tribunal proibindo a recusa de admissão de árabes. O texto da lei é uma obra de arte da acrobacia verbal, a fim de evitar o uso da palavra "árabe". Mas o significado é claro para todos.

Uma estudo realizado pela organização árabe "Adalah" [The Legal Center for Arab Minority Rights in Israel] revelou que as 695 comunidades rurais e urbanas em que a lei será aplicável ocupam a maior parte das terras que pertencem ao Estado (a maioria das quais, aliás, foram expropriadas aos seus proprietários árabes após a fundação de Israel). Quase todos os imóveis de Israel pertencem ao Estado.
Este é um caso claro de segregação racial, do tipo que existiu nos EUA contra os judeus e os negros. Que desapareceu há 50 anos. Diz respeito à própria essência do Estado de Israel. Transforma o estatuto dos cidadãos árabes de Israel, 20% da população, numa bomba-relógio.

(Há pouco, o rabino-chefe de Safed, um funcionário do governo, decretou que a venda ou o arrendamento de apartamentos a árabes é um pecado. Antes de 1948, Safed era uma cidade heterogénea com uma maioria árabe. Mahmoud Abbas nasceu lá. Anteontem [28 de Outubro] , o rabino Ovadia Yosef, líder inquestionável da comunidade judaica do Oriente, também decretou que a venda de terra para "estrangeiros" - ou seja, os árabes que aqui têm vivido mais de mil anos antes do venerável rabino ter sido trazido para este país vindo do Iraque - é expressamente proibido pela religião judaica).
2.º Caso: Um alto oficial do exército distribuiu um documento que descreve uma suposta conspiração do futuro Chefe de Estado-Maior (Yoav Galant) para difamar o actual Chefe de Estado-Maior (Gabi Ashkenazi). O documento é uma falsificação e muitos sinais indicam que é originário das cercanias de Ashkenazi. Parece que o falsificador é um amigo pessoal de Ashkenazi e da sua esposa. O Fiscal do Estado [entidade independente que supervisiona e audita as políticas e operações das entidades públicas de Israel, por delegação de poderes do Parlamento] está agora a investigar o assunto.

Um caso suculento, por qualquer padrão. Uma intriga nos mais altos escalões do Exército.

Como foram estes dois assuntos cobertos pela media? O primeiro foi mencionado algumas vezes. O segundo tem ocupado as manchetes há meses, sem fim à vista.

Sem dúvida, que os grandes escândalos de corrupção ajudam os media - e o público em geral - para afastar os problemas centrais da nossa existência: a ocupação, a eliminação das possibilidades de paz, o alargamento dos colonatos, a continuação do bloqueio de Gaza, as leis racistas contra a minoria árabe dentro de Israel, todos os perigos relacionados com o conflito em curso há 130 anos entre nós e os palestinos. [Não me parece de todo correcto datar este conflito no início da emigração sionista em pleno Império Otomano. Não só esta emigração não tinha então foros de colonização que ganhou a partir de 1948, ou seja não se caracterizava pelo desapossar e/ou deslocar os palestinos das suas terras para assim as colonizar, nem o número de judeus era significativo e os poucos incidentes registados na época eram fundamental de origem religiosa.]
O público não quer ouvir falar disso. Ele quer que todas estas questões desapareçam da sua vista, de modo a que possa gozar a vida. Este é um exercício nacional de escapismo.

É muito mais conveniente lidar com um documento falsificado no cofre do Chefe do Estado-Maior, Ashkenazi, do que lidar com os crimes de guerra cometidos no curso da operação "Cast Lead", cujo comandante foi Ashkenazi.

É muito mais agradável acompanhar de muito perto a vida privada das personalidades públicas que são apanhados em flagrante: a criada filipina ilegalmente ao serviço de Ehud Barak, a falsificação de bilhetes aéreos de Ehud Olmert, a comprida língua de Haim Ramon, os gordos subornos entregues aos autarcas em Jerusalém por uma licença para construir uma monstruosidade arquitectónica numa colina com vista para o centro da cidade.
Os governantes da antiga Roma davam panem et circenses (pão e circo) às massas para desviar a sua atenção dos assuntos de Estado. Os nossos casos de corrupção, que se seguem uns aos outros em rápida sucessão, são um sucedâneo dos jogos de circo.

Já então, enquanto editor-chefe da Haolam Hazeh, quando estávamos a levar a cabo a luta contra a corrupção no governo, estava consciente dos perigos inerentes a uma tal campanha.

Mais do que uma vez fui inquietado pelo pensamento de que quando revelamos os actos repulsivos de políticos corruptos, podemos estar incentivando o público a detestar todos os políticos, na verdade a política como tal. Não estaremos ajudando a criar um clima público de "eles são todos corruptos" e que abre um abismo entre o público e o sistema político?
Se a política cheira mal, as pessoas boas não vão optar por uma carreira política. A política será deixada para as pessoas de baixa inteligência, desprovidas de talento e de normas éticas, até mesmo criminosos. Os resultados já são evidentes no presente Knesset.

O ódio à política e aos políticos pode abrir caminho ao fascismo. Movimentos fascistas em todo o mundo exploram o desprezo pelos políticos, a fim de despertar o desejo de um "homem forte", que irá expulsar os patifes.

Tudo isso pode levar à conclusão de que devemos reduzir a luta contra a corrupção, ou pelo menos não falarmos sobre isso.

Mas esta é uma ideia muito perigosa.
Uma sociedade que confere imunidade aos líderes corruptos está cavando a sua própria sepultura. Esse é o caminho em que a república romana apodreceu e implodiu. Isso já aconteceu a muitos estados, desde então, mesmo durante a nossa vida. Não é por falar sobre a corrupção que se destrói a democracia, mas a corrupção em si. A corrupção não pode ser varrida para debaixo do tapete por muito tempo. Mesmo que a media parasse de dançar à sua volta, os boatos irão espalhar-se e minarão a confiança no governo ainda mais.

Quando os ministros preenchem os cargos públicos com seus protegidos políticos ou os seus familiares, a gestão dos assuntos e dinheiros públicos é entregue aos incompetentes e / ou desonestos. Os melhores e mais brilhantes são afastados por "nomeações políticas". Quando os políticos são comprados - simplesmente - por magnatas, eles são obrigados a servi-los contra o interesse público. A qualidade da liderança caí e incompetentes decidem o nosso destino em matéria de vida e morte, paz ou de guerra.
Este não é um problema especificamente israelita. A corrupção governa muitos países. Alguns acreditam que os EUA são mais corruptos do que Israel. Agora mesmo o Supremo Tribunal [americano] escancarou as portas para a corrupção, permitindo que as grandes corporações comprem políticos quase abertamente. É verdade, que ao contrário de nós, os americanos expulsam os políticos que foram apanhados. (Lembre-se as imortais palavras do vice-presidente Spiro Agnew: "Os bastardos mudaram as regras e não me disseram" [Palavras proferidas quando o escândalo Watergate rebentou, durante a presidência Nixon] )

A luta contra a ocupação e a luta contra a corrupção não se contradizem uma à outra. Pelo contrário, complementam-se.
A ocupação destrói os nossos padrões éticos. Uma sociedade que perde a sua repugnância à crueldade diária nos territórios ocupados perde também a sua resistência à corrupção.

A ocupação é uma doença de risco de vida, a corrupção é "simplesmente" náusea. Mas se o paciente está nauseado, nenhum remédio se manterá no estômago.

1) Localidades Comunitárias são localidades organizadas como uma cooperativa, que não tem direitos sobre a terra agrícola, e onde a extensão da actividade cooperativa (produção, consumo, a administração municipal, e as actividades sociais) são determinadas pelos seus membros.

Intolerância Religiosa em Jerusalém

Uma história contada pela SIC em "Histórias do Mundo" intitulada "Jerusalém Radical: judeus ultra-ortodoxos têm cada vez mais influência na cidade".

É só seguir o link acima indicado.

Tenha em atenção que a reportagem ao falar do crescimento dos judeus ultra-ortodoxos em Jerusalém refere apenas o factor demográfico, escondendo que o principal factor nesse crescimento foi a política de Israel de estabelecer uma maioria judia na cidade, através de apoios à colonização.

E só mostra a sua presença na parte israelita de Jerusalém, sem referir o seu papel mais agressivo e violento na expansão colonial que Israel vem adoptando em Jerusalém Oriental, território palestino ilegalmente ocupado e anexado.

27 outubro, 2010

Ontem estive num país onde a democracia esteve em coma durante mais de meia hora

Se não repararam é porque não abriram a televisão entre as 20:00 e as 20:45 de ontem ou então já estão completamente insensíveis e merecem o destino que escolheram: a triste e vil tristeza de apenas servirem para serem tratados como coisas descartáveis.

Durante mais de meia hora as três televisões portuguesas, transmitiram em directo, o antes, o durante e o depois da apresentação de uma candidatura presidencial.

Anteriormente já tinham feito a apresentação das suas candidaturas Defensor Moura, Fernando Nobre, Francisco Lopes e Manuel Alegre. Nenhum deles mereceu, felizmente, tão extensa e untuosa atenção.

Critérios redactoriais... uma treta. Só no tempo da ditadura se via tamanho dislate e bajulice.

Que a SIC e a TVI o façam é natural. Servem os "donos" e o candidato Cavaco é o que melhor serve os interesses dos seus "donos e senhores".

Agora a RTP 1? A televisão oficial portuguesa? Que falta de independência, profissionalismo e dignidade.

Eu não estou contra que se tenha feito a cobertura em directo, por todas as razões, mas com peso, conta e medida e de forma profissional.

Em televisão cada segundo conta. A notícia era a apresentação de um candidato à Presidência da República, importante só por si, sem dúvida, mas o que interessava conhecer e logo para fazer a notícia, era a sua afirmação de candidatura e das suas razões, e não o seu panegírico em discurso directo.

Aliás quando se tem os privilégios de uma tal cobertura mediática televisiva, que se vai manter porque ainda para mais é o PR em exercício, é mera hipocrisia declarar que se vai apenas usar 50% do permitido por lei para as campanhas presidenciais ou que não se vai usar outdoors. É a natural esperteza saloia a querer passar um atestado de acefalia à generalidade das cidadãs e cidadãos.

De resto nada de novo: a mera reafirmação de coisas mesquinhas, banais e populistas, que não ajudaram nos últimos 5 anos a fazer Portugal.

Washington pressiona [?] possibilidade de negociação de paz no Médio Oriente

FT.com / Middle East - Washington pushes prospect of Middle East peace deal 

Daniel Dombey, desde Washington para o FT, fala-nos de alterações nas propostas negociais americanas - principiar com a definição das fronteiras, onde Israel manteria o controlo do Vale do Jordão, território palestino, por tempo indeterminado - e possivelmente a suave retirada de cena de George Mitchell e a entrada de Dennis Ross "um veterano no processo de paz do Médio Oriente" (Esta de veterano de um sucessivo processo de falhanços, enganos e traições a favor de Israel, daria vontade de rir se não fosse lamentável)

Dennis Ross é pró-Israel. Foi enviado especial ao Médio Oriente de Bill Clinton e depois do falhanço das negociações de Camp David em 2000, foi acusado por outros responsáveis americanos de ter alinhado demais com Israel ao que respondeu que um intermediário não necessita de ser neutral.

Durante a campanha eleitoral de 2008 para as presidenciais americanas Dennis Ross visitou as sinagogas da Florida em nome de Obama para afirmar as simpatias pró-Israel do candidato.

Em suma mais uma "sombra chinesa" para desviar atenções e arrastar o processo De facto a questão central não é a paz no Médio Oriente - será, verdadeiramente, alguma vez - mas sim as eleições de Novembro nos EUA.

Actualizado: OLP Condena ataques dos colonos israelitas a civis israelitas

Actualizado com a tradução para português às: 03:10 de 2010.10.28

O Dr. Saeb Erekat, chefe negociador palestino, condenou veementemente os recentes ataques de colonos israelitas contra civis palestinos em Deir Hatab, na zona leste de Nablus.

Em 26 de Outubro, colonos israelitas de Alon Moreh, (colonato construído ilegalmente em terras pertencentes a palestinos da aldeia de Deir Hatab), contaminaram mais de 660 oliveiras, com água dos esgotos, envenenando as azeitonas.

''Este é mais um exemplo da indiferença e da plena cooperação das autoridades israelitas face à violência de colonos e extremistas contra os civis palestinos'', acrescentou, exortando a comunidade internacional para intervir imediatamente e parar as agressões diárias por soldados e colonos israelitas.

O território original da aldeia de Deir Hatab é de 11.000 dunums (4.451,6 ha), pertencendo, no seu todo, aos 2.500 habitantes palestinos. Desde 1995, Israel tem negado, aos aldeões o acesso a 8.000 dunums (3.237,5 ha) das suas terras. Nos restantes 3.000 dunums (121,4 ha), os palestinos apenas têm acesso às suas terras 4 vezes por ano. É nesta terra onde muitos esperavam ganhar a vida colhendo azeitonas, uma colheita agora contaminada pelos colonos.

O Dr. Erekat concluiu afirmando que os ataques "dos colonos contra civis palestinos mostram a verdadeira face do processo de colonização israelita. Com a construção de mais colonatos o governo israelita está a premiar os segmentos mais extremistas da sua sociedade.''


Pelo 19° ano consecutivo, na AG da ONU, votou-se favoravelmente (97,4%) a suspensão do embargo a Cuba

A Assembleia Geral da ONU votou ontem, terça-feira, uma recomendação onde se pedia a suspensão do embargo económico, comercial e financeiro dos Estados Unidos a Cuba.

Pela 19.ª vez consecutiva foi aprovada
... com 2 votos contra: EUA e Israel!

Três abstenções: Micronésia, Ilhas Marshall e Palau.

187 votos favoráveis em 192 Estados membros! (97,4%)

O embaixador americano Ronald Godard lamentou que a delegação de Cuba na ONU continue, ano após ano, a rotular o embargo financeiro como um acto de genocídio.

Já o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Parrilla, recordou que dois anos após o presidente Obama [e um Prémio Nobel da Paz] afirmar que procurava "um recomeço com Cuba", nada mudou: as sanções continuam intactas e o impacto traz consequências sérias à população, principalmente na área da saúde, com a restrição do envio de medicamentos.

Bruno Parrilla afirmou ainda que os danos causados pelo embargo nos últimos 50 anos totalizam mais de US$ 751 bilhões corrigidos.

A resolução da Assembleia Geral reitera pedidos já anteriormente formulados para que as nações "deixem de promover e aplicar leis e medidas" que não estão de acordo com as obrigações dos países em reafirmar a liberdade do comércio.

25 outubro, 2010

Condições prisionais de crianças palestinas em Israel: maus-tratos e tortura

A organização Defence for Children Internacional-Palestina (DCI-Palestina) submeteu à Subcomissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu uma apresentação relatando as condições enfrentadas pelas crianças palestinas detidas em centros de interrogatório, de detenção e prisões de Israel.

O relatório apresentado pela DCI-Palestina à Subcomissão fornece provas de maus-tratos e tortura durante os estágios iniciais de detenção, e inclui também:
  • Informações de que 58 % das crianças palestinas detidas estão sendo mantidas dentro de Israel, em violação do artigo 76.º da Quarta Convenção de Genebra;
  • Informações que indicam que até 42,5 % das crianças detidas não estão devidamente separadas dos presos adultos;
  • Provas de que 55 % das crianças palestinas detidas queixam-se de receberem alimentação, água ou segurança desadequados;
  • Informações que indicam que a maioria das crianças palestinas detidas não recebem visitas de familiares durante os primeiros três meses de detenção, e não são autorizadas a estabelecer comunicação por telefone com os seus familiares;
  • Provas de que as crianças palestinas detidas recebem serviços de educação desadequados dentro da prisão e, nalguns casos, não são prestados tais serviços de educação, e
  • Provas de que crianças detidas no Centro de Interrogatório e Detenção de Al Jalame, perto de Haifa, são rotineiramente submetidas a maus-tratos graves, incluindo o abuso de posição, privação do sono e confinamento solitário.
A DCI-Palestina continua a exigir que todos os interrogatórios de crianças palestinas detidas sejam gravados em audiovisual, e que nenhuma criança palestina esteja detida no interior de Israel, em violação do artigo 76.º da Quarta Convenção de Genebra.

OLP acusa Israel de ter enfraquecido a eficácia do sistema das Nações Unidas

Actualizado com a tradução para português às: 19:15 de 2010.10.25


Comunicado da Organização de Libertação da Palestina


Dr. Saeb Erakat: “Israel tem enfraquecido a eficácia do sistema das Nações Unidas.”

Neste dia, em que se comemora o 65. º aniversário da Organização das Nações Unidas, o principal negociador palestino, Dr. Saeb Erekat, lembrou que "a Palestina continua ocupada e o direito do povo palestino à autodeterminação continua por cumprir. Neste dia histórico, pedimos a todos os Estados membros que honrem os nobres objectivos das Nações Unidas, mantendo Israel responsável pela sua continuada ocupação da Palestina e que defendam os direitos dos refugiados palestinos ".

Através da Carta das Nações Unidas, os Estados membros comprometeram-se a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, promover os direitos humanos e a "estabelecer as condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e outras fontes do direito internacional possam ser mantidos."

O Dr. Erekat declarou que "quando Israel, aderiu às Nações Unidas em 1949, prometeu defender esta causa. Em vez disso, o que temos assistido é a constantes violações não só da Carta, mas de numerosas Resoluções da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança. No processo, Israel tem enfraquecido a eficácia e a desvalorizado o Sistema das Nações Unidas, e a própria autoridade através da qual ele foi criado. Em vez disso, Israel trabalha diligentemente para pressionar os seus aliados para se oporem à criação de um Estado palestino ".

O Dr. Erekat concluiu: "É hora para que Israel pare com o seu flagrante menosprezo ao direito internacional e ao consenso internacional. É hora para que Israel respeite os direitos humanos e o direito à autodeterminação do povo palestino. É tempo da comunidade internacional decidir Israel responsável pelo seu menosprezo pelo direito internacional. É tempo para a Palestina ser livre. "

Os direitos dos palestinos estão bem fundamentados em diversas fontes de direito internacional. A seguir estão alguns exemplos:

  • Sobre os Refugiados: Em 1948, a Assembleia Geral da ONU afirmou o direito de regresso dos refugiados palestinos quando decidiu que os palestinos "refugiados que desejem regressar aos seus lares e viver em paz com os seus vizinhos devem ser autorizados a fazê-lo o mais rapidamente possível ".
  • Sobre a ocupação de Israel: Em 1967, o Conselho de Segurança da ONU enfatizou "a inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra" e exigiu a retirada das forças armadas de Israel dos territórios [palestinos]".

  • Sobre Jerusalém: Em 1980, o Conselho de Segurança da ONU reafirmou que todas as "acções tomadas por Israel, Potência Ocupante, com a intenção de alterar o carácter e status de Jerusalém... não tem validade jurídica..."


  • Sobre os colonatos israelitas: o artigo 49.º (paragrafo 6), da Quarta Convenção de Genebra prevê que "a Potência Ocupante não poderá deportar ou transferir partes de sua própria população civil para o território que ocupa."


24 outubro, 2010

Comboio humanitário "Viva Palestina" chega a Gaza por Rafah

Um comboio de ajuda humanitária composto por mais de cem viaturas entrou hoje em Gaza através de Rafah com 5 milhões de dolares de ajuda para os habitantes da Faixa de Gaza bloqueada por Israel.

“Carta a um jovem republicano” por António Mega Ferreira, na Notícias Sábado

Na revista Notícias Sábado, um suplemento semanal do DN, existe uma secção de opinião “A espuma das coisas”, assinada por António Mega Ferreira.

Este sábado a sua crónica intitulava-se “Carta a um jovem republicano”.

Nela contextualiza o 5 de Outubro tendo como referência uma entrevista dada pelo Professor Magalhães Godinho, historiador, ao Jornal das Letras de 6 de Outubro.

Entendo que dados os créditos e com a devida vénia ao autor e ao Diário de Notícias me será permitido reproduzi-la na integra.

Caro André,

Uma noite destas, entre a perplexidade e a indignação, perguntaste-me como é possível que a imprensa tenha publicado nos últimos tempos tantos artigos em que a República, a Primeira, a que verdadeiramente conta, é posta de rastos. Isto no ano do centenário da sua implantação. Pois é, mas que queres? Quando os dois líderes dos partidos de direita nem sequer se dignaram estar presentes na cerimónia oficial, que outra coisa havia a esperar anão ser este desfile de baboseiras, ressentimentos, ódios recalcados e pós-salazarismos mal disfarçados? Não foi o líder da oposição que escolheu um monárquico confesso para coordenar o seu projecto de revisão da Constituição da República?

Em Portugal, meu caro André, tudo foi partidarizado até à irrisão. Temos uma justiça partidarizada, uma educação partidarizada e até, pasme-se, o Serviço Nacional de Saúde (uma evidência histórica e civilizacional) serve de arma de arremesso entre os partidos políticos. De modo que a República tornou-se, ela também, um campo de batalha que nem sequer tem o mérito de ser ideológico - é apenas grosseiramente politiqueiro. Para uma direita que é ainda em larga medida boçal, a reivindicação da República é uma coisa da esquerda, e, como tal, deve ser renegada como se do Anticristo se tratasse. Para uma esquerda que se diz novíssima, e que tem as suas tribunas académicas e jornalísticas, a República falhou porque não foi obreirista - num país onde não haveria, se tanto, mais de duzentos mil operários. Aqui tens como o ressentimento de uns e a frustração retrospectiva de outros se plasmou nessa corrente de opiniões demolidoras desse impulso decisivo para a modernidade que foi, com todas as suas contradições e insuficiências, a Primeira República.

E, no entanto, no meio de tanto disparate opinativo, há um texto enorme, de uma lucidez desarmante e de raciocínio rigoroso, que acabou por emergir da floresta de ressentimentos vários. Refiro-me à entrevista dada pelo historiador Vitorino Magalhães Godinho (VMG) ao JL de 6 de Outubro. O professor tem 92 anos e, como sabes, um currículo incomparável. E tem, sobretudo, um conhecimento dos factos que o toma voz autorizada, quando se trata de avaliar, à distância de quase cem anos, o que foi e o que significa a República implantada em 1910.

Desse longo e esclarecedor documento, interessa-me aqui, por causa das tuas perplexidades, a forma como o professor explica, ainda que indirectamente, a incompreensão generalizada de que sofre, nas colunas de opinião, a Primeira República. «Falta às pessoas uma certa preparação e uma certa sensibilidade para compreender que em 1910 não se punham os problemas que se colocam em 1940. A sociedade era diferente, totalmente mesmo. Nessa época, pensava-se sobretudo em termos políticos e cívicos (...) A parte social, que muitas vezes é criticada, não era muito comum na época, sobretudo num país como o nosso, em que setenta por cento da população era analfabeta e 65 porcento trabalhavam no campo. Por conseguinte, o problema social era diferente do de outros países europeus, até porque a terra não dava para alimentar a população»

V.M.G. valoriza, é claro, aquele que é o maior legado cultural da República: «a aposta na educação e na instrução superior». E, pelo caminho, desfaz alguns equívocos e mitos (mal) alimentados: o do improviso que teria sido o 5 de Outubro, o da impreparação do corpo expedicionário português ou o de que a motivação da participação de Portugal na Guerra se deveu a meros interesses de consolidação do regime republicano. Mas não hesita em considerar que a República nunca foi um movimento popular «porque Portugal não tinha grandes cidades, apenas vilas com uma burguesia média», que era «geralmente republicana e estava preparada para apoiar (a revolução)».

Mas a entrevista aborda tudo: a contra-informação monárquica, a política de resistência das classes privilegiadas, o sidonismo, as aparições de Fátima. E, em jeito de balanço: «A civilização moderna só floresce com a liberdade de pensar e de criar, recusa a clerocracia como a teocracia - supõe pois a laicidade nas instituições públicas e nas relações sociais,» Foi isso o projecto do 5 de Outubro.

Eu identifico-me com este programa, que é um valor para a vida. E tu?

23 outubro, 2010

A ICAR e o conflito israelo-palestino: um passo em frente... omitindo Gaza

Hoje o Público referiu a mensagem final do Sínodo do Médio Oriente, titulando "Igreja Católica pede à ONU que ponha fim à ocupação israelita dos territórios palestinianos". No entanto na notícia faltavam referências a Gaza e a Jerusalém, por isso entendi avaliar a mensagem do Sínodo.

Aqui ficam os resultados e o meu comentário.

Durante a XIV Congregação Geral realizada na tarde de ontem, sexta-feira 22 de Outubro de 2010, os Padres sinodais aprovaram a Nuntius, a Mensagem ao Povo de Deus, na celebração da Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos.

(O texto completo em inglês pode ser encontrado seguindo este link. Nesse local ainda encontrará ligações para as versões publicadas em árabe, francês e italiano.)

Este Sínodo é um acontecimento extraordinário já que reuniu pela primeira vez, não só Patriarcas e Bispos das Igrejas Católicas do Médio Oriente e o Papa, mas os cardeais e arcebispos, responsáveis dos vários departamentos da Cúria Romana, os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo, os representantes das Igrejas ortodoxas e das comunidades eclesiais e convidados judeus e muçulmanos.

Se um Sínodo só por si é um acontecimento relevante na Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), esta participação alargada acresce uma dimensão política ainda mais forte e significante.

A Nuntius foi organizada em 7 capítulos, com uma Introdução e uma Conclusão.

Aqui apenas referiremos dois pontos, que traduzimos, desse documento, que no essencial é pastoral, e que entendemos relevantes para entender a posição agora tomada pela ICAR, quanto ao conflito israelo-palestino:

1.º. A caracterização das condições políticas e de segurança referidas aos palestinos e israelitas, que respigámos do ponto 3.2, inserido no Capitulo I - A Igreja no Oriente Médio: comunhão e testemunho ao longo da História e que apresentamos :

Avaliámos a situação social e a segurança pública em todos os países do Médio Oriente. 

Tomamos em consideração o impacto do conflito israelo-palestino em toda a região, especialmente sobre os palestinos que estão sofrendo as consequências da ocupação israelita: a falta de liberdade de movimentos, o muro de separação e os postos de controlo militar, os prisioneiros políticos, a demolição de casas, a perturbação da vida socioeconómica e os milhares de refugiados.

Reflectimos sobre o sofrimento e a insegurança em que vivem os israelitas. 

Temos meditado sobre a situação da cidade santa de Jerusalém. Estamos preocupados com as iniciativas unilaterais que ameaçam a sua natureza e que arriscam alterar o seu equilíbrio demográfico. 

Com tudo isso em mente, vemos que uma paz justa e duradoura é a única salvação para todos e para o bem da região e seus povos.

2.º. O “Apelo á Comunidade Internacional”, (Capítulo VII), que excedendo o âmbito anteriormente definido, entendemos relevante apresentar na integra: 

Os cidadãos dos países do Médio Oriente Médio solicitam à comunidade internacional, nomeadamente às Nações Unidas, para que trabalhem conscienciosamente para encontrar uma solução definitiva, justa e pacífica, na região, através da aplicação das resoluções do Conselho de Segurança e para que tomem as medidas legais necessárias para pôr fim à ocupação dos diferentes territórios árabes.

O povo palestino terá assim uma pátria independente e soberana, onde possa viver com dignidade e segurança. O Estado de Israel poderá assim desfrutar de paz e segurança dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. 

A Cidade Santa de Jerusalém poderá obter o seu estatuto próprio, que respeite o seu carácter particular, a sua santidade e o património religioso das três religiões: judaica, cristã e muçulmana. Esperamos que a Solução dos Dois Estados, possa tornar-se uma realidade e não um sonho apenas.

O Iraque irá ser capaz de pôr fim às consequências da sua guerra mortal e restabelecer uma forma segura de vida que protegerá todos os seus cidadãos em todas as suas estruturas sociais, quer religiosas, quer nacionais.

O Líbano será capaz de desfrutar de soberania sobre todo o seu território, reforçar a sua unidade nacional e continuar na sua vocação para ser o modelo de coexistência entre cristãos e muçulmanos, do diálogo entre diferentes culturas e religiões, e da promoção das liberdades públicas básicas.

Condenamos a violência e o terrorismo venha donde vier, bem como todo o extremismo religioso. Condenamos todas as formas de racismo, o anti-semitismo, o anti-cristianismo e a islamofobia e conclamamos as religiões a assumir a sua responsabilidade de promover o diálogo entre culturas e civilizações na nossa região e em todo o mundo.

A caracterização das condições políticas e de segurança referidas aos palestinos e israelitas realizada pelo Sínodo e acima referidas, estariam totalmente correctas se não tivessem omitido uma questão fundamental: o bloqueio ilegal da Faixa de Gaza e a tragédia humanitária que ali se vive.

E ao apelar ao “… fim à ocupação dos diferentes territórios árabes.” não me parece englobar nesse domínio a Faixa de Gaza, que está cercada e sob bloqueio, mas que tecnicamente não está ocupada. 

Nem vejo onde poderia incluir, a questão da tragédia humanitária dos palestinos de Gaza, presos uma imensa prisão a céu aberto, em condições totalmente distintas dos palestinos da Cisjordânia ocupada.

Em política a omissão esconde quase sempre a reserva mental e a incapacidade para lidar com uma realidade incomoda. Gostava de poder avaliar esta questão de forma diferente, para bem dos palestinos de Gaza infelizmente, a razão e a história, não me permitem cair nesse "engano da alma, ledo e cego".

De todas as formas esta tomada de posição da ICAR é no geral positiva, e é um bom sinal para a paz no Médio Oriente, tendo em conta o carácter conservador desta teocracia e da sua diplomacia.

Se a ICAR tomou tal posição neste momento é porque definiu existir uma forte propensão para o "império" e seus aliados estarem dispostos a resolver de alguma maneira a ocupação ilegal da Palestina.
É ainda de sublinhar que na sua mensagem o Sínodo , ao referir-se a Jerusalém, inclui a seguinte expressão: “Esperamos que a Solução dos Dois Estados, possa tornar-se uma realidade e não um sonho apenas.”, que em meu entendimento é o reconhecimento de Jerusalém como a capital de ambos os Estados.
Só é pena que tenha sido preciso tanto tempo para a ICAR reconhecer o que estava à vista de quem não desviasse o olhar. Mas mais vale tarde do que nunca.
Mas também é preciso, precisamente neste momento, não esquecer os muitos católicos, sacerdotes e fiéis, que por todo o mundo, desde sempre, se mostraram publicamente do lado da Justiça e se envolveram militantemente no combate por uma Palestina independente, soberana e livre, que garantisse a segurança e a paz com Israel.

Tardou mas chegou: Igreja Católica pede à ONU que ponha fim à ocupação israelita dos territórios palestinianos

Igreja Católica pede à ONU que ponha fim à ocupação israelita dos territórios palestinianos - Mundo - PUBLICO.PT

Respigado do Público:

O Sínodo dos bispos católicos especialmente dedicado ao Médio Oriente pediu hoje às Nações Unidas e à comunidade internacional que acabem com a ocupação israelita dos territórios palestinianos.


“Os cidadãos dos países do Médio Oriente - lê-se no texto distribuído hoje pelo Vaticano - pedem à comunidade internacional, em particular à ONU, que trabalhe sinceramente para uma solução de paz justa e definitiva na região. Isto através da aplicação das resoluções do Conselho de Segurança; e através da adopção das medidas jurídicas necessárias para acabar com a ocupação dos diferentes territórios árabes”.

"Esqueceram-se"  de referir Gaza que técnicamente não está ocupado? Ou será uma questão de "política"?


Leia o resto seguindo o link acima indicado.

22 outubro, 2010

Actualizado: "Os países árabes devem-se unir para apoiar uma paz global" por Jimmy Carter

Actualizado com a tradução para português às: 00:42 de 2010.10.24

Respigado do blog da secção "Médio Oriente" do site da organização "The Elders"

The Elders - Jimmy Carter | 22 Oct 2010


Ao longo da nossa [The Elders] missão no Médio Oriente não encontramos ninguém que tivesse confiança no sucesso futuro do vacilante processo de paz. Em vez disso, ouvimos um fluxo constante de reclamações sobre as políticas de Israel, que são muitas vezes apoiadas ou toleradas pelos Estados Unidos. Não há dúvida de que muitas dessas preocupações se justificam, especialmente aquelas focadas na ocupação e colonização israelita da Palestina por colonos.

O que geralmente é esquecido nesta região é a relutância entre as nações árabes para assumir a responsabilidade pela falta de progresso em direcção à paz e à justiça para os palestinos ou do alívio do seu sofrimento. Os líderes políticos estão relutantes em tomar uma acção corajosa e concertada, mesmo que para promover a admirável Iniciativa Árabe de Paz, se existir o perigo de desagradar os Estados Unidos (ou a Israel).

A terrível situação do milhão e meio de palestinos em Gaza é aceite ou ignorado a tal ponto que 40.000 crianças em idade escolar estão sendo privadas de educação, enquanto alguns poucos felizardos assistem às aulas em contentores abandonados. Eles precisam de 250 novas escolas, mas nenhuns materiais de construção estão disponíveis para substituir ou reparar as casas, escolas, hospitais e outros edifícios públicos destruídos - com excepção de pequenas quantidades que chegam através dos túneis do sul. Onde está o clamor concertado ou uma torrente de ajuda financeira?

Existe uma relutância por parte de importantes líderes árabes de dar um forte apoio à reunificação das duas principais facções palestinas, o que permitiria que um governo de transição para realizar as há muito esperadas eleições e para que condições de normalidade sejam retomadas na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza .

O facto é que ninguém está sofrendo realmente na região, excepto os palestinos, e um esforço especial está sendo feito por Israel e por alguns outros poderes para tornar óbvio que a privação em Gaza, sob a direcção do Hamas é sempre pior do que noutras partes da Palestina, onde a Fatah tem o controlo.

É inconveniente recordar que os candidatos do Hamas triunfaram nas últimas eleições palestinas em Janeiro de 2006. Eles foram então declarados terroristas, privados de tomar posse, e todos aqueles que estavam fora de Gaza foram presos e punidos de outras maneiras. Existe um esforço por parte de Israel para deportar os que vivem em Jerusalém Oriental.

Existem muitas pessoas na Europa e nos Estados Unidos, que condenam a subjugação e a punição do povo palestino e apoiam um Israel plenamente reconhecido, pacífico e seguro. Eles precisam de um ponto de encontro, que não estará disponível até o mundo árabe esteja unido na defesa de ambos os objectivos. Uma crítica abafada e equívoca das políticas israelitas e deferência para com as dos Estados Unidos não será suficiente.

Os palestinos estão cada vez mais desesperados. Rezamos para que Israel pare com a construção nos colonatos para que as conversações de paz possam ser retomadas, mas outras acções serão necessárias se este esforço falhar. Uma opção bastante referida é a da Palestina ser reconhecida pela ONU e que lhe seja prestado apoio como um estado, dentro das fronteiras de 1967. Se os Estados Unidos vetar este movimento, então os países árabes, os da Europa, e outros ao redor do mundo devem agir. Pelo menos, o impasse seria quebrado.


Actualização: "Porquê os colonatos?" por Hagit Ofran

Actualizado com a tradução para português às: 19:15 de 2010.10.24
 
Respigado do blog da secção "Médio Oriente" do site da organização "The Elders"



Porquê os colonatos?

"Colonatos" será de certeza uma palavra-chave durante a visita da missão dos “Elders” a Israel e aos territórios palestinianos ocupados. A questão do "congelamento dos colonatos", está na agenda mundial, como parte dos esforços para iniciar negociações reais entre os palestinos e Israel. Mas porquê que a questão dos colonatos é vista como um obstáculo no caminho para a paz?

Como judia israelita que acredita firmemente que a única maneira para que possamos realizar o sonho sionista de um Estado judeu e democrático, na terra de Israel é estabelecer um Estado palestino lado a lado com Israel, eu vejo a construção em curso nos colonatos como a nosso própria "marcha da insensatez".

Nos 43 anos de ocupação, Israel estabeleceu 120 colonatos (e outros 95 "postos avançados” ilegais)  [todos eles são ilegais face ao direito internacional e às resoluções do Conselho de segurança das Nações Unidas] na Cisjordânia. Eles são o lar para 296.700 colonos. Em Jerusalém Oriental, 192 mil israelitas residem em outros 12 bairros israelitas em terras ocupadas anexadas unilateralmente por Israel.

Para que os dois lados possam viver em paz, Israel terá de parar com a ocupação e permitir a criação de um Estado palestino viável nos territórios ocupados. A maioria destes colonatos terá de ser removida. Como Israel continua a desenvolver os colonatos, isso tornar-se-á cada vez mais difícil.

Há algumas semanas atrás, [o movimento israelita] Peace Now organizou "uma conferência de imprensa nos céus". Convidamos cerca de 50 jornalistas, membros do Knesset e líderes de opinião pública para um voo sobre a Cisjordânia. Foi uma das nossas maneiras de transmitir a mensagem ao povo israelita, de que os colonatos já estão muito grandes e profundamente encravados no território [ocupado] - e que estamos, portanto, quase num ponto sem retorno para a solução dos Dois Estados.

Screenshot of Peace Now's 'Facts on the ground' map project
Projecto do mapa de “Factos no terreno“ do movimento Peace Now

Em paralelo a nossa organização irmã, a Americans for Peace Now, lançou uma nova aplicação para iPhone com um mapa de todos os colonatos e informações detalhadas acerca deles para que todos possam ver e entender a importância da questão.

O gráfico seguinte mostra o número de novas habitações que começaram a ser construídas nos colonatos entre 1973 e 2009, segundo dados do Departamento Central de Estatísticas de Israel.

Graph showing settlement construction from 1973 to 2009
Gráfico mostrando a construção de colonatos de 1973 a 2009

Como podemos ver, mesmo após o início do processo de Oslo, em 1993, quando Israel e os palestinos concordaram em iniciar um processo que deveria ter terminado com um acordo de dois estados em 1999, Israel continuou a construir nos colonatos. De facto, desde os acordos de Oslo, o número de colonos mais do que duplicou (de 116.000 em 1993 para 296.700 em 2009).

Colonatos e o processo de paz

Cada novo tijolo assente nos colonatos é uma mensagem aos palestinos de que Israel não tem intenção de abandonar os territórios ocupados. A liderança palestina perde o que resta da sua credibilidade junto do povo palestino, sempre que a construção continua. Para eles, é quase impossível continuar as negociações com Israel, enquanto a construção estiver em curso.

Alguns podem argumentar que isso significa que Israel não quer realmente a paz. Eu acho que essa é uma explicação muito simplista.

A opinião pública de Israel mudou drasticamente nos últimos anos. Quando o primeiro-ministro Rabin iniciou o processo de Oslo, em 1993, houve muita oposição em Israel contra isso (liderada por Netanyahu, então como membro do Knesset). Mesmo na área do Partido Trabalhista, havia receio em mencionar as palavras "Estado palestino". Com o passar dos anos, muitos daqueles que se opuseram fortemente à solução de Dois Estados, incluindo Ehud Olmert e Tzipi Livni (talvez até o próprio Netanyahu), juntaram-se àqueles que defendem essa posição. As sondagens mostram que a maioria dos israelitas está disposta a desistir dos colonatos e a pagar o preço da paz, só que eles não acreditam que o outro lado vá concordar.

Então porque é que Israel continua a construir nos colonatos?

Eu penso que psicologicamente o povo israelita considera que já concordamos em desistir da maioria dos colonatos. É como se tivéssemos feito a nossa parte: agora estamos esperando que os palestinos façam a sua parte e que aprovem as últimas questões. Até que os palestinos possam avançar nesta direcção, parece que a construção de colonatos é "business as usual" para a maioria dos israelitas.

Eu acredito que essa atitude acaba por prejudicar os interesses de Israel. O Projecto do Observatório dos Colonatos do movimento Paz Agora tenta desafiar essa sensação de complacência, reunindo informações sobre a construção de colonatos para que possam ser conhecidos e debatidos na imprensa israelita.

Desejo à missão dos Elders uma boa viagem. Estou certo de que o facto de estarem aqui mais uma vez, levantará a questão dos colonatos e ajudará a explicar a um povo cansado da urgência da paz.

Hagit Ofran dirige o Projecto do Observatório dos Colonatos do movimento israelita Paz Agora (Shalom Achshav). Amplamente reconhecida como a maior especialista de Israel em colonatos da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, Hagit é responsável por monitorar, controlar e analisar a construção e planeamento dos colonatos israelitas na Cisjordânia.

O seu trabalho inclui viagens diárias através da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental monitorando a evolução relacionada com colonatos, obtendo e analisando fotos aéreas dos colonatos e examinando documentos oficiais israelitas.

Entregue na ONU petição contra a violência sobre as mulheres nos conflitos armados

Ontem, na sede da ONU em Nova York, o secretário-geral Ban Ki-moon, recebeu 22.219 assinaturas da petição “Dizer NÃO à violência sexual contra as mulheres nos conflitos armados e SIM à plena implementação da resolução 1325 do Conselho de Segurança sobre mulheres, paz e segurança.

No 10 º aniversário da histórica resolução que apela à protecção das mulheres em zonas de conflito e à sua inclusão na construção da paz, vozes de todo o mundo enviaram um forte sinal para a acção ao Conselho de Segurança da ONU. A petição pede aos Estados-Membros que apoiem três medidas para a implementação da resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU:
  • Processar todos aqueles que comandaram e / ou cometeram violência sexual e excluí-los das forças militares e de segurança após o conflito.
  • Garantir que as mulheres participam nas negociações de paz e em todas as instituições responsáveis por tomar decisões pós-conflito.
  • Aumentar o número de mulheres nas forças militares, de segurança e organizações civis afectadas aos esforços internacionais de manutenção da paz.

21 outubro, 2010

"O elefante, a cobra... e certos deputados" abstencionistas quanto ao aumento do salário mínimo

Uma recomendação apresentada pelo PCP, para que o Governo cumpra o já acordado em sede de concertação social e assim aumente em 2011 o salário mínimo de €475,00 para € 500,00, foi aprovada com os votos do PCP, PEV e BE.

Os restantes partidos com representação parlamentar - PS, PSD e CDS - abstiveram-se.

Onde chega a hipocrisia e a cobardia política.

Como apenas temos acesso às informações ainda escassas dos meios de comunicação social - aliás este não é um "grande tema" - ficámo-nos por aqui, dizendo apenas que esta seria uma medida que não poria em causa a redução nem do deficite, nem da dívida pública, antes pelo contrário, já que aumentaria a receita fiscal sendo antes uma medida anti-recessiva.

Por coincidência recebi hoje uma "fábula", que me fez sorrir. Tinha intenção de a reenviar apenas para alguns dos meus amigos mais íntimos, porque não gosto de fomentar o populismo de revista que a todos congrega sem distinção nem justiça.

Depois disto resolvi publicá-la, como testemunho do meu profundo desprezo pelos deputados abstencionistas perante  uma medida de justiça social.

O elefante, a cobra e... certos deputados *

Um elefante vê uma cobra pela primeira vez. Muito intrigado pergunta:

- Como é que fazes para te deslocar? Não tens patas!

– É muito simples – responde a cobra - rastejo, o que me permite avançar.

- Ah... E como é que fazes para te reproduzires? Não tens tomates!

– É muito simples – responde a cobra já irritada – ponho ovos.

- Ah... E como é que fazes para comer? Não tens mãos nem tromba para levar a comida à boca!

– Não preciso! Abro a boca assim, bem aberta, e com a minha enorme garganta engulo a minha presa directamente.

- Ah... Ok! Ok! Então... resumindo: Rastejas, não tens tomates e só tens garganta... És deputado de que partido?

* De autor não identificado

20 outubro, 2010

Sacerdote brasileiro chama candidatos à Terra em "Abortando a eleição"

Um texto gostoso e inteligente do Padre Otto Dana* sob a incursão dos candidatos Dilma e Serra pelos campos da religião, nesta segunda volta. Respigado do Blog do Luís Nassif.

Abortando a eleição 

(Publicado em 2010.10.11 no Guia Rio Claro)

Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!

Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento.

O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denuncia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.

Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola.

Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.

Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc.

E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB.

Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos, no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!

* Padre Otto Dana é Pároco da Igreja Sant´Ana em Rio Claro - São Paulo (Diocese de Piracicaba - SP).

19 outubro, 2010

A Alemanha e o falhanço do multiculturalismo por George Friedman

Uma análise de George Friedman sobre o significado e repercussões das declarações da Senhora Angela Merkel no passado dia 16 de Outubro, numa reunião com jovens militantes do seu partido CDU (União Democrata Cristã).

Apesar de não concordar nem subscrever o seu posicionamento político, no geral, e neste caso a sua visão de “luta de culturas”, entendo que é de ter em conta as suas análises, normalmente bem informadas, construídas, documentadas e apresentadas de forma simples e directa.

Antes recordo alguns passos das declarações de Angela Merkel:

"No início dos anos 60, o nosso país chamou trabalhadores estrangeiros e eles agora vivem aqui. Durante algum tempo mentimos a nós próprios pensando: ''Eles não ficam e algum dia hão-de partir''. Isto não é a realidade"
...
"É claro que a perspectiva de que poderíamos construir uma sociedade multicultural, vivendo lado a lado e gozando da companhia uns dos outros, falhou. Falhou completamente."
...
"Nós sentimo-nos ligados aos valores cristãos. Quem não os aceita não encontra lugar aqui" [Esta afirmação tem sido curiosamente camuflada ou omitida pela generalidade da comunicação social].

Merkel não só declarou o óbito do multiculturalismo na Alemanha como abriu caminho ao recrudescimento do etnocentrismo germanófilo com as naturais consequências negativas em termos de intolerância, xenofobia e de racismo.

Note-se que o debate sobre a imigração e islamismo na Alemanha segue aceso e numa preocupante deriva onde a xenofobia e a islamofobia ganham foros de maioria, como é demonstrado num estudo publicado na passada quarta-feira, 13, pela Fundação Friedrich Ebert (com ligações ao Partido Social Democrata, na oposição) onde se concluiu que um terço dos alemães defende a repatriação dos imigrantes e mais de metade – 58,4 por cento – manifesta-se favorável a restrições à prática do islamismo.

Se as declarações de Merkel tinham por objectivo táctico aplacar e satisfazer as alas mais radicais do seu eleitorado, de facto, tiveram como resultado projectarem a discussão para um nível mais alargado, com consequências que, face à actual crise económica-financeira e ao correspondente desemprego, actuarão como um acelerador para manifestações de racismo e xenofobia, que ultrapassarão as fronteiras da Alemanha. Os sinais estavam aí, para quem os quissesse ver, há já algum tempo.




This report is republished with permission of  STRATFOR

Germany and the Failure of Multiculturalism

October 19, 2010

By George Friedman


German Chancellor Angela Merkel declared at an Oct. 16 meeting of young members of her party, the Christian Democratic Union, that multiculturalism, or Multikulti, as the Germans put it, “has failed totally.” Horst Seehofer, minister-president of Bavaria and the chairman of a sister party to the Christian Democrats, said at the same meeting that the two parties were “committed to a dominant German culture and opposed to a multicultural one.” Merkel also said that the flood of immigrants is holding back the German economy, although Germany does need more highly trained specialists, as opposed to the laborers who have sought economic advantages in Germany.

The statements were striking in their bluntness and their willingness to speak of a dominant German culture, a concept that for obvious reasons Germans have been sensitive about asserting since World War II. The statement should be taken with utmost seriousness and considered for its social and geopolitical implications. It should also be considered in the broader context of Europe’s response to immigration, not to Germany’s response alone.


The Origins of the German Immigration Question

Let’s begin with the origins of the problem. Post-World War II Germany faced a severe labor shortage for two reasons: a labor pool depleted by the devastating war — and by Soviet prisoner-of-war camps — and the economic miracle that began on the back of revived industry in the 1950s. Initially, Germany was able to compensate by admitting ethnic Germans fleeing Central Europe and Communist East Germany. But the influx only helped assuage the population loss from World War II. Germany needed more labor to feed its burgeoning export-based industry, and in particular more unskilled laborers for manufacturing, construction and other industries.

To resolve the continuing labor shortage, Germany turned to a series of successive labor recruitment deals, first with Italy (1955). After labor from Italy dried up due to Italy’s own burgeoning economy, Germany turned to Spain (1960), Greece (1960), Turkey (1961) and then Yugoslavia (1968). Labor recruitment led to a massive influx of “Gastarbeiter,” German for “guest workers,” into German society. The Germans did not see this as something that would change German society: They regarded the migrants as temporary labor, not as immigrants in any sense. As the term implied, the workers were guests and would return to their countries of origin when they were no longer needed (many Spaniards, Italians and Portuguese did just this). This did not particularly trouble the Germans, who were primarily interested in labor.

The Germans simply didn’t expect this to be a long-term issue. They did not consider how to assimilate these migrants, a topic that rarely came up in policy discussions. Meanwhile, the presence of migrant labor allowed millions of Germans to move it from unskilled labor to white-collar jobs during the 1960s.

An economic slowdown in 1966 and full-on recession following the oil shock of 1973 changed labor conditions in Germany. Germany no longer needed a steady stream of unskilled labor and actually found itself facing mounting unemployment among migrants already in country, leading to the “Anwerbestopp,” German for “labor recruitment stop,” in 1973.

Nonetheless, the halt in migration did not resolve the fact that guest workers already were in Germany in great numbers, migrants who now wanted to bring in family members. The 1970s saw most migration switch to “family reunions” and, when the German government moved to close that loophole, asylum. As the Italians, Spanish and Portuguese returned home to tend to their countries’ own successive economic miracles, Muslim Turks became the overwhelming majority of migrants in Germany — particularly as asylum seekers flocked into Germany, most of whom were not fleeing any real government retribution. It did not help that Germany had particularly open asylum laws in large part due to guilt over the Holocaust, a loophole Turkish migrants exploited en masse following the 1980 coup d’etat in Turkey.

As the migrants transformed from a temporary exigency to a multigenerational community, the Germans had to confront the problem. At base, they did not want the migrants to become part of Germany. But if they were to remain in the country, Berlin wanted to make sure the migrants became loyal to Germany. The onus on assimilating migrants into the larger society increased as Muslim discontent rocked Europe in the 1980s. The solution Germans finally agreed upon in the mid-to-late 1980s was multiculturalism, a liberal and humane concept that offered migrants a grand bargain: Retain your culture but pledge loyalty to the state.

In this concept, Turkish immigrants, for example, would not be expected to assimilate into German culture. Rather, they would retain their own culture, including language and religion, and that culture would coexist with German culture. Thus, there would be a large number of foreigners, many of whom could not speak German and by definition did not share German and European values.

While respecting diversity, the policy seemed to amount to buying migrant loyalty. The deeper explanation was that the Germans did not want, and did not know how, to assimilate culturally, linguistically, religiously and morally diverse people. Multiculturalism did not so much represent respect for diversity as much as a way to escape the question of what it meant to be German and what pathways foreigners would follow to become Germans.



Two Notions of Nation

This goes back to the European notion of the nation, which is substantially different from the American notion. For most of its history, the United States thought of itself as a nation of immigrants, but with a core culture that immigrants would have to accept in a well-known multicultural process. Anyone could become an American, so long as they accepted the language and dominant culture of the nation. This left a lot of room for uniqueness, but some values had to be shared. Citizenship became a legal concept. It required a process, an oath and shared values. Nationality could be acquired; it had a price.

To be French, Polish or Greek meant not only that you learned their respective language or adopted their values — it meant that you were French, Polish or Greek because your parents were, as were their parents. It meant a shared history of suffering and triumph. One couldn’t acquire that.

For the Europeans, multiculturalism was not the liberal and humane respect for other cultures that it pretended to be. It was a way to deal with the reality that a large pool of migrants had been invited as workers into the country. The offer of multiculturalism was a grand bargain meant to lock in migrant loyalty in exchange for allowing them to keep their culture — and to protect European culture from foreign influences by sequestering the immigrants. The Germans tried to have their workers and a German identity simultaneously. It didn’t work.

Multiculturalism resulted in the permanent alienation of the immigrants. Having been told to keep their own identity, they did not have a shared interest in the fate of Germany. They identified with the country they came from much more than with Germany. Turkey was home. Germany was a convenience. It followed that their primary loyalty was to their home and not to Germany. The idea that a commitment to one’s homeland culture was compatible with a political loyalty to the nation one lived in was simplistic. Things don’t work that way. As a result, Germany did not simply have an alien mass in its midst: Given the state of affairs between the Islamic world and the West, at least some Muslim immigrants were engaged in potential terrorism.

Multiculturalism is profoundly divisive, particularly in countries that define the nation in European terms, e.g., through nationality. What is fascinating is that the German chancellor has chosen to become the most aggressive major European leader to speak out against multiculturalism. Her reasons, political and social, are obvious. But it must also be remembered that this is Germany, which previously addressed the problem of the German nation via the Holocaust. In the 65 years since the end of World War II, the Germans have been extraordinarily careful to avoid discussions of this issue, and German leaders have not wanted to say things such as being committed to a dominant German culture. We therefore need to look at the failure of multiculturalism in Germany in another sense, namely, with regard to what is happening in Germany.

Simply put, Germany is returning to history. It has spent the past 65 years desperately trying not to confront the question of national identity, the rights of minorities in Germany and the exercise of German self-interest. The Germans have embedded themselves in multinational groupings like the European Union and NATO to try to avoid a discussion of a simple and profound concept: nationalism. Given what they did last time the matter came up, they are to be congratulated for their exercise of decent silence. But that silence is now over.


The Re-emergence of German Nation Awareness

Two things have forced the re-emergence of German national awareness. The first, of course, is the immediate issue — a large and indigestible mass of Turkish and other Muslim workers. The second is the state of the multinational organizations to which Germany tried to confine itself. NATO, a military alliance consisting mainly of countries lacking militaries worth noting, is moribund. The second is the state of the European Union. After the Greek and related economic crises, the certainties about a united Europe have frayed. Germany now sees itself as shaping EU institutions so as not to be forced into being the European Union’s ultimate financial guarantor. And this compels Germany to think about Germany beyond its relations with Europe.

It is impossible for Germany to reconsider its position on multiculturalism without, at the same time, validating the principle of the German nation. Once the principle of the nation exists, so does the idea of a national interest. Once the national interest exists, Germany exists in the context of the European Union only as what Goethe termed an “elective affinity.” What was a certainty amid the Cold War now becomes an option. And if Europe becomes an option for Germany, then not only has Germany re-entered history, but given that Germany is the leading European power, the history of Europe begins anew again.

This isn’t to say that Germany must follow any particular foreign policy given its new official view on multiculturalism; it can choose many paths. But an attack on multiculturalism is simultaneously an affirmation of German national identity. You can’t have the first without the second. And once that happens, many things become possible.

Consider that Merkel made clear that Germany needed 400,000 trained specialists. Consider also that Germany badly needs workers of all sorts who are not Muslims living in Germany, particularly in view of Germany’s demographic problems. If Germany can’t import workers for social reasons, it can export factories, call centers, medical analysis and IT support desks. Not far to the east is Russia, which has a demographic crisis of its own but nonetheless has spare labor capacity due to its reliance on purely extractive natural resources for its economy. Germany already depends on Russian energy. If it comes to rely on Russian workers, and in turn Russia comes to rely on German investment, then the map of Europe could be redrawn once again and European history restarted at an even greater pace.

Merkel’s statement is therefore of enormous importance on two levels. First, she has said aloud what many leaders already know, which is that multiculturalism can become a national catastrophe. Second, in stating this, she sets in motion other processes that could have a profound impact on not only Germany and Europe but also the global balance of power. It is not clear at this time what her intention is, which may well be to boost her center-right coalition government’s abysmal popularity. But the process that has begun is neither easily contained nor neatly managed. All of Europe, indeed, much of the world, is coping with the struggle between cultures within their borders. But the Germans are different, historically and geographically. When they begin thinking these thoughts, the stakes go up.

À atenção da maioria dos deputados portugueses: Uma lição a reter e implementar

Ao publicar esta reportagem brasileira da "BandNews" sobre os parlamentares na Suécia não pretendo fazer demagogia populista mas tão sómente destacar a diferença entre Servir e servir-se.

Nem todas as situações são aplicáveis aos deputados portugueses - aqui a referência foram as mordomias brasileiras.

Nem defendo o miserabilismo para quem ocupa cargos de representação democrática mas apenas e sempre a contenção da honestidade de quem se propôs para Servir.

Seria interessante poder aplicar, a todos os deputados sem excepção, o princípio a que os deputados do Partido Comunista Português se obrigam: receber o mesmo valor que receberiam no desempenho da sua anterior profissão, acrescido naturalmente das despesas inerentes ao desempenho da sua função de deputados.

Obviamente que haveria um tecto retributivo e neste caso, as diferenças não reverteriam para os Partidos, mas seriam poupança directa para o erário público.

Aqui fica o desafio e o vídeo

18 outubro, 2010

Actualização: Comunicado da OLP sobre a realização da Conferência de Turismo da OCDE em Jerusalém

Actualizado com a tradução para português às: 23:37 de 2010.10.18

"Ao organizar a conferência da OCDE em Jerusalém, Israel procura o reconhecimento de facto da sua anexação ilegal de Jerusalém Oriental".

O negociador palestino, Dr. Saeb Erekat, agradeceu aos países que decidiram anular a sua participação na Comissão de Turismo da OCDE, a realizar em Jerusalém, entre 20 e 22 Outubro.

"O controlo israelita sobre Jerusalém é ilegal e o Conselho de Segurança tem sido claro em exortar todos os Estados membros a não reconhecerem as reivindicações israelitas sobre a Cidade Santa. Ao hospedar a conferência da OCDE em Jerusalém, Israel procura o reconhecimento de facto da sua anexação ilegal de Jerusalém Oriental, e ao não comparecerem, os países enviaram a Israel uma mensagem clara de que não é um estado acima da lei. "

Stas Misezhnikov, o ministro israelita do Turismo, afirmou o desejo de Israel de usar a conferência da OCDE para solidificar as suas acções ilegais, quando caracterizou a realização da conferência como uma "declaração de intenções e um selo de aprovação para o facto de que temos um Estado cuja capital reconhecida é Jerusalém. ".

"A OCDE é uma organização amplamente respeitada. Os seus Estados membros são considerados modelos para a comunidade internacional. As acções de Israel no território palestino ocupado, incluído Jerusalém Oriental, contradizem totalmente os valores da organização. Realizar esta conferência em Jerusalém, cria a percepção de que a OCDE é conivente com as acções provocativas e ilegais de Israel nesta cidade ocupada ".

O Dr. Erakat apelou aos Estados que tenham indicado que irão participar na conferência, apesar das políticas e das declarações de Israel, "para cancelarem a sua participação e de públicamente repudiarem as acções ilegais israelitas, incluindo, a anexação unilateral de Jerusalém Oriental".

O chefe negociador palestino, elogiou o "papel vital dos grupos da sociedade civil palestinos e internacionais têm desempenhado ao granjear atenção sobre as questões relacionadas com esta conferência. Milhares de pessoas, incluindo advogados internacionais, estudantes, movimentos de solidariedade, de turismo alternativo e grupos de cristãos, apelaram à OCDE para não reconhecer acções unilaterais e ilegais israelitas ao realizar esta conferência em Jerusalém. "

Para informações mais detalhadas, consulte a nossa nova, "Jerusalém Não é a capital de Israel," no nosso website www.nad-plo.org ou clicando neste link .


For Immediate Release

October 18, 2010

Palestine Liberation Organization
Negotiations Affairs Department

Dr. Erakat: “By hosting the OECD conference in Jerusalem, Israel seeks de facto recognition of its illegal annexation of East Jerusalem”.

Chief Palestinian Negotiator, Dr. Saeb Erakat, thanked the countries that have decided to withdraw their attendance to the OECD Tourism Committee Summit to be held in Jerusalem, October 20 – 22.

“Israeli control over Jerusalem is illegal and the Security Council has been clear on calling all member states not to recognize Israeli claims over the Holy City. By hosting the OECD conference in Jerusalem, Israel seeks de facto recognition of its illegal annexation of East Jerusalem, and by not attending, countries have sent Israel a clear message that it is not a state above the law.”

Stas Misezhnikov, the Israeli Minister of Tourism, stated Israel’s desire to use the OECD conference to solidify its illegal actions when he characterized the holding of the conference as “declaration of intent and a seal of approval on the fact that we have a state whose recognized capital is Jerusalem.”.

“The OECD is a widely respected organization. Its member states are considered role models for the international community. Israel’s actions in the occupied Palestinian territory, included East Jerusalem, completely contradict the values of the organization. Holding this conference in Jerusalem creates the perception that the OECD is complicit with Israel’s provocative and unlawful actions in this occupied city.”

Dr. Erakat called on those states that have indicated that they will participate in the conference, despite Israeli polices and statements, “to cancel their participation and to publicly repudiate illegal Israeli actions, including, the unilateral annexation of occupied East Jerusalem”.

The Chief Palestinian Negotiator praised the “vital role that Palestinian and international civil society groups have played in garnering attention on the issues surrounding this conference. Thousands of people, including international lawyers, students, solidarity movements, alternative tourism and Christian groups, have called on the OECD not to recognize illegal unilateral Israeli actions by holding this conference in Jerusalem.”

For more detailed information, please reference our new factsheet, “Jerusalem is Not the Capital of Israel,” on our website www.nad-plo.org or by clicking the following link .

Editorial do Financial Times - Desobstruir a estrada para a Palestina

FT.com / Comment / Editorial - Unblocking the road to Palestine

Um editori- em inglês - a ter em consideração.

Mais e mais vozes mostrando que a alternativa à paz, para Israel, é transformar-se num Estado-pária, sob a batuta da coligação do Sr. Netanyahu.

Mary Robinson, em nome dos "Elders" critica Israel por continuar o bloqueio a Gaza

Robinson criticises Israel for continued blockade on Gaza - The Irish Times - Mon, Oct 18, 2010

Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, que dirige uma delegação da organização "The Elders" (Os Anciãos) em visita de trabalho à Faixa de Gaza criticou Israel e a comunidade internacional pela manutenção do bloqueio a Gaza, neste sábado, segundo o "The Irish Times"

Mary Robinson afirmou:

"Estive aqui pela última vez em 2008, pouco antes da guerra de Gaza. A situação se deteriorou de forma chocante desde então. Esta não é uma crise humanitária - é uma crise política, e isso pode ser resolvido politicamente.

"É inconcebível e inaceitável que Israel e a comunidade internacional não tenham levantado o bloqueio por completo permitindo que os habitantes de Gaza reconstruam as suas vidas e façam parte do mundo interligado, que nós tomamos por garantido."

Na sequência de uma reunião com o primeiro-ministro de facto Ismail Haniyeh, a Senhora Robinson declarou que o Hamas, que venceu as eleições parlamentares de 2006 e que controla Gaza, não deve ser excluído das negociações palestino-israelitas. Revelou que existem "notícias encorajadoras", sobre as conversas de reconciliação entre o Hamas e o Fatah, que administra os enclaves da Cisjordânia palestina.

Outro membro da delegação e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros argelino, Lakhdar Brahimi, pediu aos líderes palestinos para finalizarem o pacto de unidade elaborada pelo Egipto e pediu o fim do bloqueio.
"Reter milhão e meio de pessoas no que é efectivamente uma prisão aberta é o aprofundar o sentimento de raiva e de injustiça [entre] palestinos".

A activista indiana dos direitos humanos Ela Bhatt observou que os habitantes de Gaza "tem o direito de desenvolver a sua economia", mas verificam o agravamento das condições.

Os três membros da delegação, que também se reuniram com funcionários da ONU, líderes de opinião e organismos de direitos, emitiram uma declaração dizendo que o "isolamento de Gaza não é apenas uma punição colectiva ilegal, mas também um obstáculo para a paz."

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter juntar-se-á em Damasco à delegação, onde se reunirá com o comité político do Hamas, seguindo depois para Amã e para a Cisjordânia.

Em Ramallah "The Elders" esperam analisar com os governantes palestinos outras opções para além das negociações suspensas desde que Israel retomou a construção nos colonatos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Essas opções, incluindo o recurso ao Conselho de Segurança da ONU, serão submetidas no próximo mês à Liga Árabe.