30 abril, 2010

Criação de uma agência de rating europeia na ordem do dia

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Guido Westerwelle, declarou hoje que vai tomar iniciativas para criar uma agência de notação financeira europeia.

Aliás a ideia não é nova pois já Jean-Claude Juncker, o luxemburguês, Presidente do EuroGroup (o forum dos ministros das finanças da União Europeia) se tinha pronunciado, em 5 de Março passado, a favor da criação de uma agência de rating europeia, que seria supervisionada pelo Banco Central Europeu (BCE).

"Nós ouvimos demasiado as agências de notação", declarou então Juncker à rádio alemã Deuschlandfunk, "quando elas, a Standard & Poor's, Moody's e a Fitch, contribuíram para a queda dos mercados financeiros, a partir do final de 2008."

"Seria sensato que nós criássemos na Europa uma agência própria", acrescentou Juncker.

Eles mentiram! Alega o Procurador de Connecticut sobre a Standard & Poor's e a Moody's

É interessante notar que a Standard & Poor's (S&P), constitui com a Moody’s e a Fitch Ratings, todas elas empresas privadas americanas, a tríade que domina e determina as notações financeiras a nível mundial.

Dá que pensar, verificar como as economias dos países deste mundo estão tão fortemente vulneráveis a notações provenientes de empresas que representam, naturalmente, em primeiro lugar, os interesses dos seus accionistas, que em posição determinante, a qualquer momento, poderão impor a sua vontade, alterando a verdade ou escolhendo o timing para dar publicidade a uma dada notação - considere a probabilidade de tal acontecer face ao comportamento conhecido da esmagadora maioria dos gestores financeiros americanos (e internacionais) que estiveram na origem da "crise do subprime" - e sedeadas num país onde quase tudo é permitido para ganhar um dólar.

Ainda a 10 de Março passado, o Procurador-Geral do Estado do Connecticut, Richard Blumenthal, anunciou que processou a S&P e a Mooddy's alegando que eles enganaram investidores sobre a solidez de certos tipos de investimentos, tendo injustamente recolhido centenas de milhões de dólares em receitas.

Ao contrário de outros processos recentes contra as agências de notação de crédito - incluindo um de Blumenthal apresentado em Julho último - que visavam ressarcir os investidores individuais das perdas sofridas, este processo baseia-se no alegado não cumprimento das leis estaduais de defesa do consumidor, por aquelas empresas de notação.

Na conferência de imprensa então realizada, segundo notícia do jornal "The Hartford Courant, assinada por Eric Gershon, Blumenthal foi peremptório ao declarar: "Eles mentiram!"

29 abril, 2010

A União Europeia já está a arder

Ontem a Standard & Poor’s (S&P) voltou a baixar a notação das dívidas soberanas da Grécia e de Portugal, metendo Espanha no mesmo saco.

Se há uns dias atrás o problema parecia ser, para alguns, apenas da Grécia, hoje, notoriamente, o problema é de todos os que subscreveram o pacto económico e monetário da União Europeia.

Como fazemos parte da União Europeia (UE) cabe ao Governo Português na defesa dos nossos interesses, ainda soberanos, e como um dos países mais directamente afectados, propor uma reunião com carácter de urgência para que se avalie a situação e se definam políticas e mecanismos que defendam a União Europeia como um todo e cada país membro em particular do impacto das notações de uma qualquer empresa de rating americana - a S&P é uma empresa privada americana, pertencente ao grupo The McGraw-Hill Companies - por muito correctas que aquelas possam ser.

Aliás as indefinições na abordagem à questão grega e o protelamento de uma decisão sobre o tema só tem agravado a situação e "infectado" outras como é patente, quanto aos casos tão distintos como os de Portugal e de Espanha.

O certo é que a UE já está a arder e o seu presidente Herman Van Rompuy, só agora anunciou que irá convocar uma reunião dos países da zona euro "para 10 de Maio", para debater a crise grega.

Eu tenho presente que, a 9 de Maio, irão realizar-se importantes eleições regionais na Alemanha, e que um resultado negativo poderá retirar a maioria ao Governo da Senhora Merkel, - por isso a marcação da reunião ser só para 10 - mas esta é mais uma razão para se definirem urgentemente politicas e mecanismos que blindem a UE de tais vicissitudes particulares.

Faço votos para que o Sr. Von Rompuy, até lá, altere a ordem de trabalhos para que, para além de avaliar a crise grega e definir a solidariedade devida à Grécia, sob as naturais garantias, se avalie igualmente a vulnerabilidade da UE face às notações das agências de rating americanas e se definam as políticas e medidas que defendam a UE de ataques mais ou menos especulativos.

27 abril, 2010

Eduardo Galeano: Os direitos humanos e os direitos da natureza são dois nomes da mesma dignidade

Carta de Eduardo Galeano 1) aos participantes da Conferência Mundial sobre Mudança Climática e Direitos da Mãe Terra, realizada entre 20 e 22 de Abril em Cochabamba.

Lamentavelmente, não poderei estar com vocês.

Um pedaço de pau se atravessou na minha roda, o que me impede de viajar.

Mas quero acompanhar de alguma forma essa reunião de vocês, essa reunião dos meus, já que não tenho mais remédio do que fazer o pouquinho que posso e não o muitinho que quero.

E por estar sem estar estando, pelo menos lhes envio estas palavras.

Quero lhes dizer que tomara que se possa fazer todo o possível, e o impossível também, para que a Cúpula da Mãe Terra seja a primeira etapa rumo a uma expressão coletiva dos povos que não dirigem a política mundial, mas a padecem.

Tomara que sejamos capazes de levar adiante essas duas iniciativas do companheiro Evo, o Tribunal da Justiça Climática e o Referendo Mundial contra um sistema de poder fundado na guerra e no esbanjamento, que despreza a vida humana e põe bandeira de leilão em nossos bens terrenos.

Tomara que sejamos capazes de falar pouco e fazer muito. Graves danos nos fez, e continua fazendo, a inflação palavrária, que, na América Latina, é mais novica do que a inflação monetária. E também, e principalmente, estamos fartos da hipocrisia dos países ricos, que estão nos deixando sem planeta, enquanto pronunciam pomposos discursos para dissimular o sequestro.

Há aqueles que dizem que a hipocrisia é o imposto que o vício para à virtude. Outros dizem que a hipocrisia é a única prova da existência do infinito. E a discursaria da chamada “comunidade internacional” , esse clube de banqueiros e guerreiros, prova que as duas definições são corretas.

Eu quero celebrar, em troca, a força de verdade que irradiam as palavras e os silêncios que nascem da comunhão humana com a natureza. E não é por casualidade que essa Cúpula da Mãe Terra é realizada na Bolívia, essa nação de nações que está se redescobrindo a si mesmo ao término de dois séculos de vida mentida.

A Bolívia acaba de celebrar os 10 anos da vitória popular na guerra da água, quando povo de Cochabamba foi capaz de derrotar uma todo-poderosa empresa da Califórnia, dona da água por obra e graça de um governo que dizia ser boliviano e era muito generoso com o que era alheio.

Essa guerra da água foi uma das batalhas que essa terra segue lutando em defesa de seus recursos naturais, ou seja: em defesa de sua identidade com a natureza.

Há vozes do passado que falam ao futuro.

A Bolívia é uma das nações americanas onde as culturas indígenas souberam sobreviver, e essas vozes ressoam agora com mais força do que nunca, apesar do longo tempo da perseguição e do desprezo.

O mundo inteiro, aturdido como está, deambulando como cego em tiroteio, teria que escutar essas vozes. Elas nos ensinam que nós, os humaninhos, somos parte da natureza, parentes de todos os que têm pernas, patas, asas ou raízes. A conquista europeia condenou por idolatria os indígenas que viviam essa comunhão, e por crer nela foram açoitados, degolados ou queimados vivos.

Desde aqueles tempos do Renascimento europeu, a natureza se converteu em mercadoria ou em obstáculo ao progresso humano. E até hoje esse divórcio entre nós e ela persistiu, a tal ponto que ainda há gente de boa vontade que se comove com a pobre natureza, tão maltratada, tão ferida, mas vendo-a a partir de fora.

As culturas indígenas a veem a partir de dentro. Vendo-a, me vejo. O que faço contra ela é feito contra mim. Nela me encontro, minhas pernas são também o caminho que as anda.

Celebremos, pois, essa Cúpula da Mãe Terra. E tomara que os surdos escutem: os direitos humanos e os direitos da natureza são dois nomes da mesma dignidade.

Voam abraços de Montevidéu.

(Tradução do espanhol de Moisés Sbardelotto.)

1) Eduardo Galeano (1940), Jornalista e escritor uruguaio, e uma das personalidades mais destacadas da literatura latino-americana.



Dia 27 de Abril: GREVE NO SECTOR DE TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

Para hoje estão anunciadas um conjunto de greves no sector dos Transportes e Comunicações.

As razões que estão na origem destas greves convergentes, para o dia 27 de Abril, segundo comunicado da CGTP, prendem-se com 3 aspectos que são comuns a todos os trabalhadores abrangidos pelos pré-avisos de greve:
  • Congelamento salarial nas empresas públicas, política que está a ser prosseguida também no sector privado;
  • Bloqueamento generalizado da contratação colectiva no sector público e do sector privado, onde todos os processos estão a ser encerrados pelas Associações Patronais e Administrações das Empresas, sem existirem negociações sobre as propostas que os sindicatos apresentaram;
  • Privatizações nos sectores de transportes e comunicações, transformando em negocio privado a prestação de serviços públicos às populações, assim como a retirada ao Estado de importantes instrumentos que visam assegurar o direito à mobilidade dos cidadãos e o próprio desenvolvimento do País.
Tome nota das empresas que estarão em greve e não se esqueça que os grevistas perdem o direito a este dia de salário.

  • CARRIS- Greve de 24 horas
  • CP - Greve de 24 horas
  • FERTAGUS- Greve de 24 horas
  • REFER- Greve de 24 horas
  • TRANSTEJO - Greve de 3 horas por turno
  • SOFLUSA - Greve de 3 horas por turno
  • ATLANTIC FERRIES - Greve de 3 horas por turno
  • TST  - Transportes Sul do Tejo - Greve de 24 horas
  • Sector TRANSPORTES PESADOS PASSAGEIROS - Greve de 24 horas
  • METRO DO PORTO- Greve de 24 horas
  • STCP - Greve de 24 horas
  • RODOVIÁRIA BEIRA LITORAL - Greve de 24 horas
  • RODOVIÁRIA D'ENTRE DOURO E MINHO - Greve de 24 horas
  • METRO MIRANDELA
  • CTT - Greve de 24 horas
  • CP CARGA- Greve de 24 horas

  • EMEF - Greve de 24 horas

26 abril, 2010

No Dia da Liberdade um voto pela Palestina


Hoje é Dia da Liberdade. Só quem a não teve é que lhe sabe dar valor e em cada dia a saboreia.

Por isso neste dia 25 de Abril de 2010 faço votos pela liberdade da Pátria Palestina ocupada e anexada por Israel, aqui cantada por um seu poeta maior, Mahmoud Darwich.

EU SOU DALI

Eu sou dali. E tenho lembranças. Nasci como nascem as
as pessoas. Tenho mãe
e uma casa com muitas janelas. Tenho irmãos. Amigos. E
uma prisão com um frio postigo.

Tenho uma onda arrebatada pelas gaivotas, a minha
paisagem favorita, a erva daninha,
uma lua nos confins da palavra, o sustento dos passáros e
um olival que não morre.

Andei pela terra antes da passagem das espadas por um
corpo à volta do qual abancaram como à volta de uma mesa.

Eu sou dali. Restituo o céu a sua mãe quando chora por ela
e choro para que a nuvem me reconheça no seu regresso.

Aprendi, para quebrar a regra, todas as palavras ajustadas
ao tribunal do sangue.

Aprendi toda a linguagem e destruí-a para construir uma única
palavra: Pátria...

in: O Jardim Adormecido e outros poemas, Mahmud Darwich,
Selecção e tradução de Albano Martins, Colecção Campo da Poesia,
Editora Campo das Letras

25 abril, 2010

As portas que Abril abriu! de Ary dos Santos

É uma poesia datada (Julho-Agosto de 1975)  e engajada: Ary dos Santos nunca escondeu após 25 de Abril que era membro do Partido Comunista Português.

É uma longa poesia - 2.109 palavras. Mas é uma poesia que canta e conta a gesta de Abril,  sendo  premonitório quanto aos perigos que já então se anunciavam e que infelizmente se concretizaram.

"Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade."

Assim nos canta e encanta Ary. Por isso o escolhi. 

Para que o murmúrio final de que "...ninguém mais cerra as portas que Abril abriu!", ecoe na nossa alma e se transforme num coro ensurdecedor que cale de vez as mentiras, patranhas e engodos que nos querem fazer engolir.

Neste tempo de sombras e tartufos é tempo de dizer : Basta!

As portas que Abril abriu!

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais feliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com a que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
- pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
- é a força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados "páras"
que não queriam o degredo
de um povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma razão
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos nossos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideias
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio faziam
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
- cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
- Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalhos crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
de um país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
e ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisa em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!


Lisboa, Julho-Agosto de 1975
José Carlos Ary dos Santos (1937-1984)
in: "Obra poética" - Edições Avante

25 de Abril de 1974 - A poesia está na rua


A visão da pintora Maria Helena Vieira da Silva sobre o 25 de Abril de 1974 integrando a feliz expressão poética de Sophia de Mello Breyner Andersen: A poesia está na rua

Recordações do dia 25 de Abril de 1974 - Noite - 20:30: 4 mortos, dezenas de feridos. O último estertor da Besta

Da cronologia oficial:


Para os culpados, até hoje, a impunidade.

Para memória futura uma pequena lápide, descerrada em 1980, por um grupo de cidadãos.


Completo com os seguintes dados:

  • Francisco Carvalho Gesteira, de 18 anos de idade, empregado de escritório, natural de Montalegre;
  • José James Harteley Barnetto, de 37 anos de idade, natural de Vendas Novas;
  • Fernando Luís Barreiros dos Reis, de 24 anos de idade, natural de Lisboa, soldado da 1.ª Companhia de Penamacor, e que se encontrava de licença;
  • José Guilherme Rego Arruda de 20 anos de idade, natural dos Açores, estudante em Lisboa.
Existe ainda informação, se bem que não confirmada do falecimento de António Lajes, de 32 anos e que pressuponho ser a vítima mortal dos disparos realizados pela PIDE/DGS às 16:15.

Recordações do dia 25 de Abril de 1974 - A tarde (II) - 16:15: A desconhecida ferida pela PIDE/DGS que ainda mata e fere.

No Largo do Carmo o tempo passava. Marcelo e seus acólitos cercados pelos populares e pelos militares revoltosos tardavam em render-se.

Impaciente com o desenlace que tardava resolvi descer, já de carro, pelo Camões em direcção ao Chiado.

Estou no Camões, passava das quatro da tarde, e ouço tiros. De repente desponta numa esquina meia dúzia de pessoas a fugirem transportando uma rapariga ferida.

Metemo-la no meu carro e lá a transportei em corrida desabrida até às Urgências do Hospital de S. José. Desembarquei a minha passageira e eis que logo chega um polícia que me disse para esperar que tinha que ficar com a minha identificação.

Enquanto volta costas e torna a entrar nas Urgências, meto-me no carro que estava ligado e desapareço.


Nunca soube quem ajudei naquele dia, mas estou certo que sobreviveu apesar do sangue que perdeu. Foi o primeiro incidente registado do estertor da Besta. A hora está referida: 16:15. Do nome de quem ali morreu  ou ficou ferido nada consegui até agora encontrar.

Da cronologia oficial consta:

Recordações do dia 25 de Abril de 1974 - A tarde (I) - Os capitães de Abril conquistaram a Liberdade Sozinhos?

À tarde passei pelo Largo do Carmo. Já estava pejado de gente, As pessoas irmanavam-se entoando palavras de ordem e fundiam-se com o aço dos carros de combate. Era como se os quisessem proteger com a sua própria carne. E como se o aço lhes fortalecesse a sua determinação.
 


É tempo de honrar este Povo anónimo que saiu à rua, cidadãos e cidadãs e militares - praças, cabos, furriéis e sargentos - e que por tantos terem sido, tão pouco são recordados.

Parafraseando Bertolt Brecht nas " Perguntas de um operário que lê" 1):

Os capitães  de Abril conquistaram a Liberdade
Sozinhos?


Notas:


1)
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?


Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu?


Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?


No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros?


A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? 


Sobre quem
Triunfaram os Césares? 


A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? 


Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.


O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?


César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?


Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?


Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?


Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?


Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?


Tantas histórias
Quantas perguntas

Recordações do dia 25 de Abril de 1974 - A manhã

Do dia 25 de Abril de 1974, uma quinta-feira, recordo-me do nascer do dia nublado; de ir para o trabalho e que ao iniciar a descida da álea superior do Parque Eduardo VII, vindo de Campo de Ourique, em direcção a S. Sebastião da Pedreira, e de me deparar, subitamente, com uma auto-metralhadora estacionada no cruzamento com a Avenida António Augusto de Aguiar. Travo o carro, então uma Diane branca, decidindo meia-volta de regresso a casa, para escapar a possíveis complicações.

Naquele tempo éramos quase todos suspeitos de sermos perigosos subversivos até prova em contrário. E até que aquela prova se produzisse, era uso "porrada de criar bicho".

(Curiosamente o troço de via pública acima referido passou a ser designada por Alameda Cardeal Cerejeira, 1) por edital da CM  de Lisboa, datado de 14 de Abril de 1982, então presidida pelo Eng.º Kruz Abecassis, do CDS, em representação da coligação PSD-CDS.)

Regressado a penates, abri o rádio, a televisão, escutando os comunicados do Posto de Comando do MFA, enquanto ia ligando para este e para aquele, a ver se entendia o que se passava.

Como estava fundeada uma esquadra da NATO no Tejo com saída prevista para essa manhã, resolvi ir com um amigo meu até Belém para confirmar a sua saída. Lá os vimos a desfilar e voltamos para almoçar em casa dele e continuar a tentar perceber o que de facto se estava a passar.

Mas as memórias do Chile assombrava-me, com os seus milhares de mortos e de desaparecidos e de dezenas de milhares de encarcerados. O 9/11 de 1973 da besta sanguinária de Pinochet tivera o beneplácito explícito, caso dos EUA, ou implícito da maioria das "democracias ocidentais" representadas na NATO.

Assim a saída da esquadra, cumprindo o calendário, nada queria dizer. O que aconteceu no Chile poderia fácilmente repetir-se em Portugal. Por outro lado a proximidade do regime de Franco, outro bárbaro sanguinário, que continuava a torturar e a assassinar pelo garrote ou pelo fuzilamento também era motivo para preocupação.

Acresce que o meu conhecimento dos quadros das nossas Forças Armadas, adquirido durante 4 anos de SMO, dois em Portugal Continental e outros dois em Angola, não era de molde a dar-lhes grandes créditos.

A agravar a minha leitura da situação, entre eles pontuavam figuras que sempre estiveram coniventes com o regime autoritário e repressivo de Salazar e Marcelo.


A primeira página do República entreabria a porta à esperança mas a dúvida subsistia: Golpe militar para derrubar o "tíbio" Marcelo ou algo de diferente que abrisse caminho à restauração das liberdades, direitos e garantias de um Estado democrático de direito?



Notas:
1) Entendi que seria de interesse para alguns, especialmente para os mais jovens,  terem presente quem foi MANUEL GONÇALVES CEREJEIRA, 14º Cardeal Patriarca de Lisboa, (1988-1977) e qual o papel  que a esmagadora maioria da hierárquia da Igreja Católica  desempenhou na sustentação da ditatura em Portugal e no prolongamento da Guerra Colonial. Os destaques são de minha responsabilidade.

Manuel Gonçalves Cerejeira foi ordenado sacerdote a 1 de Abril de 1911 e licenciou-se, em 1912, em Teologia pela Universidade de Coimbra, tendo sido
regente da cadeira de História Medieval na Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, desde 1916.
 
Doutorou-se, a 30 de Janeiro de 1918, em Ciências Históricas e Geografia na Faculdade de Letras da mesma Universidade, com uma tese sobre o educador do Rei Cardeal Dom Henrique, Nicolau Clenardo.
 
Em 1919 foi nomeado professor, desempenhando, em seguida, os cargos de arquivista, paleógrafo e director do Arquivo da mesma Universidade.
 
Reestruturou, com o apoio de António de Oliveira Salazar, o Centro Académico de Democracia Cristã, um fórum de estudantes e professores, que defendia as teses das Encíclicas do Papa Leão XIII e que lutava contra os regimes republicanos, considerados como maçónicos, anticlericais e individualistas.
 
Para contrariar as ideias republicanas, colaborou como jornalista, desde 1908, com o jornal católico A Palavra e, fundou e dirigiu, entre 22 de Fevereiro de 1912 e 1914, o semanário O imparcial, publicação dos universitários católicos de Coimbra. A partir de 1914, colaborou e editou a revista católica Lusitânia.
 
Após a o golpe militar do 28 de Maio de 1926 e subsequente implantação de um regime ditatorial onde  a influência de Salazar crescia  vertiginosamente,  a carreira de Cerejeira na hierarquia da Igreja, seguiu o mesmo andamento.

Nomeado, a 23 de Março de 1928, Arcebispo de Mitilene, a 20 de Agosto desse ano, assumiu o cargo de Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa, tendo sido elevado a Patriarca de Lisboa a 18 de Novembro de 1929.

Em 1933, por designação do Episcopado Português, foi nomeado director nacional da Acção Católica.
 
Foi o grande impulsionador da Concordata assinada entre Portugal e a Santa Sé, em 7 de Maio de 1940 e contribuiu para o Acordo Missionário entre Portugal e a Santa Sé, concluido no mesmo ano.
 
A 26 de Maio de 1965, o Papa Paulo VI nomeou-o Vigário Castrense e, em 1966, foi nomeado Bispo das Forças Armadas.
 
Enquanto se manteve à frente do Patriarcado de Lisboa, o Cardeal Cerejeira esteve, quase sempre, em consonância, com o governo de Salazar, estando presente, ou fazendo-se representar, na maioria dos actos públicos, assim como nos discursos e escritos, nomeadamente, o Discurso à Juventude Portuguesa e A Opção Materialismo – Cristianismo, ambos editados, durante a crise estudantil de 1962.
 
Mediou, em 1960, durante o papado de Paulo VI, o conflito entre a Santa Sé e Portugal, devido ao colonialismo e por aquela Eminência ter recebido, no Vaticano os líderes dos movimentos africanos de libertação, que lutavam contra Portugal.
 
Não interveio no encerramento do jornal O Trabalhador, fundado pelo padre Abel Varzim mas silenciou o exílio de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto.

Em conclusão Cristo expulsou os fariseus do Templo, Cerejeira não só abriu as portas do Templo, como apoiou os crimes da ditatura, quer no plano nacional, quer no plano colonial.

24 abril, 2010

Blogmaton: Uma explicação

Photomaton (1929)
Prova gelatina-sais de prata (15,3 x 3,8 cm)
Yves Tanguy
Gabinete de Fotografia do Centro Pompidou


Blogmaton deriva de "photomaton", palavra de origem francesa que define um "equipamento para tirar fotografias, tipo passe, com revelação automática e instantânea".

A ideia de Blogmaton teve por circunstância a dificuldade, cada vez maior, de encontrar um título que ainda seja aceite pelo Blogger e a visão de que os posts, que a partir de agora vierem a ser publicados, os blogmatons, deveriam seguir a mesma linha em termos de objectividade e de simplicidade. O que é sempre obra.

O meu objectivo é chegar até si com factos e estórias que despertem o seu interesse como cidadão e ser humano. Mas espero obter também a sua reacção.

O seu comentário será o nosso sustento. A subscrição do Blogmaton pelas diversas formas que iremos pondo à sua disposição, o nosso alento.

Conto consigo!