19 dezembro, 2010

José Dias Coelho, artista plástico, comunista, assassinado pela PIDE (19/12/1961)


José Dias Coelho, assassinado a tiro, a sangue frio, em 19 de Dezembro de 1961.

Nesse dia, pelas oito horas da noite, cinco agentes da PIDE saltaram de um automóvel, perseguiram-no, cercaram-no, na então Rua da Creche, em Alcântara e que hoje tem o seu nome, e dispararam dois tiros.

Um tiro à queima-roupa, em pleno peito, deitou-o por terra; o outro foi disparado com ele já no chão.

Os assassinos meteram-no num carro e partiram a toda a velocidade.

Só duas horas depois, quando estava a expirar, o entregaram no Hospital da CUF.

Só após o 25 de Abril foi possível levar a Tribunal os agentes da PIDE envolvidos na sua morte. Pertenciam à Brigada de José Gonçalves. Nunca confessaram quem tinha denunciado Dias Coelho nem quem lhes dera ordens.

Apenas um foi condenado – António Domingues -, o autor dos dois disparos que atingiram Dias Coelho. Mas a pena que lhe foi imputada – três anos e seis meses – indignou a comunidade democrática portuguesa no início de 1977.

José Dias Coelho morreu porque era comunista.

Zeca Afonso prestou-lhe homenagem com estes versos e música.



A Morte Saiu à Rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome para qualquer fim

Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal

E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale

À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim

Na curva da estrada hà covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação.

Ver ainda:

Júlia Coutinho – JOSÉ DIAS COELHO – BREVE CRONOLOGIA PESSOAL E AFLUENTES

Júlia Coutinho – JOSÉ DIAS COELHO. A COERÊNCIA DO SER E DO FAZER

1 comentário:

antonio disse...

É...a década de 70 também foi muito cruel por aqui com quem pensava diferente dos vetores oficiais. Não conhecia nada além do que li agora sobre o artista plástico "José Dias Coelho". Lamento por sua morte brutal e criminosa, apenas por ser de esquerda!