21 novembro, 2009

Marwan al-Barghouti exorta Hamas e Fatah à reconciliação palestina

Marwan al-Barghouti (2003.09.29)
O dirigente palestino Marwan al-Barghouti, preso em Israel, pediu uma reunião urgente entre os líderes do Fatah, Mahmoud Abbas, e do Hamas, Khaled Meshaal, para conseguir a reconciliação interpalestina.
Em entrevista publicada hoje pelo jornal árabe internacional Al-Hayat, Barghouti ressalta que "o caminho mais curto para colocar fim à divisão é a realização de uma reunião urgente entre o Comité Central do Fatah e o Comité Político do Hamas, com a presença de Abbas e Meshaal".
Essa reunião deve ser seguida por um encontro entre os responsáveis das outras facções palestinas, acrescenta Barghouti, membro do Comité Central do Fatah.
O jornal não dá detalhes sobre como fez a entrevista.
Barghouti, condenado a cinco prisões perpétuas em Israel por assassinato e cumulativamente a 40 anos por tentativa de homicídio [1], em 6 de Junho de 2oo4, é considerado um possível sucessor de Abbas como presidente do Fatah.
O julgamento Barghouti foi polémico pois não só este se declarou inocente como ainda se recusou a apresentar a sua defesa declarando o julgamento como ilegal e ilegítimo. Apesar de declarar o seu apoio à resistência armada contra a ocupação israelita, Barghouti sempre condenou os ataques a civis dentro de Israel.

Segundo Barghouti, "não há justificação" para que o Hamas atrase a assinatura de um acordo de reconciliação com o Fatah, que vem sendo negociado desde Março, no Cairo, e que estão estagnadas.
Barghouti pede que o Hamas acelere a conquista da harmonia nacional palestina, para reforçar a frente interna e a reunificação da autoridade, com a finalidade de enfrentar os grandes desafios.
Além disso, considera que a divisão interpalestina é uma "tragédia que causou grande dano à luta e às conquistas".
"O fim da discórdia é um dever nacional sagrado, religioso e moral que beneficiará o interesse supremo palestino", disse.
Barghouti destaca que as eleições gerais palestinas devem acontecer na mesma data, tanto na Cisjordânia, como na Faixa de Gaza e em Jerusalém Oriental, em um clima de reconciliação e consenso nacionais.
"Qualquer tentativa de realizar eleições parciais aprofundará a divisão", adverte o dirigente.
Sobre se pretende lançar sua candidatura nessas eleições, o dirigente responde que, quando for alcançada a harmonia nacional, tomará "a decisão adequada".
[1] Marwan Barghouti está preso em Israel, por ter sido condenado no dia 6 de Junho de 2004 a cinco penas de prisão perpétua pelos, segundo o tribunal "...assassinatos de Yula Hen, (baleado num posto de combustível em Givat Ze'ev, em 15 de Janeiro de 2002), Georgios Tsibouktzakis, (um sacerdote ortodoxo grego, perto de Ma'aleh Adumim, em 12 de Junho de 2002), Yosef Havi, Elyahu Dahan e Selim Barichat, (num ataque a tiro no restaurante Sea Food Market, em Telavive, em 5 de Março de 2002), a mais vinte anos de prisão pela tentativa falhada de fazer explodir um carro-bomba em Malcha Mall, (em Jerusalém, em 26 de Março de 2002) e a mais vinte anos de prisão por pertencer a uma organização proibida".
O colectivo de três juízes israelitas que o condenou afirmou que Barghouti fornecera aos seus companheiros fundos e armamento, mesmo quando teve conhecimento que os ataques iriam ter lugar em Israel.
Marwan Barghouti nunca reconheceu a jurisdição do tribunal e sempre se declarou inocente da responsabilidade destes actos.
Assim não apresentou defesa, nem depois recurso da sentença, declarando que a sua pena, de todas as formas, não fora decidida pelo sistema judicial mas antes pelas exigências políticas do governo israelita.

29 outubro, 2009

Jornalista Amira Hass distinguida com o Prémio Carreira 2009 pela International Women's Media Foundation.


Recordo que Amira Hass é uma proeminente jornalista e escritora israelita conhecida principalmente pela sua coluna no jornal Ha'aretz.

Filha de dois sobreviventes do Holocausto (Bergen-Belsen), Amira Hass nasceu em Jerusalém, e foi educada na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde estudou a história do nazismo e da Esquerda Europeia face ao Holocausto.

Amira Hass jornalista israelita foi distinguida com o Prémio Carreira 2009 instituido pela International Women's Media Foundation.

"Porque em quase 20 anos, Amira Hass, escreveu criticamente sobre os dois poderes: o Israelita e o Palestino. Repórter e colunista do diário Ha'aretz, demonstrou na sua narrativa a capacidade de desafiar os limites do sexo, etnia e nacionalidade na busca da verdade. Na cobertura dos Territórios Palestinianos Ocupados, o seu objetivo foi oferecer aos seus leitores informações detalhadas sobre as políticas de Israel e, especialmente, sobre as restrições à liberdade de movimento. Por muitos anos, ela viveu primeiro na cidade de gaza e depois em Ramallah."

No seu discurso, na cerimónia de entrega dos prémios de 2009, afirmou:


"Allow me to start with a correction. How impolite, you’d rightly think, but anyway, we Israelis are being forgiven for much worse than impoliteness.
What is so generously termed today by the International Women’s Media Foundation as my lifetime achievement needs to be corrected. Because it is Failure. Nothing more than a failure. A lifetime failure.
Come to think of it, the lifetime part is just as questionable: after all, it is about a third of my life, not more, that I have been engaged in Journalism.
Also, if the ‘lifetime’ part gives you the impression that I am soon going to retire - then this impression has to be corrected as well. I am not planning to end soon what I am doing.
What am I doing? I am generally defined as a reporter on Palestinian issues. But, in fact, my reports are about the Israeli society and policies, about Domination and its intoxications. My sources are not secret documents and leaked out minutes which were taken at meetings of people with Power and in Power. My sources are the open ways by which the subjugated are being dispossessed of their equal rights as human beings.
There is still so much more to learn about Israel, about my society, and about Israeli decision makers who invent restrictions such as: Gazan students are not to study in a Palestinian university in the West Bank, some 70 km’s away from their home. Another ban: Children (above the age of 18) are not to visit their parents in Gaza, if the parents are well and healthy. If they were dying, Israeli order-abiding officials would have allowed the visit. If the children are younger than 18 - the visit would have been allowed. But, on the other hand, second degree relatives are not allowed to visit dying or healthy siblings in Gaza.
It is an intriguing philosophical question, not only journalistic. Think of it: what, for the Israeli System, is so disturbing, about reasonably healthy fathers or mothers? What is so disturbing about a kid choosing and getting a better education? And these are but two in a long, long list of Israeli prohibitions.
Or when I write about the progressively decimated and fragmented Palestinian territory of the West Bank. It’s not just about people losing their family property and livelihood; it’s not only about the shrinking opportunities of people in disconnected, crowded enclaves. It is in fact a story about the skills of Israeli architects. It is a way to learn about how Israeli on the-ground planning contradicts official proclamations, a phenomenon which characterizes the acts of all Israeli governments, in the past as in the present. In short, there is so much to keep me busy for another lifetime, or at least for the rest of my lifetime.

But, as I said, the real correction is elsewhere. It’s not about achievement that we should be talking here, but about a failure.
It is the failure to make the Israeli and international public use and accept correct terms and words - which reflect the reality. Not the Orwelian Newspeak that has flourished since 1993 and has been cleverly dictated and disseminated by those with invested interests.
The Peace Process terminology, which took reign, blurs the perception of real processes that are going on: a special blend of military occupation, colonialism, apartheid, Palestinian limited self-rule in enclaves and a democracy for Jews.
It is not my role as a journalist to make my fellow Israelis and Jews agree that these processes are immoral and dangerously unwise. It is my role, though, to exercise the Right for freedom of the Press, in order to supply information and to make people know. But, as I have painfully discovered, the right to know does not mean a duty to know.
Thousands of my articles and zillion of words have evaporated. They could not compete with the official language that has been happily adopted by the mass media, and is used in order to dis-portray the reality. Official language that encourages people not to know.
Indeed, a remarkable failure for a journalist."

Amira Hass recebeu em 2000, o prémio Press Freedom Hero instituído pelo International Press Institute, em 2002, o galardão Bruno Kreisky Human Rights Award, em 2003, o prémio da UNESCO, Guillermo Cano World Press Freedom Prize, e em 2004, o galardão inaugural atribuído pelo Anna Lindh Memorial Fund.

11 outubro, 2009

Israelita, Nobel da Química 2009, pede: Liberdade para todos os presos palestinos

A israelita, Ada Yonath, laureada com o Prémio Nobel da Química 2009, declarou no passado sábado que Israel deveria libertar todos os presos palestinos, segundo um despacho da AFP e notícia no Haaretz.

"Precisamos libertar todas as pessoas a que chamamos de terroristas e não só para obter em troca o soldado Gilad Shalit", declarou Yonath à rádio militar israelita.

"Se nós mantemos prisioneiros palestinos em cativeiro por anos a fio, o ressentimento das suas famílias contra Israel irá crescer e assim estamos activamente a fabricar terroristas", acrescentou a cientista.

Segundo ela, o desespero incita os palestinos a cometerem atentados suicidas: "isto não acontece com pessoas que têm um horizonte e uma esperança na vida".

E acrescentou "num estado de desespero tal, têm todos os motivos para aproveitar a oportunidade para melhorar as suas perspectivas de uma melhor vida após a morte."

Israel mantêm hoje cerca de 11.ooo palestinos detidos nas suas prisões. É de referir que, de acordo com as estatísticas da organização humanitária Defence for Children International, Secção Palestina, à data de 30 de Setembro, entre esses prisioneiros contavam-se 326 crianças.

Ada Yonath trabalha em Israel, onde é actualmente professora e directora de pesquisas do Instituto de Ciências Weizmann de Rehovot e foi a primeira mulher israelita a conquistar o Prémio Nobel.

03 outubro, 2009

Uma história de traição, por Uri Avnery

HOJE [3 de Outubro] É o 1.196º dia de cativeiro para o soldado Gilad Shalit.

Um prisioneiro de guerra não deve ser deixado em cativeiro. Um soldado ferido não deve ser deixado no campo de batalha. O Estado subscreve um contrato não escrito [nesse sentido] com cada pessoa que se alista nas forças armadas, e sobretudo claramente com todos os que servem numa unidade de combate.

O comportamento dos governos israelitas nestes 1 196 dias, dos políticos e dos generais que são responsáveis por este escândalo, é uma violação do presente contrato, uma traição da confiança. Em suma: uma infâmia. Isto exaspera e enfurece todas as pessoas decentes e não apenas os combatentes.

A TRAIÇÃO já está na terminologia utilizada. Nas palavras do Livro dos Provérbios (18:21): "A morte e a vida dependem da linguagem".

Um soldado capturado pelo inimigo numa acção militar é um prisioneiro de guerra - em todas as línguas, em todos os países.

Gilad Shalit foi capturado numa acção militar. Ele era um soldado armado em uniforme. Neste contexto, não importa se a acção em si foi legal ou ilegal, e se os captores eram soldados regulares ou guerrilheiros.

Gilad Shalit é um prisioneiro de guerra.

A NEGAÇÃO começou no primeiro momento. O governo de Israel recusou-se a chamar a captura pelo seu nome próprio e insistiu que se tratava de um "rapto" ou mesmo de "sequestro".

A disciplinada média israelita, marchando atrás dos generais a passo certo como guarda prussiana, juntou-se ao coro. Nem um único jornal, nem uma única rádio ou apresentador de TV falou sobre o "prisioneiro de guerra". Todos eles, quase sem excepção, desde o primeiro dia, falaram sobre o soldado "raptado" ou " sequestrado".

As palavras são importantes. Todos os exércitos estão familiarizados com a troca de prisioneiros de guerra. Geralmente, isso acontece após o fim das hostilidades, por vezes, enquanto a guerra ainda está em curso. O Exército liberta os combatentes inimigos em troca da libertação dos seus soldados capturados.

Isto não se aplica a pessoas raptadas. Quando os criminosos raptam uma pessoa e a mantêm para resgate, a questão está em saber se o preço deve ser pago. O pagamento pode incentivar mais raptos e recompensar os criminosos.

No momento em que Gilad foi definido como "raptado", ele foi condenado ao que se seguiu.

Ele também perdeu a sua honra como um soldado. Um soldado não é "raptado". Os milhões de soldados capturados durante a II Guerra Mundial - alemães, russos, britânicos, americanos e todos os outros - ter-se-iam sentido ofendidos por qualquer insinuação de que eles foram "raptados".

O MAIOR perigo que paira sobre a cabeça do soldado Gilad desde que caiu em cativeiro não vem do Hamas, mas do nosso próprio exército [israelita].

Ficou claro que, dada uma oportunidade, o exército iria tentar libertá-lo pela força. Isto está profundamente enraizado no seu etos básico: Nunca ceder a "raptores".

Se eu fosse o pai de Gilad e um homem de oração, rezaria todos os dias: Por favor, meu Deus, não consinta que o exército descubra onde Gilad está sendo mantido!

Os chefes do nosso Exército estão preparados para expor a riscos imensos prisioneiros, a fim de libertá-los pela força, em vez de trocá-los por prisioneiros palestinos. Para eles é uma questão de honra.

Numa operação deste tipo, as vidas dos libertadores são colocados em risco. Mas, acima de tudo, é a vida do prisioneiro que está em perigo.

Uma das operações mais célebres nos anais do Exército israelita realizou-se em Entebe, em Julho de 1976. Ela libertou os 98 passageiros de um avião da Air France sequestrado, que tinha sido forçado a aterrar no aeroporto de Entebe, no Uganda. A operação provocou admiração em todo o mundo. Apenas um dos libertadores perdeu a vida - o irmão de Binyamin Netanyahu.

Na subsequente intoxicação de sucesso, um facto foi esquecido: na ousada operação enormes riscos foram assumidos. Se apenas um detalhe da complexa acção tivesse corrido mal, teria significado um desastre para os passageiros sequestrados. Poderia ter terminado num banho de sangue. Visto que teve êxito, ninguém se atreveu a levantar questões.

Os resultados da operação para libertar os atletas sequestrados nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972 foram muito diferentes. Quando a polícia alemã, com o incentivo do governo de Golda Meir, tentou libertá-los pela força, todos os atletas perderam as suas vidas. A maioria deles provavelmente foi morta por balas das armas dos polícias alemães. De Como de outra forma explicar o facto de, até ao dia de hoje, os governos de Israel e da Alemanha, se recusarem ambos a divulgar os resultados das autópsias?

O mesmo aconteceu dois anos depois, quando o exército israelita recebeu ordens de Golda Meir e Moshe Dayan para libertar a 105 crianças que estavam sequestradas por comandos palestinos no norte da cidade israelita de Ma'alot. A acção fracassou, e 22 crianças e 3 professores perderam as suas vidas. Neste caso, também, parece que alguns - se não todos - foram mortos pelas balas dos libertadores. Os relatórios destas autópsias também permanecem sem divulgação.

O mesmo aconteceu em 1994 quando o Exército tentou libertar o "raptado" soldado Nachshon Waxman, na Cisjordânia. O exército tinha a informação exacta, a acção foi planeada meticulosamente, algo deu errado, e o prisioneiro foi morto.

Recentemente soube-se que um oficial superior havia exortado os seus soldados a cometer suicídio em vez de serem capturados. E deu ordens para disparar sobre os "raptores", mesmo quando isso signifique pôr em perigo a vida do soldado capturado.

É bem possível que um dos motivos para o prolongamento do sofrimento de Gilad Shalit resida na esperança dos chefes do exército em obter informações sobre o seu paradeiro, para tentar libertá-lo pela força. Não é segredo que a Faixa de Gaza está cheia de informadores. As dezenas de "assassinatos selectivos" e muitas das acções da operação "Lead Cast" não teria sido possível sem uma densa rede de colaboradores, recrutados durante os longos anos de ocupação.

Incrivelmente - roça o milagre - o serviço de segurança de Israel tem sido incapaz de cumprir essa esperança. Parece que os captores de Shalit estão a conseguir manter sigilo rigoroso. O que, por sinal, explica porquê os seus captores se recusavam terminantemente a que ele se reunisse com os representantes da Cruz Vermelha Internacional e a transportar cartas, de e para ele, incluindo encomendas (que bem poderiam ter contido sofisticado equipamento de localização). Isso poderá ter salvado a sua vida.

Pode-se supor que o vídeo, que foi transmitida ontem pelo mediador alemão, em troca da libertação de 21 prisioneiros palestinos do sexo feminino, foi meticulosamente preparado de forma a impedir qualquer possibilidade de identificar o lugar onde ele está sendo retido.

ESTE CASO também demonstra a superioridade absoluta da máquina de propaganda israelita sobre todos os concorrentes - se houver algum.

A média mundial adoptou, quase sem excepção, a terminologia israelita. Por todo o mundo, falam sobre o "raptado" soldado israelita, em vez de um prisioneiro de guerra. Jornal britânico ou alemão, que usa essa palavra não sonharia aplicá-la a um dos seus próprios soldados no Afeganistão.

O nome do soldado Gilad Shalit foi proferido pelos líderes do mundo como se ele fosse, pelo menos, um deles. Nicolas Sarkozy e Angela Merkel falaram livremente sobre ele, certos de que os seus ouvintes em casa sabiam quem era ele. Libertar o soldado israelita "raptado" tornou-se um objectivo declarado de vários governos.

Esta formulação é, por si só um triunfo para a propaganda israelita. As negociações são sobre uma troca de prisioneiros entre Israel e o Hamas, com mediação alemã e/ou egípcia. Uma troca de prisioneiros tem dois lados - Shalit, de um lado, os prisioneiros palestinos, do outro. Mas em todo o mundo, como em Israel, eles falam apenas sobre a libertação do soldado israelita. Os prisioneiros palestinos a libertar são apenas objectos, mercadoria, e não seres humanos. Mas não contam eles também os dias, assim como os seus pais e os seus filhos?

O maior obstáculo para essa troca é mental, uma questão de linguagem. Se tivesse sido sobre "combatentes palestinos" não teria havido nenhum problema. A libertação de combatentes em troca de um combatente. Mas ao nosso governo - como todos os governos coloniais antes dele - não é possível reconhecer os habitantes locais revoltados, como "combatentes" que agem no serviço de seu povo. O etos colonial - como o "código ético" do nosso ético Professor Assa Kasher - exige que eles sejam chamados de "terroristas", com "sangue nas mãos", criminosos ignóbeis, vis assassinos.

Uma comovedora música irlandesa conta a história de um irlandês combatente da liberdade que, na manhã da sua execução, pede para ser tratado como um "soldado irlandês" e assim ser fuzilado, e não "enforcado como um cão". O seu pedido foi negado.

Quando se fala sobre a libertação de "centenas de assassinos", em troca de um soldado israelita, qualquer um confronta-se com um enorme obstáculo psicológico. A morte e a vida dependem da linguagem.

EM VÁRIOS aspectos, o caso do soldado Gilad Shalit pode ser visto como uma metáfora para todo o conflito histórico.

Palavras emotivas ditam o comportamento dos líderes. As narrativas diferentes e opostas impedem um entendimento entre as partes, mesmo sobre assuntos de menor importância. Os obstáculos psicológicos são imensos.

A grande superioridade da propaganda do governo israelita, tão claramente demonstrada no caso Shalit, também já está sendo testada na questão do relatório Goldstone. Os esforços do governo israelita para impedir o envio do relatório ao Conselho de Segurança das Nações Unidas ou à Assembleia Geral, ou ao Tribunal Penal Internacional em Haia, são agora apoiados pelo presidente Barack Obama e pelos líderes europeus. Os habitantes da Faixa de Gaza, como os palestinos nas prisões israelitas, tornaram-se meros símbolos, objectos sem um rosto humano.

E acerca de Gilad Shalit: as negociações devem ser aceleradas, a fim de efectuar uma troca de prisioneiros num futuro muito próximo. Até então, os mediadores devem assumir um compromisso inequívoco de que não haverá esforços para o libertar pela força, em troca de um acordo com o Hamas para que o deixe encontrar-se com os representantes da Cruz Vermelha, e talvez também com a sua família.

Tudo o resto é manipulação e hipocrisia.

08 setembro, 2009

Os territórios palestinos ocupados enfrentam enormes dificuldades

Os territórios ocupados enfrentam enormes dificuldades - Globo - DN

Posted using ShareThis

"A economia dos territórios palestinianos ocupados enfrenta dificuldades sem precedentes devido ao rigoroso bloqueio israelita, às restritivas políticas de ocupação, a uma base produtiva debilitada e à deformação económica estrutural, segundo um relatório da ONU.

..."


In: Relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD)

17 agosto, 2009

"Locked In": O impacto humanitário de dois anos de bloqueio sobre a Faixa de Gaza.

Seguindo o link encontrará um novo relatório da OCHA, "Locked In": O Impacto Humanitária de dois anos de bloqueio sobre a Faixa de Gaza.

O relatório documenta o impacto humanitário do bloqueio imposto por Israel desde Junho de 2007 a 1,5 milhões de pessoas que vivem na Faixa de Gaza.

Incide sobre os efeitos das restrições à importação e à exportação e à proibição de viagem, para Gaza de Gaza, nos meios de subsistência, segurança alimentar, educação, saúde, abrigo, energia, água e saneamento.

O relatório também descreve como a repetição dos ciclos de violência e de violações dos direitos humanos, agrava o sofrimento da população em Gaza.

O relatório conclui que o bloqueio em curso sobre um das áreas mais densamente populadas do mundo, desencadeou uma prolongada crise de dignidade humana com consequências humanitárias negativas.
 
Factos e números em destaque sobre o bloqueio:
  • A média diária de camiões que entraram em Gaza desde o bloqueio (112) representando 1 / 5 do valor comparável (583), no período anterior ao bloqueio (Janeiro-Maio 2007).
  • Antes do bloqueio as exportações atingiam os 1.090 caminhões por mês (Janeiro-Maio 2007). Durante os dois anos de bloqueio, todas as exportações foram proibidas, excepto no caso de 147 camiões, de flores e morangos.
  • 120.000 empregos foram perdidos, no sector privado.
  • A população sofre cortes programados de energia eléctrica de 4 a 8 horas por dia.
  • 80 milhões de litros de esgotos sem tratamento ou parcialmente tratados são lançados diariamente no meio ambiente como resultado da falta de manutenção e modernização das infra-estruturas de águas residuais.
  • Mudança gradual na dieta dos Gazenos de alimentos ricos em proteínas para alimentos ricos em hidrocarbonetos e de baixo custo.
  • No primeiro semestre do ano lectivo 2007-2008, apenas 20% da sexta série passou nos exames padronizados de matemática, ciências, Inglês e Árabe.
Desde a ofensiva militar de Israel Cast Lead (Dezembro de 2008 - Janeiro 2009):
  • 3.540 casas destruídas e 2.870 severamente danificados.
  • Cerca de 20.000 pessoas permanecem deslocadas.
  • 280 escolas e jardins-de-infância foram danificadas, incluindo 18 instalações totalmente destruídas.
  • Durante a ofensiva militar, o número de mortes no período neo-natal aumentaram 50%, os abortos espontâneos 31%, e as mulheres que deram à luz, tinham normalmente alta 30 minutos após o parto, a fim de libertarem as camas para os feridos graves.
  • Os relatórios sobre o número de palestinos mortos durante a ofensiva israelita variam entre 1.116 (IDF) a 1.455 (Ministério da Saúde palestino em Gaza).Com base no cruzamento das várias listas de baixas, a OCHA, identificou os registos de 1.383 palestinos, incluindo 333 crianças, cuja morte foi confirmada por pelo menos duas fontes independentes; uma proporção significativa dessas mortes foi de civis não envolvidos nas hostilidades.

09 agosto, 2009

Barak reconhece que tem um interlocutor para a Paz?

Em declarações à imprensa antes de entrar para o conselho de ministros israelita semanal, realizado hoje, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak qualificou de "graves e inaceitáveis" a "retórica e as posturas" defendidas no congresso do movimento palestino Fatah, destacando no entanto, que Israel "precisa perceber que não há mais solução para o Médio Oriente que a de um acordo".
"Peço a Abu Mazen (o presidente palestino e líder do Fatah, Mahmoud Abbas) que inicie negociações sérias connosco, e peço aos Estados Unidos, sob a liderança do presidente Obama, que conduza um processo de paz no Médio Oriente, que inclua os palestinos, a Síria e outros países", acrescentou.
Nota:
Recomendo a leitura do que Uri Avnery escreveu na sua crónica 10 maneiras de matar a Fatah para que se entenda como é grande a hipocrisia de Ehud Barak e difíceis os caminhos da paz para a Palestina. aqui fica um pequeno apontamento:
"As coisas chegaram ao clímax na conferência de Camp David, em 2000.

Ehud Barak, o então primeiro-ministro, iniciou a conferência e, de seguida, ele próprio a afundou com uma mistura de arrogância e ignorância.

Nos dias seguintes, em vez de declarar que as negociações iriam continuar até que a paz fosse alcançada, ele espalhou o mantra "Não há ninguém para falar connosco! Nós não temos nenhum parceiro para a paz!”

...

Barak não só destruiu a "esquerda sionista", mas também de um golpe esmagou a Fatah, o movimento que havia prometido aos palestinos a paz com Israel.

Não contente com isso, Barack permitiu que Ariel Sharon levasse a cabo a sua provocadora visita ao Monte do Templo, acompanhado por centenas de soldados e policiais.

Assim, provocou a eclosão da Segunda Intifada e preparou o terreno para Sharon chegar ao poder."

19 julho, 2009

Russia exorta Israel para que pare actividade dos colonatos

A Rússia exorta Israel para que acabe com todas as actividades de colonização na Cisjordânia, declarou este domingo, durante uma visita à Síria, o enviado especial ao Médio Oriente de Moscovo, Alexander Saltanov.

Após uma reunião com o Ministro dos Negócios Estrangeiros sírio Walid Muallem, o Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Alexander Saltanov declarou aos jornalistas: "Moscovo apela a um fim de todas as formas de actividades de colonização, incluindo o crescimento natural".

Durante o encontro, os diplomatas discutiram os meios de impulsionar o processo de paz na região, e constataram a "forte determinação da comunidade internacional para renovar o diálogo com o objectivo de resolver o conflito árabe-israelita", disse Saltanov.

A Rússia, juntamente com os outros três membros do Quarteto para o Médio Oriente - Organização das Nações Unidas, União Europeia e Estados Unidos – já concordara, numa reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros, em finais de Junho, que a única solução viável para o conflito israelo-palestino é a da criação de um estado palestino.

O Quarteto também concordou que a situação em Gaza é insustentável, e manifestaram sérias preocupações sobre a situação humanitária no enclave.

16 julho, 2009

À terceira foi de vez... Cynthia McKinney chega a Gaza

Cynthia McKinney

Fontes ligadas à ex-congressista americana Cynthia McKinney informaram que ela conseguiu entrar em Gaza através do Egipto.
Esta é a sua terceira tentativa.

As duas primeiras tentativas foram realizadas por mar, em colaboração com a organização de defesa dos direitos humanos “Free Gaza”.

Na primeira vez foi obrigada a voltar para trás devido ao navio onde seguia, o SS Dignity, ter sido abalroado em águas internacionais pela marinha israelita.
 SS Dignity, 2008.12.30
 
Na segunda tentativa foi sequestrada pelas forças navais israelitas que abordaram o barco, onde seguia, o apressaram e sequestraram todos os tripulantes e passageiros, os levaram para Israel, onde, no caso de Cynthia esteve detida por 7 dias até à sua expulsão por …”ter entrado ilegalmente em Israel”.

10 julho, 2009

Rabinos jejuam e apelam ao jejum de crentes e não crentes, em solidariedade com Gaza e pela Paz

Um grupo ad hoc de rabinos, Ta’anit Tzedek – Jewish Fast for Gaza (Jejum Judaico por Gaza), está a organizar um jejum comunal mensal para protestar contra as acções de Israel em Gaza, segundo informa a JTA ( Jewish Telegraphic Agency).

O jejum terá lugar na terceira quinta-feira de cada mês, desde o amanhecer ao pôr-do-sol, estando o primeiro jejum previsto para 16 de Julho.

Aos participantes está a ser pedido que assinem uma declaração no site do grupo, e que doem o dinheiro que pouparem em comida para a Campanha de Leite para o Pré-escolar, campanha patrocinada pela American Near Eastern Refugee Aid, uma campanha que tem por objectivo combater a desnutrição entre as crianças de Gaza, que frequentem o pré-escolar.

Os 13 rabinos que lançaram esta iniciativa - liderada pelo Rabinos Brian Walt, ex-diretor executivo da Rabbis for Human Rights - North America (Rabinos para os Direitos Humanos - América do Norte) e Brant Rosen da Congregação Judaica Reconstrucionista de Evanston, Illinois - disseram que o projecto é baseado na tradição judaica, em que "um jejum comunitário é realizado em momentos de crise, tanto como uma expressão de luto como um apelo ao arrependimento."

Os organizadores declararam ainda que o jejum tem quatro objectivos:
  • Apelar para o levantamento do bloqueio israelita da Faixa de Gaza, que está em vigor desde a vitória eleitoral do Hamas, no início de 2006;
  • Prestar ajuda humanitária e ao desenvolvimento para o povo de Gaza;
  • Apelar a Israel, aos Estados Unidos e à comunidade internacional para que negoceiem com o Hamas para pôr fim ao bloqueio;
  • Exortar o governo dos Estados Unidos para "que envolva vigorosamente tanto israelitas como palestinos na direcção de uma resolução justa e pacifica do conflito."
Para se inscrever nesta iniciativa não precisa de professar a religião judaica, nem sequer ser crente, basta apenas ser um ser humano solidário e pode sempre moldar o seu contributo à sua capacidade e disponibilidade fisica.

07 julho, 2009

Nobel da Paz irlandesa, ex-Congressista americana e mais 6 dos “Free Gaza 21”serão hoje libertados por Israel



O ministério do Interior de Israel anunciou que vai libertar hoje a Prémio Nobel da Paz
Mairead Corrigan Maguire e a ex-Congressista americana, Cynthia McKinney com mais 6 outros activistas da paz, após terem sido sequestrados pela força, no passado dia 30 de Junho, há já 7 dias atrás, pela marinha israelita, em águas internacionais, de um navio com bandeira grega, que transportava ajuda humanitária para a faixa de Gaza.

Não há confirmação da identidade dos restantes 6 activistas, mas por exclusão de partes, tendo em conta que já foram libertados 5 cidadãos do Bahrein e 2 jornalistas da Al Jazeera, no passado dia 30 de Junho, e 6 cidadãos britânicos ontem, deverão ser:

Huwaida Arraf, E.U.A. - Huwaida é presidenta do Movimento “ Free Gaza”, e co-coordenadora da delegação nesta viagem.
Adam Shapiro, E.U. A. - Adam é um documentarista americano e activista dos direitos humanos.
Kathy Sheetz, E.U. A. - Kathy é enfermeira e realizadora de filmes. Ia monitorar a aplicação dos direitos humanos.
Adam Qvist, Dinamarca - Adam trabalha na área da solidariedade na Dinamarca. Ia monitorar a aplicação dos direitos humanos
Derek Graham, Irlanda - Derek Graham é electricista, organizador do Movimento “ Free Gaza”, e Imediato do “Spirit of Humanity”.
Lubna Masarwa, Palestina / Israel - Lubna é uma activista palestina dos direitos humanos e uma das organizadoras do Movimento “ Free Gaza”.

Destaca-se que os cidadãos americanos foram os últimos a serem libertados, e entre eles uma ex-congressista americana.

06 julho, 2009

BANANAS, por Uri Avnery, ou como um exército de cidadãos se transforma numa máquina de opressão

NEM TODOS os dias, nem mesmo em cada década, o Supremo Tribunal Militar censura o Procurador-Geral. A última vez que isso aconteceu foi há 20 anos atrás, quando o Procurador-geral se recusou a produzir acusação contra um oficial que ordenara aos seus homens que quebrassem os braços e as pernas de um palestino que se encontrava amarrado. O polícia alegou que considerava ser este o seu dever, depois de o ministro da Defesa, Yitzhak Rabin, ter exortado a "quebrar os seus ossos".


Bem, esta semana aconteceu de novo. O Supremo Tribunal tomou uma decisão que foi equivalente a uma bofetada na cara do actual chefe do departamento jurídico do Exército, o Brigadeiro Avichai Mendelblit.

O incidente em questão ocorreu em Ni'alin, uma aldeia que foi roubada de uma grande parte das suas terras pela Barreira de Separação [o Muro]. Tal como os seus vizinhos em Bil'in, os moradores manifestam-se todas as semanas contra a Barreira. Geralmente, as reacções do exército em Ni’alin são ainda mais violentas do que em Bil'in. Quatro manifestantes já lá foram mortos.

Neste particular incidente, o tenente-coronel Omri Borberg deteve um manifestante palestino, que estava sentado no chão, algemou-o e vendou-lhe os olhos, e sugeriu a um dos seus soldados "anda cá, vamos dar-lhe uma borracha". Ele ordenou ao soldado categoricamente que disparasse uma bala de borracha.

Para quem não sabe: "balas de borracha" são balas de aço revestidas com borracha. A uma certa distância podem causar ferimentos dolorosos. A curta distância podem ser fatais. Oficialmente, os soldados estão autorizados a utilizá-las desde que guardem uma distância mínima de 40 metros.

Sem hesitar, o soldado atingiu o prisioneiro no pé, mas esta foi uma "ordem manifestamente ilegal", que um soldado do exército é obrigada por lei a desobedecer.

Segundo a clássica definição de juiz Binyamin Halevy no caso do massacre de Kafr Kassem, em 1957, a "bandeira negra da ilegalidade" está ondeando sobre tais ordens. O prisioneiro, Ashraf Abu-Rakhma, foi atingido e caiu no chão.

Veteranos das manifestações de Ni'alin e Bilin sabem que incidentes semelhantes acontecem o tempo todo. Mas o caso de Abu-Rakhma foi especial por um motivo: ele foi documentado por uma jovem mulher de uma varanda próxima à cena do crime com uma das câmeras fornecidas aos aldeões pela B'tselem, uma organização israelita de direitos humanos.

Assim, o Tenente-Coronel cometeu um pecado imperdoável: foi fotografado no acto. Geralmente, quando os activistas pela paz divulgam esses erros, o porta-voz do exército chega com o seu saco de mentiras e surge com alguma declaração mentirosa ("Atacou o soldado", "Tentou tirar-lhe a arma", "Resistiu à prisão"). Mas mesmo um talentoso porta-voz tem dificuldades em negar algo que é claramente visto no filme.

Quando o Procurador-Geral Militar decidiu processar o oficial e o soldado por "conduta imprópria", Abu-Rakhma e algumas organizações de direitos humanos israelitas apelaram ao Supremo Tribunal. Os juízes aconselharam o Procurador a mudar a acusação. Ele recusou, e por isso o assunto chegou novamente ao tribunal.

Esta semana, numa decisão incomum pela sua linguagem severa, os três juízes (incluindo um juiz do sexo feminino e um outro religioso), fixaram que a acusação de "conduta imprópria" era em si mesmo imprópria. Assim ordenaram a acusação de ambos, oficial e soldado, por um crime muito mais grave, a fim de tornar claro para todos os militares que maltratar um prisioneiro "é contrário ao espírito do estado e do exército."

Após esta bofetada no rosto, qualquer pessoa decente ter-se-ia demitido por vergonha. Mas não Mendelblit. O barbudo brigadeiro que usa kippa é um amigo pessoal do Chefe do Estado-Maior, Gabi Ashkenazi, e está esperando promoção a Major-General, a qualquer momento.

Recentemente, o Procurador-Geral recusou-se a acusar um oficial superior que afirmou em tribunal, enquanto testemunhava a favor de um subalterno, que é correcto maltratar palestinos fisicamente.

Ashkenazi deve muito ao seu Procurador-Geral, e por outras razões. Mendelblit tem feito um enorme esforço para encobrir crimes cometidos durante a recente guerra de Gaza, desde o plano de guerra de Ashkenazi aos crimes cometidos individualmente por soldados. Ninguém tem sido levado a julgamento, ninguém sequer foi seriamente investigado.

NO DIA em que a decisão do Supremo Tribunal relativa a Mendelblit foi publicada, outro brigadeiro também fez as manchetes. Curiosamente, o seu primeiro nome também é Avichai (não é um nome muito comum), também é barbudo e usa um kippa.

Num discurso perante mulheres-soldado religiosas, o Rabino-Chefe do exército, Brigadeiro Avichai Rontzky, expressou a opinião de que o serviço militar das mulheres é proibido pela religião judaica.

Uma vez que todas as jovens mulheres judias em Israel são obrigadas por lei a servir por dois anos, e as mulheres desempenham muitas tarefas essenciais no exército, esta é uma declaração sediciosa. Mas ninguém ficou realmente surpreso com este rabino.

Rontzky foi escolhido para este cargo pelo ex-Chefe do Estado-Maior, Dan Halutz. Ele sabia o que estava a fazer.

O rabino não nasceu numa família religiosa. Na verdade, ele era bastante "secular", membro de uma unidade de elite do exército, quando ele viu a luz e "renasceu". Tal como muitos outros deste tipo, ele não ficou a meio caminho, foi para extremo mais radical, tornando-se colono e criando uma Yeshiva (seminário religioso) num dos mais fanáticos colonatos.

Rontzky é um homem à medida de quem o nomeou. Recorde-se que, quando lhe perguntaram o que ele sentia quando deixava cair uma bomba de uma tonelada, numa área residencial, o General da Força Aérea Halutz respondeu: "um ligeiro solavanco na asa".

Numa discussão acerca de quando se deveria tratar um ferido palestino durante o Shabat, Rontzky escreveu que "a vida de um goy é certamente importante ... mas o Shabat é mais importante." Significado: um goy a morrer não deve ser tratado num Shabbat. Mais tarde retractou-se. (Em hebraico moderno coloquial, um goy é um não-judeu. O termo tem claramente conotações depreciativas.)

O exército israelita tem algo que é chamado de "Código Ético". É verdade, o pai espiritual do Código, o Professor Asa Kasher, não defendeu as atrocidades da operação "chumbo fundido", mas Rontzky fui muito mais longe: afirmou inequivocamente que "Quando há um choque entre... o Código Ético e os Halakha (lei religiosa), certamente o Halakha deve ser seguido. "

Numa publicação distribuída por ele, foi dito que "a Bíblia proíbe-nos que desistamos nem que seja de um milímetro de Eretz Israel". Por outras palavras, o Rabino-Chefe do exército, um brigadeiro das Forças de Defesa de Israel, afirma que a política oficial do governo israelita – desde a "separação" de Ariel Sharon até ao recente discurso de Binyamin Netanyahu, sobre um "Estado palestino desmilitarizado" - é um pecado mortal.

Mas o ponto mais alto foi alcançado numa brochura que o corpo de rabinos do exército distribuiu aos soldados durante a Guerra Gaza: "Exercer misericórdia para com um inimigo cruel significa ser cruel para com inocentes e honestos soldados. Na guerra como na guerra ".

Isto foi uma clara incitação à brutalidade. Pode ser visto como um convite para os actos que constituem crimes - os mesmos actos que o seu colega, o Procurador-Geral Militar, fez todo o possível por encobrir.

NENHUM DOS dois barbudo brigadeiros teriam permanecido no cargo por um único dia se não desfrutassem do pleno apoio do Chefe do Estado-Maior. O exército é uma instituição hierárquica, e a responsabilidade total por tudo o que acontece recaí clara e inteiramente sobre o Chefe.

Diferentemente dos seus antecessores, Gabi Ashkenazi não se mostra e não fala em público com frequência. Se tem ambições políticas, está a esconde-las bem. Mas, durante o seu mandato, o exército assumiu um determinado carácter, que é perfeitamente representado por estes dois oficiais.

Isso não começou, naturalmente, com Ashkenazi. Ele está a continuar - e talvez a intensificar - uma tendência que começou há muito tempo, e que vem mudando o exército israelita tornando-o irreconhecível.

O fundador do sionismo, Theodor Herzl, escreveu excelentemente no seu livro "Der Judenstaat", o documento fundador do movimento: "Saberemos como manter os nossos clérigos nos templos, como saberemos manter o nosso exército regular nas casernas... eles não serão autorizados a interferir nos assuntos do Estado. "

Agora está a acontecer exactamente o contrário: os rabinos introduziram-se no exército, os oficiais do exército provêm das sinagogas.

O núcleo duro dos colonos fanáticos, que é quase totalmente composto por pessoas religiosas (muitos dos quais são "judeus renascidos") decidiu há muito tempo obter o controlo do exército a partir de dentro. Numa campanha sistemática, que está em pleno andamento, elas penetram o corpo de oficiais a partir de baixo - a partir dos escalões mais baixos, para os do meio, até aos mais altos. Podemos ver o seu sucesso nas estatísticas: de ano para ano o número de oficiais usando kippa é crescente.

Quando o exército israelita foi criado, o corpo de oficiais estava cheio de membros dos kibutz. Não só os kibbutzniks eram considerados a elite da nova sociedade hebraica, que foi baseada nos valores da moralidade e da cultura, como eram os primeiros a voluntariar-se para cada tarefa nacional, mas também existiram razões "técnicas".

O núcleo do exército veio do estádio pré-Palmach. As companhias do Palmach constituíam um exército regular completamente mobilizado, uma parte da organização militar clandestina, o Haganah. Podiam existir e operar livremente apenas no kibbutzim, onde a sua identidade podia ser camuflada. Como resultado, quase todos os excelentes comandantes na guerra de 1948 foram provenientes do Palmach, membros dos kibbutz ou perto deles.

Eles tudo fizeram para imbuir nas novas Forças de Defesa com o espírito de um exército de cidadãos, pioneiro, moral e humanista, exactamente o contrário de um exército de ocupação.

É verdade, a realidade sempre foi diferente, mas o ideal era importante como um objectivo para que lutar. Como eu mostrei no meu livro de 1950, "O outro lado da moeda", a nossa "pureza das armas" sempre foi um mito. Mas a aspiração de ser um exército com valores humanistas era importante. Atrocidades foram escondidas ou negadas, porque eram consideradas vergonhosas e desonrosas para o nosso campo.

Nada se tem mantido de tudo isso, excepto palavras. 


Desde o início da ocupação em 1967, o carácter do exército mudou completamente. O exército, que foi fundado, a fim de proteger o estado de perigos externos tornou-se um exército de ocupação, cuja tarefa é a de oprimir outro povo, esmagar sua resistência, desapropriar terras, proteger ladrões de terras chamados colonos, bloquear passagens, humilhar seres humanos, todos os dias. Evidentemente, não é só o exército que mudou, mas também o Estado que dá ao exército as suas ordens, bem como a contínua lavagem cerebral.

Num tal exército, ocorre um processo de selecção natural. Pessoas diferentes, com elevados padrões morais, que detestam estas acções, saem mais cedo ou mais tarde. O seu lugar é tomado por outros tipos, pessoas com diferentes valores, ou sem valores de todo, "soldados profissionais" que "apenas seguem ordens".

Evidentemente, tem que se ter cuidado ao generalizar. No exército de hoje ainda existem algumas pessoas que acreditam que estão cumprindo uma missão, para quem o Código Ético é mais do que apenas uma compilação de frases hipócritas. Essas pessoas estão repugnadas com o que vêem. De vez em quando ouvimos os seus protestos e vemos as suas revelações. No entanto, não são elas que dão o tom, mas figuras como Rontzky e Mendelblit.

Isto deve-nos preocupar muito. Não podemos tratar o exército como se fosse um reino estrangeiro que não nos diz respeito. Não podemos dizer a nós próprios: "não queremos ter nada a ver com o exército de um Moshe Ya'alon, de um Shaul Mofaz, de um Dan Halutz ou de um Gabi Ashkenazi." Não podemos virar as costas ao problema. Devemos enfrentá-lo, porque ele é o nosso problema.

O estado precisa de um exército. Mesmo depois de alcançar a paz, vamos precisar de um exército forte e eficaz, a fim de proteger o estado até que a paz crie raízes profundas, e poderemos talvez então criar um organismo regional de acordo com as orientações da União Europeia.

O exército somos nós. O seu carácter tem impacto sobre toda a nossa vida, sobre a vida do nosso próprio Estado. Já foi dito: "Israel não é uma 'república das bananas. É uma república que desliza sobre bananas. " E que bananas!

03 julho, 2009

"Free Gaza 21": Notícias da prisão e o segredo do gás natural

O capitão Denis Healey conseguiu passar a seguinte mensagem de dentro da prisão em Israel, onde está sequestrado juntamente com mais 11 dos activistas do “Spirit of Humanity”, incluindo a ex-congressista, Cynthia McKinney e a laureada Nobel da Paz, Mairead Maguire.

"Pelo menos quatro de nós fomos ouvidos ontem, e foi-nos dito que iríamos ser deportados. Porém não nos disseram para onde ou quando. O barco foi confiscado e todos os mapas roubados pela marinha israelita. Na prisão disseram-nos que iríamos receber, hoje, todas as nossas coisas de volta, mas, até agora, tal não se concretizou.

O governo israelita está a realizar perfurações nos campos de gás natural na zona-tampão (1). Gás que pertence ao povo de Gaza. Parece ser esta uma das razões que justificam a nossa detenção. Talvez estejam preocupados que possamos voltar e dizer ao mundo o que temos visto. "

Quando perguntado se achava que o Movimento Free Gaza voltaria de novo, a sua resposta foi: "Claro que sim. Iremos obter uma outra embarcação, ou mais do que uma e rumaremos a Gaza novamente.

(1) A esse propósito leia: “Guerra e gás natural: A invasão de Israel e os campos de gás no offshore de Gaza” por Michel Chossudvsky

5 dos "Free Gaza 21", todos do Bahrein, acabam de ser libertados

Esta manhã, cinco dos "Free Gaza 21" que foram sequestrados em águas internacionais pela marinha israelita, todos cidadãos de Bahrein deixaram Israel, num jacto privado que foi enviado pelo rei do Bahrein.

Os dois jornalistas da Al Jazeera deverão ser libertados igualmente ainda hoje e ser-lhes-á devolvido o seu equipamento com excepção das filmagens que fizeram da abordagem realizada ao "Spirit of Humanity" por homens-rã israelitas e da violência exercida sobre alguns dos activistas dos direitos humanos.

Todos os outros activistas, dentro dos condicionalismos da sua situação, estão bem, mas continuam presos por um país que ilegalmente abordou o seu pequeno barco, o rebocou e confiscou a carga de ajuda humanitária que já tinha sido inspeccionada em Chipre.

O silêncio da União Europeia - 9 dos sequestrados são Europeus - é impressionante, face à abordagem de um navio em águas internacionais e ao sequestro dos seus passageiros, mas não foge ao que já nos habituou.

O silêncio da Administração Obama ainda é mais penoso até face às suas declaradas intenções: Acresce recordar que 4, dos 21 sequestrados, são americanos, e entre eles conta-se a ex-congressista Cynthia McKinney.

Quanto à comunicação social... o silêncio é de chumbo.

Sugestão: Escrevam aos seus directores solicitando uma atenção mais cuidada sobre os assuntos do Médio Oriente.

Relator Especial da ONU denunciou a detenção ilícita dos "Free Gaza 21"

O Relator Especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos ocupados desde 1967, Richard Falk, denunciou a detenção ilícita em alto mar por forças navais israelitas de um navio que transportava remédios e materiais para reconstrução para o sitiado povo de Gaza.

"Esta acção israelita implementa o seu cruel bloqueio de toda a população palestina da Faixa de Gaza, em violação do artigo 33 º da Quarta Convenção de Genebra que proíbe qualquer forma de punição colectiva dirigida a um povo ocupado", disse o especialista em direitos humanos.

Na ocasião Richard Falk chamou a atenção para um recente relatório sobre o impacto sobre a saúde resultante do bloqueio, que dura já há dois anos, emitido pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha, sublinhando que as acções israelitas, não só restringem abastecimentos vitais como alimentos, medicamentos e combustível abaixo dos níveis de subsistência, mas ainda de uma forma sem precedentes, rejeitando a entrada m Gaza de materiais de construção e peças sobresselentes necessárias à reparação dos danos generalizados, causados pelos seus ataques na Faixa de Gaza, que se prolongaram por 22 dias, com início a 27 de Dezembro de 2008.

"Este padrão de bloqueio contínuo sob estas condições, significa uma tão grave violação das Convenções de Genebra que constitui um crime continuado contra a humanidade", acrescentou o perito independente para os direitos humanos.

O barco em questão tinha sido inspeccionado antes da partida pelas autoridades do porto de Chipre em resposta às exigências israelitas a fim de determinar se havia armas a bordo. Nada foi encontrado, e as autoridades israelitas foram disso informadas.

No entanto, os 21 activistas da paz que estavam no barco foram presos, mantidos em cativeiro, e foram acusados de "entrada ilegal" em Israel, embora eles não tivessem qualquer intenção de ir para Israel. O grupo incluía figuras proeminentes, tais como o irlandês Prêmio Nobel da Paz, Mairead Maguire, e a ex-congressista americana Cynthia McKinney.

02 julho, 2009

Os 21 activistas do "Free Gaza" estão presos em Israel



De acordo com um amigo da ex-congressista americana Cynthia McKinney, este recebeu um telefonema da própria, proveniente da prisão israelita de Ramle. Na ocasião Cynthia McKinney declarou:

Estávamos num barco, em águas internacionais, levando ajuda humanitária ao povo de Gaza quando os navios da Marinha israelita nos cercaram, nos ameaçaram ilegalmente, desmantelaram o nosso equipamento de navegação, abordaram-nos e confiscaram o navio.

Em seguida fomos retirados do navio sob custódia, levados para Israel e encarcerados.

Funcionários da imigração israelita disseram que não nos querem manter aqui, mas continuamos a estar presos.

Os responsáveis no Departamento de Estado e na Casa Branca não concretizaram a nossa libertação nem tomaram uma forte posição pública para condenar as acções ilegais da Marinha israelita de impor um bloqueio da ajuda humanitária aos palestinianos de Gaza, um bloqueio que foi condenado pelo Presidente Obama.

01 julho, 2009

Nós não somos a "Estória"; Não se trata apenas do sequestro de 21 pessoas

Em 30 Junho de 2009 as Forças de Ocupação israelitas abordaram o Spirit of Humanity, um navio do Movimento “Free Gaza“, e sequestraram 21 activistas dos direitos humanos e jornalistas que se dirigiam para a sitiada Gaza, para entregar ajuda humanitária tão necessária e materiais para a sua reconstrução. Entre os sequestrados por Israel incluem-se o Prémio Nobel da Paz Mairead Maguire e ex-congressista dos E.U.A. Cynthia McKinney.
Desde o seu rapto, dezenas de milhares de pessoas ao redor do mundo se mobilizam para exigir a sua libertação imediata e incondicional. O Movimento Free Gaza gostaria de agradecer a todos os que fizeram chamadas telefónicas, enviaram um fax ou e-mail, escreveram uma carta, ou uma manifestação organizada, em nome dos nossos 21 amigos presos.

Com o devido respeito, não é suficiente. Nós não somos a estória.

Desde a sua fundação, em 1948, o Estado de Israel tem regularmente raptado e torturado palestinos, atirando-os para prisões esquecidas onde eles podem definhar durante anos.

Hoje, mais de 11.000 palestinos presos políticos, sem o benefício do devido processo, alguns nem sequer foram acusados - homens, mulheres e crianças - sofrem torturas e isolamento em prisões israelitas, em campos de prisioneiros ao ar livre, em lugares escuros e secreto. Eles vêm de todos os sectores da sociedade: médicos, jornalistas, parlamentares, trabalhadores, lutadores da resistência, donas de casa, estudantes e outros. São nossas irmãs e irmãos.

Os 21 passageiros a bordo do Spirit of Humanity foram detidos ilegalmente pelo seu trabalho de solidariedade com a Palestina. Outros 11.000 membros da nossa comum família humana já estão presos apenas por serem palestinos.

O Cerco da Palestina não é simplesmente o bloqueio físico contra Gaza. O Cerco inclui as centenas de pontos de controlo por toda a Cisjordânia, separando famílias e comunidades e esmagando qualquer perspectiva de um Estado palestino viável. O cerco inclui os milhões de palestinos na diáspora, muitos deles despejados em sórdidos campos de refugiados na Jordânia, no Líbano e noutros países. O cerco está cada vez mais presente em todos os aspectos da vida palestina.

Este Cerco é apenas reforçado quando prestamos mais atenção à injustiça feita a estes 21 trabalhadores da solidariedade internacional do que a maiores injustiças que já estão a ser cometidas contra milhares de palestinos.

Nós no Movimento Free Gaza imploramos a todas as boas pessoas que ao redor do mundo trabalham arduamente para garantir a libertação dos nossos amigos para "adoptar" um prisioneiro palestino. Pedimos-lhe para saber mais sobre a crise e para que assumam a causa de um dos prisioneiros como sua.

Quebre o Cerco! Ajude a Palestina!

Para mais informações, visite http://www.FreeGaza.org, bem como os seguintes sites com informações sobre os prisioneiros palestinos:

30 junho, 2009

Pirataria no Mediterrâneo: Marinha israelita sequestra Prémio Nobel da Paz e ex-Congressista americana


Acabamos de receber a informação que o navio “Spirit of Humanity” do Movimento “Free Gaza” foi abordado pela marinha israelita, em águas internacionais, quando se dirigia para Gaza em missão humanitária e que todos os seus passageiros e tripulantes foram sequestrados.
O navio e a sua carga (medicamentos, brinquedos, oliveiras e um saco de cimento, a título simbólico) encontram-se apresados.

Entre os sequestrados contam-se 9 cidadãos Europeus, entre eles o irlandês laureado Nobel da Paz Mairead Corrigan Maguire, 4 cidadãos americanos, entre eles a ex-congressista Cynthia McKinney e 8 cidadãos de diversos países de Médio Oriente.